Em depoimento à Polícia Civil do Rio Grande do Sul, o ex-policial militar temporário Giovane Gaspar Silva, de 24 anos, disse que não percebeu que João Alberto Silveira Freitas estava morto. Ele está preso pela morte do cidadão negro no supermercado Carrefour, em 19 de novembro, e foi expulso da Brigada Militar nesta sexta-feira (4).
“Eu tentei sentir a pulsação dele. Eu tava com a adrenalina muito alta. O fiscal também, este que tava com ele. Veio outro rapaz da Vector, fez ali, e disse que ele tava bem. (…) Depois chegou outro senhor e falou: ‘Cara, acho que ele tá morto’. Sinceramente, achei que ele, naquele momento, estivesse encenando”, disse, em depoimento, Giovane.
Giovane também afirmou que não trabalhava para a Vector. Ele disse que foi contratado por um colega para cobrir as folgas dele.
“Tava cobrindo a folga de outro colega. Era o primeiro dia e ele já tinha decidido que não ia permanecer nessa função”, afirma o advogado David Leal, que representa Giovane. Na quinta (3), a defesa pediu a liberdade provisória do suspeito.
De acordo com o Grupo Vector, Giovane foi contratado em regime CLT com contrato intermitente para função de fiscal de prevenção. Após conhecimento da empresa sobre os fatos ocorridos, ele foi demitido por justa causa.
Para a polícia, Giovane contou que foi chamado por rádio para ver um problema em um caixa envolvendo um cliente e uma fiscal. “Eu simplesmente, quando cheguei, cheguei caminhando, tranquilo vi que ele tava encarando muito a fiscal”, diz.
Segundo Giovane, João Alberto decidiu por conta própria sair da loja, e o acompanhou. Ele afirmou que não houve provocação, de nenhum dos lados, antes que João Beto desferisse um soco nele.
Na sequência, Giovane e o segurança Magno Braz espancaram João Alberto.
“Ele simplesmente parou e me deu um soco, simplesmente. A minha primeira reação foi tentar pegar ele. Em nenhum momento eu quis dar soco nele. Eu ia imobilizar ele e deu, sabe? Eu não tive outra opção naquele momento senão golpear, sabe, eu não tive opção”, disse, no depoimento.
Depois de desferir socos e chutes em João Alberto, os dois seguranças mantiveram ele no chão. Giovane afirmou que uma terceira pessoa participou das agressões.
“Eu segurei as pernas dele e pedi pra esse fiscal segurar o braço dele e imobilizar um braço dele direito. É o momento em que chega outra pessoa, que eu não sei quem é, não vi, só vi que tava de branco. Chega outra pessoa e dá um chute nele”, relata.
Giovane disse ainda que a fiscal Adriana Alves Dutra, também presa por envolvimento no crime, não deu nenhuma ordem para liberarem João. Em depoimento, Adriana afirmou que pediu para os seguranças pararem de bater no homem.
A Polícia Civil aguarda os laudos de necropsia e toxicológico para concluir o inquérito. A fase de depoimento já foi encerrada. Entre testemunhas e investigados, 40 pessoas foram ouvidas.
Uma das hipóteses é de preconceito racial. Segundo a polícia, Giovane, Magno e Adriana vão responder por homicídio doloso, quando há a intenção de matar.
“Ainda estamos analisando as imagens, individualizando as condutas, desde o início do fato até o final, com a morte de João Alberto, para verificarmos se, no conjunto probatório, conseguimos identificar a motivação racial”, explica a diretora do Departamento de Homicídio Vanessa Pitrez.
Já o Carrefour anunciou em nota, nesta sexta, que contratará os próprios seguranças de suas lojas, deixando de terceirizar o serviço para empresas. A decisão ocorre em decorrência do assassinato de João Alberto no estacionamento da loja Passo D’Areia.
Leia a nota do Carrefour
Após ouvir as proposições do Comitê Externo e Independente originadas de demandas históricas de organizações negras, o Carrefour, a partir do dia 14 de dezembro, inicia a internalização dos serviços de segurança. O processo de internalização começará pelos quatro hipermercados no Rio Grande do Sul, em um projeto piloto, incluindo a loja Passo D’Areia, em Porto Alegre. O novo modelo é o ponto inicial para transformação do seu modelo de segurança e faz parte dos compromissos anunciados pela rede. O processo de recrutamento e o treinamento dos profissionais para as lojas contará com associação que reúne empreendedores negros da região de Porto Alegre. Todo o processo de internalização da segurança terá como foco a implementação de práticas antirracistas e de uma cultura de respeito aos direitos humanos, além de considerar a representatividade da população brasileira (50% de mulheres e 56% de negros) como um compromisso. A data de admissão dos novos colaboradores está prevista para o dia 14 de dezembro em todas as lojas Carrefour da região, seguindo as etapas de contratação.
Nota do Grupo Vector
Giovane Gaspar da Silva foi contratado pelo Grupo Vector em regime CLT com contrato intermitente para função de fiscal de prevenção. Após conhecimento da empresa sobre os fatos ocorridos, seu contrato de trabalho foi encerrado com demissão por justa causa.
Fonte: G1
Créditos: G1