Até as calçadas esburacadas de João Pessoa sabem que a aliança entre o PSB do governador Ricardo Coutinho e o PT do prefeito Luciano Cartaxo, da Capital, não passa da Semana Santa. Mas, se passar e aguentar até o São João, será obra de algum milagre pascal. Chegar a 2016, então, com o alcaide recebendo apoio girassolaico à sua reeleição, aí pode apostar que estaremos muito próximos do final dos tempos ou da reencarnação de Jesus Cristo em pessoa no solo paraibano.
Que o digam o deputado Ricardo Barbosa, frequentador assíduo do círculo mais íntimo do poder que pode na Paraíba, e sua estreia na presidência da Comissão de Saúde da Assembleia. Ele inaugurou o cargo denunciando uma “situação desumana e intolerável” dos pacientes do Ortotrauma de Mangabeira, hospital mantido pela Prefeitura da Capital.
Bom de briga e bom de verbo, por mais que o deputado diga que não, que é responsabilidade de seu mandato denunciar e não politizar as precariedades do Trauminha, a proximidade e a indesmentível afinidade de Barbosa com o governador transformam em certeza a suspeita de que ele não criticaria tão duramente a gestão municipal sem o aval ou ordem do chefe.
Mais do que denunciar, o deputado anunciou que vai levar a Comissão de Saúde ao Trauminha para verificar pessoalmente a procedência ou não do caos que se comprovaria em reclamações que diz vir recebendo aos montes de pacientes e familiares de pacientes desatendidos ou maltratados naquele hospital. As pretensas vítimas da triste situação teriam informado ao parlamentar recorrentes faltas de médicos e de materiais para um atendimento minimamente decente e eficaz.
Em resposta, ouvi a secretária Mônica Rocha (Saúde Municipal) dizer no programa Rádio Verdade (Arapuan FM) que não teme qualquer inspeção da Comissão de Saúde, que a orientação do prefeito é de tratar questões do gênero com a mais absoluta transparência, que vem repondo materiais e equipamentos e adotando as providências legais contra médicos de lá que teriam abandonado plantões.
Doutora Mônica deixou evidente ainda que os problemas atuais do Trauminha decorreriam de sobrecarga de trabalho alimentada pelo fechamento de hospitais na Grande João Pessoa e também pelo acolhimento de pacientes que poderiam demandar, por exemplo, o Traumão do Estado.
Pois é…
Um mês depois de o partido do governador ter recusado publicamente participar do governo Cartaxo, inclusive esnobando cargos de primeiro escalão que o prefeito teria oferecido ao PSB, a iniciativa e o discurso de Barbosa podem ter batido o centro do racha. Além, é claro, de inspirar a mais previsível ‘crônica de um rompimento anunciado’ e reforçar o estigma de escorpião político que os adversários tentam colar na imagem de Ricardo Coutinho.