A afirmação consta no relatório final da corporação sobre o Caso Marielle, que indiciou o policial militar Rodrigo Jorge Ferreira, o Ferreirinha, e a advogada Camila Nogueira sob acusação de que atrapalharam os rumos do inquérito sobre o atentado.
Entre as supostas mutretas organizadas por HK, como é conhecido o delegado, o documento cita que ele usou intermediários para tentar extorquir a quantia de R$ 300 mil do vereador Marcello Sicilliano (PHS-RJ). A suspeita foi revelada pelo UOL no dia 19 de maio.
Sicilliano e o miliciano Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, foram apontados como mandantes da morte de Marielle por Ferreirinha. HK foi o delegado federal, junto com outros dois colegas, que levou o PM a prestar o depoimento aos investigadores da DH da Capital (Delegacia de Homicídios do Rio, órgão da Polícia Civil). Posteriormente, Ferreirinha admitiu que prestou falso testemunho.
A defesa do delegado nega todas as acusações.
PF foi informada de atos de corrupção
O delegado federal Leandro Almada, responsável pela investigação sobre a obstrução no Caso Marielle, afirma no relatório que os “atos de corrupção” cometidos por HK foram informados à Superintendência da PF no Rio para que “medidas cabíveis” fossem adotadas.
“Lamentavelmente, a autoridade policial que presidiu o IPL 477/18 [o inquérito da PF sobre o Caso Marielle], lotado no Estado do Amazonas, sem conhecer as mazelas do RJ, possa, açodadamente tecer comentários com carga de subjetivismo, sem qualquer prova ou fundamento. Certamente, tal ilação será objeto de demanda judicial em desfavor da União no momento oportuno”, afirmou, em nota, o advogado Leonardo Carvalho, defensor de HK.
Carvalho acrescenta que “desconhece qualquer tipo de acusação neste sentido e encontra-se à disposição para quaisquer esclarecimentos que os órgãos de persecução necessitem.”
“Todo malandro tem seu dia de otário”
Apesar das críticas à atuação de HK, o relatório da PF conclui que não há provas de que o delegado federal participou da trama arquitetada por Ferreirinha e sua advogada. Ele teria sido usado pelos dois para atrapalhar a investigação da DH da Capital.
“Acostumado a enganar, a verdade é que desta vez Hélio Khristian foi enganado pelo miliciano e pela advogada, simples assim, comprovando o adágio popular que todo malandro tem seu dia de otário”, lê-se no documento.
Não foi esse o entendimento da então procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Em seu último dia no cargo, ela denunciou ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) cinco pessoas como participantes do suposto esquema de obstrução: o próprio delegado HK, o PM Ferreirinha, a advogada, o político Domingos Brazão e seu assessor Gilberto Ribeiro da Costa. Eles negam a acusação.
Ao UOL, o advogado de HK declarou que “a denúncia da ex-PGR, realizada no último dia de seu mandato, tem cunho político e é absolutamente inepta por uma série de razões jurídicas”.
Boate teria sido razão para tentativa de extorsão
A suposta tentativa de extorsão a Sicilliano teria acontecido quatro meses antes do atentado que matou a vereadora do PSOL e o motorista Anderson Gomes. O delegado federal investigou Sicilliano por irregularidades fiscais em uma boate de propriedade do vereador, localizada na Barra (zona oeste do Rio).
Após o encaminhamento da testemunha à DH, o político alegou que sofreu “uma tentativa de extorsão” por parte de HK, referente à investigação de sonegação fiscal na boate.
O advogado Leonardo Carvalho afirmou que o vereador “criou uma narrativa no sentido de apontar o delegado como autor de práticas criminosas”.
O defensor acrescenta que o delegado “aguarda ansiosamente o desfecho das investigações para processá-lo, bem como todo e qualquer órgão que tenha assacado contra sua honra”.
Procurado, o vereador Marcello Sicilliano disse que não iria comentar o assunto.
Condenação anulada
No relatório final da PF, lê-se que HK é um delegado federal com vasto histórico de corrupção e denúncias.
Em dezembro de 2013, o TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região, localizado no Rio) condenou Hélio Khristian pelo crime de corrupção. A pena imposta foi de dois anos e meio de prisão em regime aberto e a perda do cargo. Ele havia sido absolvido em primeira instância.
Porém, em novembro de 2014, o próprio TRF-2 anulou a condenação, pois HK foi condenado por um crime diferente do que o apontado pela acusação: o de concussão (o crime praticado por funcionário público que exige vantagem indevida para si ou para outra pessoa). Um novo julgamento deverá ser realizado.
Na ação judicial, o MPF no Rio de Janeiro afirma que HK, com ajuda de um escrivão e um advogado, tentou extorquir a quantia de R$ 5 milhões de um empresário, no ano de 2005. Ele teria simulado a existência de um de inquérito policial e expedido um ofício a um cartório para levantar os bens da vítima, sob a falsa alegação de que atendia a um pedido do MPF.
No ano de 2005, o MPF no Pará denunciou HK pelo crime de corrupção. Segundo testemunharam outros dois policiais federais, o delegado recebeu passagens aéreas de um empresário investigado pela própria PF.
Nos dois casos acima, os advogados de HK negaram que ele estivesse cometido os crimes pelos quais foi denunciado.
Ainda sobre a suposta obstrução no Caso Marielle, Leonardo Carvalho relembrou que há uma ação penal que tramita na Justiça estadual do Rio de Janeiro na qual só respondem como réus Ferreirinha e sua advogada.
“O MP estadual (bem como a PF) entendeu que os responsáveis pela suposta obstrução seriam os precitados. Portanto não há qualquer elemento, sequer indiciário, contra o delegado federal”, afirmou o advogado.
Fonte: UOL
Créditos: Flávio Costa