Quando agentes policiais guianeses e agentes do FBI chegaram à comunidade de Jonestown, na Guiana, em 18 de novembro de 1978, a cena era aterradora. Centenas de corpos sem vida estavam espalhados pelo chão do agrupamento de casas e cabanas instalado próximo à cidade de Port Kaituma, no norte do país.
As cerca de 900 pessoas que morreram naquele dia — das quais 304 eram crianças e adolescentes menores de 17 anos — eram todas norte-americanas e estavam instaladas na Guiana para formar uma comunidade rural autossustentável afastada dos Estados Unidos, sob a chancela da igreja Peoples Temple (O Templo do Povo, em tradução livre) e lideradas pelo pastor Jim Jones.
Um verdadeiro fenômeno dos anos 70, o reverendo pastoreou fiéis, em sua maioria afrodescendentes, de uma congregação predominantemente negra norte-americana, convencendo-os a abandonar o país e construir uma nova sede para a sua fé, longe da sua terra natal e de toda a especulação midiática que cercava Jones.
A misteriosa comunidade, no entanto, nunca saiu do radar de algumas das autoridades do país. No dia 14 de novembro 1978, o deputado Leo Ryan decidiu visitar o acampamento para averiguar se as pessoas que haviam se mudado para lá estavam, de fato, em segurança. Ele recebia relatos de trabalho forçado, prisões e condições insalubres de vida.
Depois da visita, no entanto, Ryan percebeu que as pessoas estavam descontentes e deixou Jonestown levando alguns dos membros da seita. Ele não chegou a decolar no voo de volta, quando sua comitiva foi pega de surpresa por homens armados que deixaram quatro pessoas mortas, entre elas o próprio Ryan.
A tragédia poderia ter parado por aí. Mas não foi o caso: em Jonestown, Jones reunia seus seguidores e convidava todos para comerem, juntos, uma fruta que na verdade continha cianeto, uma substância mortal. O próprio Jones foi encontrado morto, mas, ao invés do veneno, tinha um tiro na cabeça, que, acredita-se, foi dado por sua enfermeira, Annie Moore, que cometeu suicídio com a mesma arma logo em seguida.
Por que tantas centenas de pessoas se deixaram levar pelas palavras do reverendo, a ponto de cometerem suicídio? A verdade é que até hoje não se tem certeza de que os fiéis do Templo do Povo sabiam que as frutas estavam envenenadas. Há quem aponte que, na realidade, o massacre de Jonestown tenha sido um assassinato em massa, já que as pessoas teriam sido coagidas pelo pastor. Uma das hipóteses do FBI é a de que Jones teria dito a elas para ingerirem as frutas; caso contrário, os militares guianeses chegariam e retirariam as crianças da comunidade.
Ainda assim, o massacre de Jonestown é considerado o maior suicídio em massa da história dos Estados Unidos.
O apelo de Jim Jones
Depois fundar uma igreja na Indiana, Jones percebeu que precisava ir além e, sob a justificativa de “fugir de uma eventual bomba nuclear”, mudou-se para a Califórnia, para onde levou boa parte dos fiéis com ele até uma cidade chamada Esquire, considerada uma das mais seguras em caso de um ataque do tipo.
O grande atrativo do Templo do Povo, além do sedutor e manipulador discurso de Jones, era o apelo inter-racial. Ali, não importava de qual raça ou cor a pessoa fosse: ela era aceita como parte da família.
Em um documentário sobre Jonestown feito nos anos 2000, alguns dos ex-participantes da comunidade e da igreja People’s Temple relatam uma verdadeira lavagem cerebral. As pessoas estavam felizes lá, a princípio.
Inusitado e atrativo para o público, com suas palavras, promessas e seu mascote, o macaquinho Mr. Muggs, ele convencia os seguidores a vender seus bens e entregar o dinheiro acumulado durante toda uma vida para a igreja, em troca de cuidado e um local para morar. Porém, na prática ele explorava sua mão de obra, convencendo os membros da igreja a trabalharem, muitas vezes cerca de 20 horas por dia, em prol do templo.
Utilizando técnicas para convencer os frequentadores da igreja, como a simulação de milagres e curas, chantageando alguns dos seguidores e seduzindo outros, ele chegou a se relacionar sexualmente com muitas das mulheres que integrava o templo. “Ele dizia que todo mundo era homossexual. Todas as mulheres eram lésbicas, todos os homens eram gays. Jim era o único heterossexual do planeta”, diz uma das participantes da comunidade que sobreviveu.
Os sobreviventes e suas histórias
Depois do ocorrido em Jonestown, os poucos sobreviventes conseguiram retornar para os Estados Unidos, muitos deles tendo perdido familiares e amigos durante o massacre. As histórias dessas pessoas já foram contadas em filmes e documentários, que apontam as razões e saídas encontradas por elas.
É o caso, por exemplo, de uma mãe e seu filho de 3 anos que haviam saído da comunidade algumas horas antes e caminhado quase 60 quilômetros para finalmente conseguir fugir, usando a desculpa de que estavam indo para um piquenique — não era permitido sair de Jonestown sem autorização, e as entradas e saídas eram guardadas por homens armados.
Outra história emblemática é a da idosa Hyacinth Thrash, que estava dormindo durante o momento do massacre. Isolada do centro da ação por estar no prédio dos idosos, ela acordou no final da manhã de 18 de novembro e saiu para caminhar pelo acampamento, quando viu as centenas de corpos cobertos por lençóis. “Lá estavam todos aqueles mortos sendo colocados em sacos, pessoas que eu havia conhecido e amado… Deus sabe que eu nunca quis ir para lá, para começo de conversa. Eu nunca quis ir para a Guiana para morrer e eu não pensei que Jim faria algo assim. Ele nos decepcionou muito.”
Você pode assistir ao documentário completo sobre Jonestown aqui: