Nepotismo. Seria a saída mais fácil para Joe Biden se defender e empurrar Donald Trump de volta às cordas. O democrata já sabe que o presidente vai trazer à tona, no debate desta quinta-feira (22), a história de Hunter Biden. O filho para o qual Joe arrumou uma boquinha em uma empresa de óleo e gás na Ucrânia e ainda levou a bordo do avião oficial do governo, quando era vice-presidente, para um passeio na China. Enquanto o pai cumpria agenda governamental, o filho aproveitava o verniz do poder para atrair investidores para um negócio particular.
A história é péssima e se a grande imprensa americana não fosse toda comprometida com o partido democrata, seria motivo de escândalo nas páginas eletrônicas e de papel. Troque os personagens da história: Trump no lugar de vice e a filha Ivanka no lugar de Hunter Biden. Matérias e matérias na mídia norte-americana. Mas a história não decolou e a última chance que Trump tem de macular a imagem de Biden em público e tentar roubar alguns votos do adversário é requentar a clara violação ética durante o debate.
Em entrevista, por telefone, à Fox News, TV que funciona quase como porta-voz do presidente, Trump disse, na manhã de terça-feira (20), que o procurador-geral da república tem que agir já e indicar um promotor independente, antes das eleições, para investigar a história. O já de Trump, obviamente, significa levantar algo sobre Biden a tempo de virar o jogo.
O New York Post, jornal conservador de Rupert Murdoch, bem que tentou. Publicou uma reportagem duvidosa feita a partir do hard drive do computador supostamente de Hunter Biden, deixado para reparos em uma loja. De alguma maneira Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York, um dos principais articuladores da ultra direita mundial e advogado particular de Trump, teve acesso a esse computador e ao conteúdo da troca de e-mails dos Biden. Nem a Fox quis fazer matéria sobre a “descoberta” porque achou muito suspeita. Ainda assim, levantou o assunto na entrevista com Trump.
Como responder ao ataque e não se deixar levar pela ira ao ver alguém falar do filho? Esse vai ser o maior desafio de Joe Biden nesse último obstáculo que tem pela frente na reta final.
Ele é emotivo, tem uma relação forte com o filho, único sobrevivente do primeiro casamento que terminou em um acidente de carro. A mulher estava dirigindo, com os três filhos no veículo. Biden não estava no carro. Ela e a filha morreram. Os dois meninos foram internados.
Joe conheceu Jill e reestruturou a família. Ninguém sabe o que acontece entre quatro paredes. Mas o contraste que se vê ao colocar a família Trump ao lado da família Biden é forte. Os Biden parecem uma família real. Com problemas e afetos que o cidadão comum conhece. A família Trump parece ser forjada nos interesses materiais. Imagem reforçada por informações como a que dá conta da negociação financeira que antecedeu a decisão de Melania Trump a respeito da mudança de Nova York para a Casa Branca.
Nada disso serve de desconto para o comportamento de Biden na vice-presidência, favorecendo os negócios do filho. Só serve de pano de fundo para entender que Hunter Biden é o calcanhar de Aquiles de Joe. Real e emocional.
O outro filho que sobreviveu ao acidente de carro na infância morreu de câncer em 2015. Foi por causa da doença de Beau que Biden nem tentou a presidência naquele ano. Falar de Hunter mobiliza o candidato democrata e Trump vai tentar desequilibrar o adversário nesse quesito.
Como responder? A turma de Biden está dividida. Ele não quer dar o troco apontando o dedo para a família Trump. Seria muito fácil. O presidente trouxe todo mundo para trabalhar com ele na Casa Branca. Os filhos, o genro Jared Kushner… Esse então era um prato feito. Não tinha credencial alguma para tratar de problemas políticos ou de questões diplomáticas. Mas foi encarregado de quase toda a agenda internacional do governo. A filha Ivanka fechou negócios na China logo no primeiro encontro entre Trump e Xi Jinping. Negociata é o que não falta do lado republicano.
Mas Biden, aparentemente, está decidido a não entrar nessa. Não vai atacar a família do adversário, apesar de ser essa a vontade de muita gente na equipe. Ele vai tentar levar a conversa de volta para o que mais prejudica Trump: a pandemia de Covid.
No primeiro debate, aquela confusão toda de um falando em cima do outro ajudou muito o democrata. Deixou uma imagem péssima de Trump junto ao eleitorado e custou ao presidente o apoio de uma parcela grande das mulheres. Ao mesmo tempo, impediu Biden de falar ou de ser obrigado a se explicar. Não havia como, com o outro falando ao mesmo tempo.
Agora, se a pergunta for feita de forma clara, sem interrupções, ele vai ter que responder sem perder a calma. Se escorregar, pode perder votos decisivos.
Trump vai jogar tudo nesse debate. Ele não tem mais nada a perder, já está tendo pesadelos com a mudança de endereço. Mas eu estou torcendo mesmo é para que o formato da tela dividida, com a imagem dos dois candidatos o tempo todo na nossa frente, seja mantida. Vai ser impagável ver Trump tentar falar com o microfone desligado, o direito à voz sob o controle de um moderador, um jornalista! A situação vai deixar Trump enlouquecido. Promete ser uma cena histórica!
Fonte: Fórum
Créditos: Polêmica Paraíba