Raptada, drogada e quase vendida como escrava sexual em um leilão online para um comprador do Oriente Médio.
Não se trata de um roteiro de Hollywood, mas supostamente de acontecimentos recentes na vida da britânica Chloe Ayling, de 20 anos.
A história, ainda cercada de mistérios, vem ocupando as principais páginas da imprensa europeia.
Segundo as autoridades que cuidam do caso, tudo começou em 11 de julho deste ano, em Milão, no norte da Itália, para onde a modelo viajou após receber um convite para uma sessão de fotos.
Ao chegar ao estúdio, no centro da cidade, Ayling foi atacada por um homem que a segurou pelo pescoço e tapou sua boca, enquanto outro, vestindo uma máscara, injetou nela uma substância no braço.
“Acho que desmaiei. Quando acordei…me dei conta que estava no porta-malas de um carro, com minhas mãos e meus pés amarrados e minha boca tapada”, contou a modelo, segundo declarações dadas à polícia publicadas pelo jornal italiano Corriere della Serra.
As autoridades disseram que a modelo foi drogada com o sedativo quetamina, e, em seguida, levada a Borgial, no noroeste de Turim, a duas horas de carro de Milão.
“Estava dentro de uma mala e só podia respirar por meio de um pequeno buraco”, explicou a modelo.
Leiloada
A jovem permaneceu em um quarto durante seis dias, segundo as investigações.
Os sequestradores teriam tentado leiloá-la pelo equivalente a R$ 940 mil na chamada dark web (internet obscura), que engloba servidores de rede difíceis de serem rastreados facilitando o comércio de armas e drogas.
O advogado de Ayling, Francesco Peschi, afirmou que a intenção era vendê-la como escrava sexual no Oriente Médio.
Ao mesmo tempo, os sequestradores exigiram do agente de Ayling o pagamento de um resgate.
Segundo as investigações da polícia italiana, eles trabalhavam para uma organização chamada “Black Death”, que no passado havia sido vinculado ao tráfico ilegal de pessoas na rede.
No entanto, a venda de Ayling nunca foi concluída e ela acabou sendo libertada pelos próprios raptores, disse ela à polícia italiana.
De acordo com a polícia de Milão, a modelo foi levada por um dos sequestradores ao consulado britânico local.
No domingo, Ayling disse que temeu por sua vida ao longo da experiência que descreveu como “terrível”.
“Estou incrivelmente agradecida às autoridades britânicas e italianas por terem garantido minha libertação de forma segura”, afirmou ela.
Suspeito
Autoridades informaram que o polonês Lukasz Herba, que mora no Reino Unido, foi preso pelo suposto sequestro da modelo.
Herba seria “um assassino de aluguel”, que trabalhava para uma organização ilegal que opera na internet.
“Ele diz operar para uma organização da deep web, que oferece serviços como ataques a bomba, sequestros e venda de crianças”, disse o policial Lorenzo Bucossi.
“Os pedidos de resgate foram enviados do computador dele – mas ainda não sabemos se ele estava operando como parte de um grupo ou inventou tudo isso”, acrescentou.
Contudo, outras fontes da polícia ouvidas pela imprensa italiana afirmaram que a versão de Herba é “fantasiosa” e o descreveram como uma pessoa “perigosa com traços de mitomania”.
Apesar do relato de que participava da organização criminosa, o polonês também teria dito à polícia que tinha leucemia e, desesperado por dinheiro, entrou em contato com um grupo de romenos na cidade de Birmingham, no Reino Unido, ao que teria sido pressionado a participar do sequestro.
A Europol, a polícia europeia, informou na segunda-feira que havia apenas uma única menção a Black Death em seu banco de dados, e não há certeza de que a gangue realmente exista.
A polícia da Itália disse, por sua vez, que está procurando pelo menos um cúmplice, que seria o irmão de Herba, Michael, embora ainda não tenha confirmado sua identidade pois a investigação está em andamento.
Autoridades da Itália, Polônia e Reino Unido estão colaborando na investigação do caso.
Dúvidas
Por seu caráter incomum, a veracidade da história foi colocada em dúvida.
O próprio advogado de Ayling admitiu que alguns aspectos do caso podem parecer bizarros. Ele afirmou que, inicialmente, os investigadores tinham “mais do que dúvidas justificadas” sobre a história.
“Parece incrível”, afirmou Pesce. “Um homem sequestra, junto com outros, uma menina, e depois de uma semana, por razões particulares, a acompanha dentro de um consulado e praticamente a entrega à polícia”, acrescentou.
“Isso gerou dúvidas nos investigadores, mas a história acabou se comprovando verdadeira.”
Créditos: UOL