Impressiona o desprezo do atual governo federal pela cultura, a ciência, a educação e o meio ambiente. São posturas incompatíveis com a democracia e a diversidade. Tem demonstrado que não sabe conviver com uma sociedade impregnada de arte, formadora de indivíduos críticos. Há uma explícita tentativa de pasteurização de ideias, abraçando o retrocesso cultural e científico como projeto político.
A arte, como trabalho intelectual, recebe o menosprezo dos que estão circunstancialmente no poder, porque sabem que ela amplia a experiência do homem na percepção do mundo real. A atual relação do poder com a cultura nacional estabelece a “crise da arte”. Não há interesse em coloca-la como uma questão de cidadania. São constantes e repetidos os atos que simbolizam a aversão do governo à cultura e às artes.
Essa luta está ficando cada vez mais desigual, porque está na dependência de conceitos elitistas e opressores. Os autocratas odeiam a cultura, por saberem que ela é uma ferramenta de mudança, de libertação de corações e mentes. O veto às leis de incentivo à cultura sinaliza o quanto andam distantes, na contemporaneidade nacional, a política e a cultura.
O país só voltará a respirar ares democráticos se houver uma mobilização do setor cultural em defesa da manifestação criativa das artes e da produção de conhecimento, enfrentando o negacionismo, o obscurantismo e o revisionismo histórico que se evidenciam no momento.
A memória nacional está propositadamente sendo esfacelada. A repressão ao ato criativo e a perseguição aos artistas que não se enquadram no perfil ideológico do governo, são marcas de suas ações políticas. Aquela velha prática: “só gosto de quem joga no meu time”. Quanto mais tempo perdurar essa destruição, mas difícil será a sua reconstrução. A cultura não pode ficar refém de uma luta ideológica.
Nem há mais preocupação em esconder o desprezo dedicado à cultura brasileira. Ora, o objetivo é fazer com que fiquemos cada vez mais pobres culturalmente, na convicção de que assim, teremos mais dificuldades em distinguir o certo do errado, o moral do amoral, o ético do antiético, Isso é, portanto, estratégico.
Precisamos reativar nossa capacidade histórica de resistência e nos habilitarmos a conquistar o tempo perdido. O vigor coletivo deve preponderar. É necessário que a cultura seja tratada como um direito cidadão. A demolição da cultura nacional está sendo movida a ódio e frustrações, porque têm medo das manifestações críticas e libertadoras. Que seja despertado o sentimento de urgência em pensar e propor caminhos para enfrentar esses desmontes da nossa cultura.
Fonte: Rui Leitão
Créditos: Polêmica Paraíba