investigação

Coronel da PM é acusado de assédio sexual: 'Deu tapa em parte íntima de soldado'

A primeira acusação, revelada em 2021, foi feita pela soldado Jéssica Paulo do Nascimento, de 29 anos. Mas ela não teria sido a única vítima de Noaves.

O coronel Cássio Pereira Novaes é alvo de novas denúncias de assédio sexual relatadas por soldados da Polícia Militar de São Paulo. Segundo o documento que o Terra teve acesso com exclusividade, o réu chegou a bater nas nádegas de uma das vítimas. Um dos processos, que engloba quatro denúncias, está em segredo de Justiça.

A primeira acusação, revelada em 2021, foi feita pela soldado Jéssica Paulo do Nascimento, de 29 anos. Mas ela não teria sido a única vítima de Noaves. Entre fevereiro de 2020 e abril de 2021, ele teria assediado outras quatro soldados, lotadas no 50º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano, em São Paulo.

Conforme apontam as denúncias, ele agia sempre da mesma maneira, mandava mensagens de cunho sexual para elas, prometia proteção e benefícios dentro da instituição.

Primeira denúncia
As investidas sexuais contra Jéssica começaram em 2018, e ocorriam a partir de mensagens, ameaças e humilhações, inclusive, na frente de outros colegas. O suspeito até teria tentado sabotá-la quando ela se recusou a ceder às investidas.

Em entrevista ao programa Balanço Geral, da TV Record, em maio de 2021, Jéssica contou que ele a chamou para sair na primeira vez que a viu. “Ficamos questão de cinco minutos a sós, e ele já me chamou para sair. Falei que não queria, explique também que sou casada e ele também. E, mesmo assim, eu não ficaria com ele. Acho que da forma como eu falei, já cortando, ele não aceitou o não, e passou a me perseguir”, afirma.

Segundo a soldado, ela sofreu grave ameaça, ficou afastada por dois anos, mudou de cidade e telefone, com medo de seu superior. Mas nada disso resolveu. Novaes conseguiu novamente o celular dela, e, quando ela retornou ao serviço, passou a mandar diversas mensagens.

Em um áudio enviado pelo WhatsApp, ele sugeriu como ela deveria se apresentar. “Faz a unha aí, eu gosto de vinho ou preto, e a do pé também. Vem com sapato alto aí”, diz o coronel, que condicionava a ausência no encontro a uma transferência para o batalhão do litoral.

Em outras mensagens, ele diz que estava sozinho porque a mulher viajou e que queria Jéssica. “Na hora, a gente se sente um lixo, mal”, afirma a ex-soldado. Ela formalizou a denúncia da Corregedoria da PM em abril de 2021. Pouco depois, ela pediu exoneração do cargo, pois passou a ser perseguida. O Terra teve acesso a diversos prints de conversas entre a vítima e o coronel.

Outras quatro denúncias
De acordo com a segunda denúncia do Ministério Público, feita pelo promotor Marcelo Santos Nunes, foi notado o mesmo comportamento de Novaes com as quatro soldados e Jéssica, que o denunciou primeiro. Ele usava de sua autoridade para assediar sexualmente as policiais, além de prometer conseguir bolsas de estudos em universidades.

A segunda vítima foi a soldado Vivian [nome fictício], que teria sofrido com as investidas sexuais dele pouco depois do carnaval de 2020. Ela havia sido levada para o 50º BPM/M para substituir outra PM que estava afastada. Durante esse período, ele dizia a ela, em tom de brincadeira, mas com “claro intuito de assediá-la, que iria prendê-la se a visse conversando com outros policiais homens”, diz o documento que o Terra teve acesso com exclusividade.

O oficial ainda prometeu auxiliá-la dentro da PM em meio a comentários de cunho sexual. “Se ela for boazinha, posso lhe ajudar a ir mais rápido”, disse Novaes em uma determinada situação.  Ele chegou até a dar um tapa nas nádegas de Vivian enquanto ela arrumava uma bandeja de café dentro da sala dele. “Você está gordinha, mas está gostosa”, disse ele.

“Verifica-se que o denunciado utilizou de sua autoridade com o fim de importunar a vítima sexualmente, na medida em que falava expressamente que poderia auxiliá-la nas movimentações internas da PM, deixando explícito que a vítima deveria se abster de resistir as suas investidas sexuais”, afirma o promotor na denúncia.

Já o terceiro caso ocorreu com a soldado Camila [nome fictício], em fevereiro de 2021, quando ela foi remanejada para o batalhão para substituir uma cabo que estava de férias. Ao término do período, Novaes determinou que fossem trocadas as funções das policiais, ficando a vítima sob o comando dele.

O assédio teria acontecido pela primeira vez quando o réu teria dito que ela “era muito bonita, não vou resistir”, em um momento em que eles estavam sozinhos. Ele também passou a ligar e enviar mensagens pelo WhatsApp da vítima em algumas ocasiões. Nas oportunidades, ele a chamava de linda e deusa, e dizia que era a secretária especial dele, que tinha projetos para ela, além de dizer que queria conhecer os pais dela.

O quarto caso foi contra a soldado Natasha [nome fictício], em março de 2021. O coronel teria ido até a 3º Cia da batalhão, onde a soldado trabalhava, e ao vê-la, disse em voz alta para um policial: “Nessa menina eu faria quatro filhos”. Em seguida, ele repetiu a fala diretamente para a vítima. Ao negar a investida, ela ainda ouviu: “Não ia ser um pedido, e sim uma ordem” e “filho de oficial a pensão é boa”. O caso ocorreu mais uma vez na frente de outros policiais.

Já com a soldado Letícia [nome fictício] o assédio teria ocorrido em março de 2021, quando ele a ligou e disse que “não gostava de cariosa, mas que dela gostava”. Nesse dia, ele chegou a determinar que a PM o adicionasse no WhatsApp para ser “a amiga especial”.

Depois, ele passou a enviar mensagens em que dizia que a policial era linda, a chamava para sair e para conhecer São Paulo. Também a perguntava se estava sozinha. Constrangida, ela somente agradecia, mas o assédio continuou. Ela era chamada de “carioca gostosa”, e, em uma vez, chegou a receber o seguinte questionamento: “Você é sapatona ou gosta de homem bruto?”.

Com o intuito de forçar que ela cedesse às suas investidas, ele dizia que era perigoso, “zica” e a pedia para ficar em silêncio. Após as últimas mensagens, ela parou de respondê-lo, e decidiu denunciá-lo para a Corregedoria da Polícia Militar.

Processos
Após a abertura de um processo disciplinar, ele foi afastado do cargo. Em 17 de julho de 2021, Novaes, que na época era tenente-coronel, foi promovido a coronel e aposentado pela Polícia Militar. Em agosto do mesmo ano, ele passou a ser réu no caso de Jéssica.

Em março de 2021, a Justiça Militar aceitou a segunda denúncia –com o relato das outras quatro vítimas–, e Novaes virou réu novamente por assédio sexual e ameaças. Ambos os casos ainda aguardam julgamento.

Em nota, a defesa do coronel afirma que “infelizmente o que vem sendo divulgado pelos canais de mídia carece de provas, pois se limita em divulgar print de parte de conversas dentro de um contexto que é conveniente apenas a quem as enviou, assim como em outros depoimentos públicos que falta com a verdade não demonstrando todo conteúdo fático, sendo que a verdade real vai aparecer no momento processual oportuno”.

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: TERRA