Em apenas um dia, os oito mortos no confronto com a Polícia Militar de Pernambuco em Barra de São Miguel, cidade paraibana a 175 km de João Pessoa, correspondeu a 25% do total das mortes causadas pelas polícias da Paraíba em 2018. A estatística negativa da operação contra a quadrilha de assalto a bancos e lotéricas caiu na conta das forças de segurança da Paraíba, explica Jean Francisco Nunes, secretário de Estado da Segurança e Defesa Social (Seds).
Embora o assalto e o confronto que deixou um PM de Pernambuco morto e outro ferido tenha ocorrido em Santa Cruz do Capibaribe, Agreste pernambucano, e a troca de tiros tenha sido de fato entre os policiais pernambucanos e os suspeitos, segundo Jean Francisco Nunes, a responsabilização pelas mortes é paraibana.
De acordo com o 24ª Batalhão da Polícia Militar de Santa Cruz do Capibaribe (PE), os suspeitos na morte do policial, que estavam foragidos desde a manhã da segunda-feira (1º), estavam escondidos em um matagal. Os criminosos foram localizados pela polícia por volta das 8h30 desta terça-feira. Segundo a PM, o grupo estava escondido em um matagal entre as cidades de Barra de São Miguel e Riacho de Santo Antônio, ambas na Paraíba. Ao chegarem no local, a polícia teria sido recebida a tiros. Foi quando houve o confronto que terminou nas mortes dos suspeitos.
O secretário comentou que por terem ocorrido em solo paraibano, cabe às autoridades do estado investigarem as circunstâncias, abrindo inquéritos sobre as mortes, assim como contabilizar para o balanço anual de Crimes Letais Violentos Intencionais (CVLI). Pior, as mortes são categorizadas como em decorrência de intervenção policial da Paraíba, para fins estatísticos.
“Pela metodologia que temos aqui, esse confronto contabiliza para nosso estado, ocorreu em território paraibano, mesmo sendo confronto de polícia de outro estado. Porque o que a gente contabiliza é morte em território paraibano, é uma metodologia rígida. Poderíamos colocar para o estado vizinho, mas aqui nós seguimos à risca”, comentou.
Em 2018, as polícias da Paraíba mataram 33 pessoas, um crescimento pequeno em relação às 30 mortes por mãos policiais em 2017 e 22 mortes do mesmo tipo em 2016. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, entre 2014 e 2017, o crescimento de mortes por intervenção policial na Paraíba cresceu 27,8%.
As circunstâncias das mortes dos suspeitos estão sendo apuradas em inquéritos pela Polícia Civil da Paraíba. “Na terça-feira foram feitas várias perícias no local das mortes, no cenário, o que é normal, porque toda cena temos que fazer a perícia, exames. Foi aberto o procedimento na Paraíba, assim como em Pernambuco. Essa apuração vai para o judiciário, seguir o trâmite normal”, comentou o secretário de segurança.
Apesar do saldo negativa em termos estatísticos para a secretaria paraibana, Jean Francisco Nunes garante que a operação integrada entre os dois estados foi exitosa, pois, embora tenham gerado oito mortes, tirou de circulação uma quadrilha ligada a crimes como assaltos, latrocínios e homicídios.
“Esse grupo iria continuar a agir na Paraíba, poderia tirar a vida de outras pessoas, como tirou a vida de um policial e deixou outro ferido. Quanto mais a gente conseguir tirar de circulação prendendo essas pessoas, melhor. Se partirem para o confronto, a polícia não vai recuar”, comentou.
O secretário avaliou que o trabalho para seguir reduzindo o número de crimes com mortes violentas vai continuar sendo feito com rigor, mas garantiu que não há uma preocupação em orientar os policiais paraibanos a recuar em confronto por conta das estatísticas.
“Se esses números tiverem que crescer, que eles cresçam, porque é decorrência normal das abordagens policiais e operações, não é o que temos buscado, confronto com morte, mas não temos recuado, nem vamos recuar. A medida quem vai dar é a operação”, analisou.
Excessos após mortes
Os corpos dos seis homens e das duas mulheres suspeitos de integrarem a quadrilha de assalto a bancos que mataram um policial militar de Pernambuco foram expostos em vídeos e fotos nas redes sociais e a aplicativos de mensagens.
Jean Francisco Nunes explicou que o conteúdo foi feito por moradores da localidade que, como grande parte da sociedade brasileira, está indignada com os crimes patrimoniais. Os registros foram feitos quando, a princípio, os policiais de Pernambuco levavam os corpos dos suspeitos para Santa Cruz do Capibaribe como forma de prestar socorro.
Investigações na Paraíba
A quadrilha morta no confronto era suspeita de assaltos em cidades de Pernambuco próximas à divisa com a Paraíba e, de acordo com levantamento feito pelas autoridades de segurança paraibanas, planejavam assaltos em cidades do interior do estado. Jean Francisco Nunes comentou que as investigações são agora para identificar ramificações no estado e se a quadrilha cometeu crimes na Paraíba.
“Temos informações de assaltos em lotéricas de Queimadas e Princesa Isabel. Registros de crimes semelhantes aos que eram cometidos pela quadrilha em cidades próximas à divisa com Pernambuco, por isso iremos investigar a participação dessa quadrilha no nosso estado”, comentou Jean Nunes.
O secretário explicou ainda que por conta da organização das quadrilhas de ataque a instituições bancárias, as secretarias de segurança dos estados vizinhos à Paraíba trabalham em uma força tarefa conjunta. O operação que culminou com a morte dos suspeitos em Barra de São Miguel é resultado do trabalho integrado.
Fonte: Portal Correio
Créditos: Portal Correio