O homem teve o corpo esquartejado e queimado. A delegacia foi depredada e três viaturas foram incendiadas. Segundo a secretaria, foram enviados reforços da Polícia Militar de Tefé e Jutaí para o local nesta sexta-feira (17). Policiais civis e militares da capital estão sendo enviados hoje de avião para Fonte Boa com o objetivo de localizar e prender as pessoas que atacaram a delegacia. No total, mais de 40 agentes estão envolvidos.
Em entrevista coletiva na manhã de hoje, em Manaus, o delegado geral-adjunto da Polícia Civil do estado, Orlando Amaral, afirmou que não houve a liberação do preso por parte dos policiais, mas não informou como as pessoas conseguiram retirar Borges da delegacia e mata-lo.
“A polícia local realmente tentou diligenciar essa situação desde o início, mas a coisa foi se complicando durante a noite. Nós sabemos que no interior [do Amazonas] nós temos uma dificuldade de logística, foram deslocados logo policiais militares de Tefé para lá”, afirmou Amaral. “Esses não conseguiram chegar a tempo, mas nós tínhamos policiais lá. Não muitos, mas a quantidade da população era muito grande.”
De acordo com o delegado, a cidade tem três policiais civis e mais alguns policiais militares, que trabalham em conjunto.
“Se a polícia fosse reagir além do que reagiu para evitar esse resgate desse preso, o prejuízo teria sido até maior para a própria população. Não foi possível evitar e retirar o preso lá de dentro. Mataram, esquartejaram e até queimaram o preso. A delegacia chegou a ser apedrejada, viaturas da PM também foram danificadas”, disse.
“Sabemos que eles mataram um criminoso, um estuprador, que estuprou uma criança de dez anos, mas o Estado não pode permitir que a população promova essa desordem, o Estado tem que se posicionar. Essas pessoas serão identificadas e punidas porque também cometeram um crime.”
“Morte ocorreu do lado de fora”
Amaral afirmou que Ronald Gomes Borges foi morto “do lado de fora” da delegacia e que a polícia está investigando como as pessoas conseguiram retira-lo de lá. “Não tem policiais feridos, teve duas pessoas da comunidade que invadiram [o local] e foram atingidas por arma de fogo, não sabemos ainda se teve morte”.
Segundo o delegado, imagens a que a polícia teve acesso vão ser usadas para identificar as pessoas que participaram do linchanento.
“Fonte Boa não tem muitas ocorrências, nosso efetivo lá é pequeno, mas é necessário para aquela localidade. O fato é que essa questão das pessoas quererem fazer justiça com as próprias mãos, chegar ao ponto de invadir uma delegacia para retirar o preso, isso é o cúmulo do absurdo. A questão não é especificamente a falta de segurança, a quantidade de policiais”, avaliou.
Família da criança conhecia o suspeito linchado
De acordo com o investigador Mário Alves, responsável pela 55ª DIP (Delegacia Interativa de Polícia) de Fonte Boa, a menina de dez anos foi estuprada e morta na tarde de quinta-feira (16), por volta de 14h, na casa de Borges, identificado como o autor dos crimes.
Segundo o delegado, a vítima costumava ir à casa de Borges, onde ajudava sua companheira a fazer bolos e biscoitos para venderem na cidade.
No dia do crime, a menina já estava dentro da casa do suspeito quando teria sido levada por ele a um dos quartos e recebido a proposta de fazer sexo em troca de R$ 40. Como não aceitou e tentou fugir, a criança teria sido agarrada pelo braço e estuprada.
O delegado Alves informou que, após o ato, Borges teria aplicado um golpe chamado “mata-leão” na menina, que ficou desfalecida. O agressor, então, teria usado uma corda para asfixiá-la novamente, momento em que a garota teria morrido. O corpo da vítima foi deixado embaixo de uma cama.
Por volta das 19h, a companheira de Borges teria entrado no quarto e encontrado o corpo da criança.
A mulher teria sofrido ameaças do companheiro, de acordo com o delegado, mas contou à família da menina o que havia acontecido. A Polícia Militar foi acionada, mas Borges fugiu da casa. Por volta das 21h30 de quinta, ele foi encontrado pelos PMs em um lugar de mata.
Borges foi levado para a delegacia, onde foi preso em flagrante por estupro seguido de morte e ocultação de cadáver. Ele estava à disposição da Justiça quando a delegacia foi atacada por dezenas de pessoas, diz a Secretaria de Segurança.
Durante procedimentos na DIP, foi verificado que existe um mandado de prisão em aberto em nome do suspeito, expedido no dia 22 de agosto de 2019, também por um estupro ocorrido em 2017.
Fonte: UOL
Créditos: Gabriela Fujita