Ao menos 89 policiais e rebeldes morreram nesta sexta-feira, 25, na região oeste de Mianmar após vários ataques de muçulmanos rohingyas contra postos na fronteira, em combates sem precedentes em vários meses, segundo as autoridades do país.
De acordo com o último balanço publicado pelos serviços da conselheira de Estado, Aung San Suu Kyi, 12 membros das forças de segurança e 77 “terroristas” rohingyas morreram nos ataques. “Militares e policiais combatem juntos os terroristas bengaleses”, escreveu mais cedo o general Min Aung Hlaing em sua página no Facebook.
O termo “rohingya” é polêmico em Mianmar, onde são considerados imigrantes do vizinho Bangladesh e, por isso, são chamados de “bengaleses”. Na foto, soldado caminha em direção a uma aldeia em Rakhine perto do local onde foram registrados os conflitos Foto: EFE/Nyunt Win
O termo “rohingya” é polêmico em Mianmar, onde são considerados imigrantes do vizinho Bangladesh e, por isso, são chamados de “bengaleses” no país de maioria budista, marcado pela influência de monges radicais que denunciam os muçulmanos como uma ameaça.
Os confrontos desta sexta-feira são os mais violentos em vários meses na região de Rakhine, cenário de grande tensão entre muçulmanos e budistas. No Estado vivem dezenas de milhares de rohingyas, minoria muçulmana vítima de fortes discriminações em Mianmar. Eles não têm acesso a hospitais, escolas ou ao mercado de trabalho.
Mais de 20 delegacias de polícia foram atacadas por 150 rebeldes rohingyas nesta manhã, de acordo com o governo civil de Aung San Suu Kyi.
O general Min Aung Hlaing destacou que “os combates prosseguiam” nesta sexta-feira na região de fronteira com Bangladesh, principalmente ao redor das delegacias de polícia das cidades de Kyar Gaung Taung e Nat Chaung. Os rebeldes roubaram armas em várias delegacias, disse o militar.
O modus operandi dos rebeldes se parece com o utilizado em uma série de ataques letais contra postos de fronteira em outubro de 2016. Após os confrontos, milhares de rohingyas fugiram para Bangladesh e denunciaram que o Exército cometeu estupros coletivos, torturas e assassinatos em massa.
Várias delegacias atacadas permaneciam cercadas várias horas depois das ações, segundo fontes policiais. “A situação é complicada. Os militares devem enviar reforços”, afirmou o chefe de polícia de Buthidaung, perto da área mais afetada.
O governo de Mianmar mencionou “a coincidência dos ataques com a publicação do relatório final” da comissão liderada pelo ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan sobre a situação no Estado de Rakhine. O grupo estimulou o governo a dar mais direitos aos rohingyas para evitar uma “radicalização”. Após os confrontos de 2016, o Exército intensificou as ações na região, incendiando vilarejos e obrigando os membros da minoria a a fugir para Bangladesh.
Não está muito claro quais grupos rohingyas participam dos ataques, mas muitos alegaram pertencer ao Arakan Rohingya Salvation Army (ARSA), que afirma organizar a insurreição a partir das montanhas de May Yu, norte de Rakhine.
A situação é particularmente difícil para os 120 mil muçulmanos que vivem nos acampamentos de deslocados em Rakhine, de onde poucos podem sair, graças a salvo-condutos. / AFP
Fonte: Estadão