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'Noites horripilantes', narra enfermeiro que teve variante britânica do vírus

Altair Nonato da Silva, morador de Peruíbe, no litoral paulista, relata que sete familiares também foram contaminados com a Covid-19

Um enfermeiro de Peruíbe, no litoral de São Paulo, que contraiu a nova variante britânica do coronavírus relatou ao G1 ter percebido maior poder de transmissão do vírus, após sete parentes testarem positivo para a Covid-19. Altair Nonato da Silva, de 45 anos, foi o primeiro caso confirmado da nova variante na Baixada Santista. Ele permanece sendo o único paciente que comprovadamente contraiu a cepa na região.

‘Pedi muito a Deus para não morrer’, desabafou o enfermeiro em entrevista ao G1 neste sábado (20).

Silva atua como enfermeiro em um hospital na capital paulista. Segundo o laboratório de diagnósticos Dasa, o paciente foi diagnosticado com a mesma cepa que surgiu no Reino Unido. A descoberta foi anunciada na última terça-feira (16) e, em seguida, comunicada ao Instituto Adolfo Lutz e à Vigilância Sanitária.

O profissional conta que a esposa foi a primeira a ter sintomas da doença na residência, no fim de dezembro de 2020. Silva fez o teste e recebeu o diagnóstico positivo no dia 6 de janeiro. Apesar da confirmação, os sintomas começaram depois. Com tosse, dor no corpo, diarreia e febre, ele passou a prestar atenção para ver se tinha piora no quadro.

Acompanhando a situação de casa e sendo medicado, ele teve uma piora significativa, e vendo a mudança na saturação, foi internado no Hospital Regional Jorge Rossmann, em Itanhaém. “Todos esses dias, eu tendo calafrios, sudorese noturna, foram noites horripilantes. Falei para a minha esposa ‘eu vou ter que internar, porque senão eu vou morrer em casa aqui, do seu lado’ “. Ele chegou a ter 75% do pulmão comprometidos e precisou fazer uso de oxigênio.

O enfermeiro relata que ficou uma semana internado. Ainda durante a internação, ele recebeu a ligação de um dos responsáveis pelo laboratório Dasa, que informou sobre a suspeita de ele ter contraído a variante britânica da Covid-19, após o que foi visto na análise clinica. Ele informou os profissionais da saúde e passou por todos os cuidados. Só depois de receber alta do hospital teve a confirmação do laboratório.

Mesmo antes da confirmação, o fato de sete familiares do convívio do enfermeiro terem se contaminado foi motivo de medo, e fez com que ele percebesse a principal característica da variante da doença, a alta transmissibilidade. “O que eu percebi é que o processo da doença é mais acelerado. Em pouco tempo, já tinha várias pessoas contaminadas”, relata. Ele explica que a esposa e os outros familiares ainda não passaram pelo sequenciamento genético, então, ainda não há a confirmação se também contraíram a nova cepa.

“Apesar disso [ser o 1º confirmado na região], acredito que não sou o primeiro. A gente não sabe de onde veio. Eu acredito que eu fui identificado porque passei por uma rede privada, em um laboratório conceituado”, explica.

Para Altair, é necessário que a testagem seja feita de forma mais ampla, para que os dados sejam coletados corretamente. O enfermeiro finaliza reiterando que todos os familiares ficaram isolados pelo tempo necessário, após a confirmação da doença, para evitar que outras pessoas também fossem contaminadas. “Falei ‘Senhor, minha vida está nas tuas mãos’, apresentei melhora e tive alta. Tive apoio de profissionais muito bons”, conclui o enfermeiro.

Variante

A Secretaria de Saúde de Peruíbe informou ao G1 que foi comunicada na última terça, pelo laboratório Dasa, de que o sequenciamento da amostra de um paciente da cidade, realizado no Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, confirmou se tratar da variante do Reino Unido B.1.1.7.

A Secretaria da Saúde de São Paulo, por sua vez, não confirmou o novo caso da variante na cidade de Peruíbe. A pasta explicou que o estado registra 25 casos de Covid-19 da cepa de Manaus e sete casos da variante britânica. A secretaria explica, ainda, que a confirmação de novas variantes ocorre por meio de sequenciamento genético, além da investigação epidemiológica dos casos, como históricos de viagens e contatos.

A variante B.1.1.7 deixou o vírus mais transmissível. As novas variantes parecem ser mais contagiosas, e um estudo médico divulgado em dezembro aponta que a nova versão do Reino Unido é entre 50% e 74% mais contagiosa.

Apesar disso, ainda não há comprovação de que o vírus esteja mais forte, que cause uma versão mais grave da Covid-19 ou aumente o índice de mortes. Os cientistas apontam apenas que as trocas genéticas afetaram a maneira como o vírus se fixa nas células humanas.

Fonte: G1
Créditos: G1