Vingança

Líder do Hamas é assassinado no Irã, que acusa Israel e promete 'vingança'

O chefe do gabinete político do Hamas, Ismail Haniyeh, foi morto em Teerã, onde participava da posse do novo presidente iraniano

Foto: AFP/ 26-03-2024
Foto: AFP/ 26-03-2024

O chefe do gabinete político do Hamas, Ismail Haniyeh, foi morto nesta quarta-feira em Teerã, onde participava da posse do novo presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, anunciaram autoridades da nação persa e do movimento palestino, atribuindo o ataque a Israel, que não se manifestou sobre o caso até o momento. Tanto o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, quanto dirigentes do Hamas prometeram vingança.

“O regime sionista criminoso e terrorista martirizou nosso querido hóspede em nosso território e causou nossa dor, mas também preparou o terreno para uma punição severa”, escreveu o líder supremo iraniano na rede social X. “Após este evento amargo e trágico que ocorreu dentro das fronteiras da República Islâmica, é nosso dever buscar vingança”.

Em um comunicado em separado, Musa Abu Marzuk, um alto dirigente do Hamas, também condenou a ação que resultou na morte de Haniyeh, prometendo uma reação. “O assassinato do líder Ismail Haniyeh é um ato de covardia e não ficará impune”, disse.

Relatos da imprensa iraniana apontam que o líder palestino teria sido morto em um ataque aéreo. Segundo a agência de notícias Fars, Haniyeh estava em uma residência para veteranos de guerra, na zona norte da capital do Irã, que foi atingida por um projétil aéreo. Além do palestino, também foi confirmada a morte de um segurança iraniano.

“A residência de Ismail Haniyeh, chefe do escritório político da Resistência Islâmica do Hamas, foi atingida em Teerã, e como resultado deste incidente, ele e um de seus guarda-costas foram martirizados,” disse um comunicado no site de notícias Sepah.

Haniyeh, de 62 anos, comandava a operação política do Hamas a partir do exílio, no Catar. Há meses, ele era o principal interlocutor do grupo palestino nas negociações sobre um cessar-fogo com Israel na Faixa de Gaza. Países que atuam como mediadores lamentaram a morte do líder palestino e disseram que provavelmente comprometeria as conversas.

“Como a mediação pode ter sucesso quando uma parte assassina o negociador do outro lado?”, escreveu o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman al-Thani, em uma publicação nas redes sociais.

Em turnê pela Ásia, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, afirmou que Washington não tinha participação na ação contra Haniyeh e nem recebeu informações prévias sobre qualquer plano para assassinar o líder palestino.

— Uma das coisas que nós estivemos focados é em tentar fazer com que conflito que ocorre em Gaza não escale. Nós vamos continuar fazendo isso da mesma forma — disse Blinken, em uma declaração à imprensa na Cingapura.

Ibrahim Madhoun, um analista próximo ao Hamas, disse que a morte de Ismail Haniyeh foi “um grande golpe” para o grupo, mas afirmou que isso não desestabilizaria a organização palestina. Ele mencionou que o Hamas já enfrentou situações parecidas antes, com as mortes de Ahmed Yassin e Abdel Aziz Rantisi, mortos por Israel.

O analista também afirmou que a morte de Haniyeh ilustra como não há linhas vermelhas na guerra entre Israel e o Hamas.

Líder no exílio

Haniyeh foi escolhido para liderar o escritório político do Hamas em 2017, sucedendo Khaled Meshaal, mas já era uma figura conhecida por ter sido primeiro-ministro palestino em 2006 após uma vitória do movimento islamista nas eleições parlamentares daquele ano.

Considerado um líder pragmático, Haniyeh já havia realizado missões diplomáticas ao Irã e à Turquia durante a atual guerra para se reunir com os presidentes desses países. Também se estimava que mantinha boas relações com líderes de diversas facções palestinas, incluindo algumas rivais do Hamas.

Ele se uniu ao movimento islamista em 1987, quando foi fundado durante a primeira intifada contra a ocupação israelense, que durou até 1993.

Haniyeh, que vive no Catar e contra quem o procurador-chefe do Tribunal Penal Internacional (TPI) expediu mandados de prisão, perdeu três filhos e quatro netos em um bombardeio em abril. De acordo com a rede al-Jazeera, um drone teria atingido, à época, o carro da família no campo de refugiados de al-Shati, no norte do enclave.