O fundador do Uber, o americano Travis Kalanick, anunciou na terça-feira sua saída do comando da empresa americana e seu afastamento do trabalho por tempo indeterminado.
A decisão ocorreu depois de uma auditoria sobre práticas gerenciais da empresa ter recomendado a demissão de dezenas de pessoas. A empresa esteve recentemente no centro de vários escândalos, envolvendo desde acusações de sexismo por parte de membros da diretoria a denúncias de assédio sexual feitas por passageiros do serviço de transporte privado.
Em um e-mail para os funcionários, Kalanick disse que sua saída faz parte dos esforços para “fazer um upgrade” da empresa.
“Para que o Uber 2.0 vingue, nada é mais importante para mim do que dedicar meu tempo para montar uma equipe de liderança. Mas se vamos trabalhar no Uber 2.0, eu preciso também cuidar do Travis 2.0”, escreveu ele, sem especificar quanto tempo passará longe da empresa.
O Uber opera em 662 cidades ao redor do mundo, incluindo o Brasil, e tem valor de mercado de mais de US$ 232 bilhões.
Conhecido pelo estilo despojado e politicamente incorreto de liderança, Kalanick disse recentemente que sente “vergonha” de seu comportamento e que precisa amadurecer.
Mas quais foram os principais motivos que levaram o bilionário a cair em desgraça?
Machismo e bullying
Kalanick enfrenta críticas há um tempo. Em 2014, ele causou polêmica ao fazer uma piada de mau gosto durante uma entrevista para a revista masculina GQ , dizendo que pensava em criar um serviço de delivery de mulheres, em resposta a uma pergunta sobre sua popularidade com o público feminino.
Em fevereiro, uma ex-engenheira do Uber, Susan J Fowler publicou em um blog suas experiências com o sexismo na empresa. O post viralizou e forçou Kalanick a pedir uma investigação interna. Outras denúncias de atitudes preconceituosas contra mulheres também despertaram atenção.
Na semana passada, o Uber anunciou a demissão de mais de 20 funcionários como resultado de uma análise de mais de 200 queixas feitas ao departamento de recursos humanos da empresa sobre assédio moral e bullying.
‘Trapaças’
Em março deste ano, o jornal americano The New York Times alegou que o Uber estava usando um programa de computador que permitia identificar possíveis inspeções em regiões em que o aplicativo ainda não era permitido e impedir que inspetores conseguissem carros.
No mês seguinte, o mesmo jornal relatou que a Apple ameaçou banir o Uber de sua loja de aplicativos depois de vir à tona que a empresa estava coletando números de série de iPhones de usuários, o que permitia rastrear suas atividades. O Uber alegou que a prática era importante para evitar fraudes.
O Uber também não fez amigos no Google, cuja holding, a Alphabet, acusou Kalanick de usar tecnologia roubada da Waymo, sua empresa que desenvolve carros sem motorista. O bilionário negou, mas no mês passado demitiu Anthony Levandowski, um ex-empregado da Waymo que em 2016 começara a trabalhar para o Uber.
Outra reclamação constante é sobre a política de preços do Uber, em especial a que aumenta o preço das corridas em horários de maior demanda – incluindo durante momentos de apuros públicos, como a intensa nevasca que atingiu Nova York em 2013, ou os momentos seguintes ao atentado de London Bridge, em Londres, há duas semanas.
Demos às pessoas mais opções de se locomover, isso é o mais importante”, afirma Kalanick.
Violência sexual
Motoristas do Uber são alvos frequentes de acusações de assédio e violência sexual, e a empresa constantemente enfrenta críticas relacionadas ao rigor de sua checagem de antecedentes criminais de seus condutores. Nos EUA, por exemplo, o Uber não checa impressões digitais, algo exigido de todas as profissões que envolvam certo risco para o público – professores, médicos e motoristas de táxi, por exemplo.
Escândalo maior ainda foi a revelação de que executivos da empresa obtiveram ilegalmente a ficha médica de uma indiana vítima de estupro por um motorista na Índia, em 2014. Isso porque o Uber acreditava se tratar de uma “armação” de uma empresa rival.
Fonte: Terra