Opinião

A Casa do Estudante - Por Sérgio Botelho

As primeiras décadas da República flagraram a Paraíba bem deficiente no quesito educação. Escolas de nível médio, por exemplo, afora as da capital, se contavam em poucos dedos pelo estado adentro. Contudo, por toda a primeira metade dos anos 1900, mais conhecido como Século XX, a situação foi sendo modificada no ritmo possível. O Lyceu Paraibano, que operava educação aos jovens do ensino médio, ali no vetusto Conjunto dos Jesuítas, no mesmo imóvel onde hoje se aloja a Faculdade de Direito da UFPB, tinha portas abertas a poucos.

Foto: Internet

As primeiras décadas da República flagraram a Paraíba bem deficiente no quesito educação. Escolas de nível médio, por exemplo, afora as da capital, se contavam em poucos dedos pelo estado adentro. Contudo, por toda a primeira metade dos anos 1900, mais conhecido como Século XX, a situação foi sendo modificada no ritmo possível. O Lyceu Paraibano, que operava educação aos jovens do ensino médio, ali no vetusto Conjunto dos Jesuítas, no mesmo imóvel onde hoje se aloja a Faculdade de Direito da UFPB, tinha portas abertas a poucos.

Praticamente, os filhos das elites. Custava alto às famílias empobrecidas interioranas manter os novos na capital do estado. Ex-aluno do Lyceu, na segunda década daquele século, o campinense e então interventor do estado Argemiro de Figueiredo tomou duas importantes medidas em favor da educação. A primeira traduziu-se na inauguração do novo prédio do Lyceu (que tem saga própria), mais amplo e a permitir mais vagas, em uma nova avenida aberta por ele, a Getúlio Vargas, com início no Parque Sólon de Lucena.

Na outra assentada, construiu e ativou a Casa do Estudante, na Rua da Areia, uma das mais antigas vias da cidade de João Pessoa. Logo, com a Casa do Estudante, tornou-se possível a jovens mais pobres do interior realizarem o sonho de estudar na capital, ali fixando residência, para cursar níveis de ensino capazes de os conduzirem a cursos superiores. Mesmo enfrentando peneira de aberturas nem tão largas como seria desejável.

Desde então, portanto, e lá se vão mais de 85 anos, serviu de guarida a toda uma gente que, por meio da educação, evoluiu para a literatura, para o jornalismo, para a política, para o exercício da justiça e outras façanhas profissionais. No entanto, ao longo desse tempo todo, naturalmente o prédio foi sendo reformado, pouca coisa mantendo do original.

Assim porque ex-hóspedes que foram alcançando cargos de mando, na gestão governamental ou no universo jurídico, na condição de juízes ou de causídicos, ou que exerceram algum tipo de pressão por meio de afinadas penas no exercício do jornalismo e da literatura, beneficiaram de alguma forma a velha Casa do Estudante, que segue no lugar que sempre ocupou desde a fundação.

Um desses antigos hóspedes atende pelo considerado nome de Gonzaga Rodrigues, cronista maior da Paraíba. Sobre a experiência na Casa, diz ele: “O que somos, vem de lá. Governador, juiz, jornalista, seja o que for, com a vantagem de não envelhecermos aos nossos olhos, mesmo arrastando os pés ou pouco enxergando”.

O depoimento está em sua crônica “Onde está Miroveu?”, no último e prazeroso livro lançado pelo mestre, sob circunstâncias de raro esplendor, com o nome de “Com os olhos no chão”, uma crônica onde ele trata, com a verve de sempre, dos laços que passaram a unir, para o resto da vida, os que dividiram espaço e tempo na Casa do Estudante.

Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba