Marinésio Olinto foi preso dois dias após o desaparecimento de Letícia. Polícia investiga ligação do cozinheiro com outras ocorrências
Com 1,60 m de altura e fala mansa, o cozinheiro Marinésio dos Santos Olinto, 41, chocou o Distrito Federal ao confessar, nessa segunda-feira (26/08/2019), os assassinatos de Letícia Sousa Curado, 26, e Genir Pereira de Sousa, 47. Letícia foi morta na última sexta (23/08/2019); Genir perdeu a vida em 12 de junho deste ano.
Após Marinésio ser preso nessa segunda-feira, uma jovem de 23 anos o reconheceu na 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina) e afirmou aos policiais ter conseguido fugir dele, em 11 de agosto. Os investigadores agora apuram se há ligação entre Marinésio e outras ocorrências, como o desaparecimento de pelo menos mais duas mulheres.
Marinésio trabalhava como funcionário terceirizado em um supermercado do Lago Norte e não possuía antecedentes criminais. Ele é casado e tem uma filha de 16 anos. A família mora no Vale do Amanhecer, localidade próxima ao local do crime mais recente.
Depois de matá-las, Marinésio pegou pertences de Letícia e Genir. Para investigadores da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá), tratam-se de “troféus” pelos crimes cometidos. No porta-luvas do carro dele, uma Blazer prata de placa JFZ 3420-DF, estava uma bolsa com fichário e material escolar, além de um relógio – objetos pessoais de Letícia.
O celular da advogada estava atrás do banco do veículo. A bolsa de Genir, segundo a delegada-chefe da 6ª DP, Jane Klébia, também foi levada por Marinésio, mas ainda permanece sumida.
Policiais da 6ª Delegacia de Polícia e da Divisão de Repressão ao Sequestro (DRS) mapearam os casos em aberto com o mesmo modus operandiocorridos na Saída Norte do Distrito Federal. As vítimas foram abordadas em paradas de ônibus ou a caminho dos abrigos para esperar coletivos, entraram no carro achando que se tratava de transporte pirata, então desapareceram.
A polícia investiga se o destino de Letícia e Genir foi o mesmo de outras duas mulheres que sumiram no DF. Há cerca de um ano e meio, por exemplo, uma babá moradora da Fercal desapareceu no Altiplano Leste, após embarcar num ônibus e descer nas proximidades da Barragem do Paranoá. No dia chuvoso, a mulher pegou uma lotação e nunca mais foi vista.Outro caso ocorreu em Sobradinho: uma residente da Nova Colina sumiu após sair de um posto de gasolina. Pelo menos três mulheres foram à 31ª DP e disseram ter escapado dos ataques de Marinésio após aceitarem embarcar no carro dele.
Preso, o cozinheiro deu declarações à imprensa nessa segunda-feira (26/08/2019), horas após o corpo de Letícia ser encontrado. Marinésio disse que quer despertar “raiva” e citou a família. “Perdão. Eu quero que vocês tenham raiva de mim, mas essa família que eu tenho não merece essa pessoa que eu sou”, afirmou. Aparentando frieza, completou: “Só peço desculpas para todos. Minha família não merecia estar passando por isso. Vou pagar o que eu fiz”.
Familiares sentiram falta de Letícia na sexta-feira (23/08/2019), após ela não aparecer para um almoço combinado com a mãe às 12h. Ela foi sozinha para a parada de ônibus a fim de pegar um coletivo e seguir ao Ministério da Educação (MEC), onde prestava serviço de apoio jurídico como terceirizada.
Marinésio foi preso nesse domingo (25/08/2019), dois dias após o desaparecimento de Letícia. De acordo com fontes policiais, o suspeito levou os investigadores ao local do crime. O cadáver estaria dentro de uma manilha perto da fábrica de sementes Pioneer, na DF-250. À Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), Marinésio supostamente disse que conhecia a vítima de vista. Relatou que parou no ponto de ônibus e ofereceu carona para a jovem até a rodoviária do Paranoá. Ela teria aceitado e, no caminho, o homem teria assediado Letícia, que recusou a investida.
O assassino, então, teria esganado a funcionária do MEC até a morte e escondido o corpo dela às margens de uma estrada que fica na região do Vale do Amanhecer, em Planaltina. Após matar a mulher, confessou ter furtado os pertences pessoais de Letícia, segundo fontes da PCDF.
Há imagens de circuito de segurança que mostram Letícia entrando no veículo do acusado em uma parada de ônibus no Setor Arapoanga, após uma rápida conversa entre eles, de 10 segundos, na manhã de sexta (23/08/2019).
Por volta da 18h dessa sexta-feira, o professor de educação física Kaio Fonseca, marido de Letícia, foi à 31ª DP para denunciar o desaparecimento. A partir daí, a polícia começou a verificar onde a funcionária do MEC poderia estar. Trabalharam com algumas hipóteses – entre elas, surto psicológico e sequestro.
Segundo o delegado-chefe da 31ª DP, Fabrício Augusto Machado, há a possibilidade de Letícia ter sido abusada sexualmente. “Na carona que deu para ela, Marinésio parou o carro na DF-130 e teria perguntado se havia a possibilidade de os dois terem uma relação sexual, dando início a uma discussão. Ela começou a gritar e, naquele momento, segundo o relato dele, ele a teria esganado.”
Genir
Genir Pereira de Sousa era funcionária de uma pizzaria, e o corpo dela foi encontrado em 12 de junho de 2019. Ela estava desaparecida desde 2 de junho. O cadáver estava em uma área de mata entre o Paranoá, onde ela trabalhava, e Planaltina, onde morava. O desaparecimento de Genir foi comunicado pela patroa dela, após a empresária, dona da referida pizzaria, estranhar as ausências da funcionária.
Em depoimento prestado na 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá), a mulher disse que, em 15 anos de serviço, Genir nunca tinha faltado ao trabalho e era muito responsável.
No dia anterior ao desaparecimento, Genir trabalhou normalmente na pizzaria e foi embora por volta da meia-noite. Naquela ocasião, ela saiu para tomar cerveja com o namorado, que também é contratado do estabelecimento.
Genir passou a noite com o companheiro e, no dia seguinte, por volta das 8h, foi à casa da patroa, pegou alguns objetos pessoais e se dirigiu ao ponto de ônibus para tomar uma condução até o Arapoanga, em Planaltina. Após se dirigir à parada, ela não foi mais vista.
Após encontrar o corpo de Letícia nessa segunda-feira, a Polícia Civil colheu depoimento de uma jovem de 23 anos que afirma ser vítima de Marinésio. Ao reconhecer o agressor na 31ª DP, ela começou a chorar e ficou inconsolável. Segundo relato dela, o cozinheiro a abordou na Rodoviária do Plano Piloto e se apresentou como motorista de transporte pirata – trabalhadores chamados de “loteiros”. A jovem revelou que iria ao Vale do Amanhecer, e o suspeito disse que o local era um dos pontos de sua rota.
No meio do caminho, de acordo com a vítima, o homem a teria assediado e colocado a mão na perna esquerda da jovem. Nesse momento, ele supostamente falou: “Nós não vamos para o Vale, vamos para o Morro da Capelinha”.
A vítima, então, entrou em desespero e ameaçou pular do carro. Chegou a abrir a porta, e Marinésio parou o veículo. Ela aproveitou a oportunidade para descer do automóvel e correr, quando pediu ajuda para um casal em veículo que vinha logo atrás. O caso ocorreu em 11 de agosto deste ano, por volta das 20h.