O Ministério do Interior da Rússia está avaliando a possibilidade de abrir um inquérito contra torcedores brasileiros que geraram polêmica ao constranger uma mulher russa na Copa do Mundo, num vídeo que difundiram pela internet.
Uma denúncia foi apresentada contra os envolvidos e ativistas querem que a polícia local abra um inquérito. “Ainda estamos avaliando e não podemos ainda confirmar se haverá um inquérito ou não”, explicou um assessor do Ministério do Interior ao Estado. Ele, porém, confirmou ter recebido informações sobre o caso.
Além disso, uma queixa formal será apresentada à embaixada brasileira em Moscou e uma petição contra os brasileiros já conta com quase 900 assinaturas. Nela, os ativistas ainda consideram que “cidadãos estrangeiros deveriam pedir desculpas publicamente, e para a menina, e todos cidadãos russos diante do sexismo, da falta de respeito às leis da Federação Russa, o desrespeito por um cidadão russo, insultos, humilhação da honra e dignidade de um grupo de pessoas com base em seu gênero”.
Caso sejam considerados culpados, podem sofrer sanções que vão desde multas até a proibição de voltarem a entrar em território russo.
A autora da denúncia é Alyona Popova, advogada e ativista russa. Na comunicação, ela cita artigos das leis russas que apontam para punições quanto à humilhação ou insulto. Nesse caso, a multa pode chegar a 3 mil rublos (R$ 175). Mas também existiria a possibilidade de que os brasileiros sejam denunciados por violência da ordem pública e abusos sexuais.
Uma responsabilidade criminal apenas poderia ser atribuída se ficar constatado que o ato tem uma relação com discriminação de sexo, de raça ou nacionalidade.
Para Popova, deve haver uma pedido oficial de desculpas por parte dos brasileiros envolvidos. Além da denúncia, ela ainda quer iniciar uma petição para criar uma pressão popular diante do caso.
Num texto publicado pela ativista, ela alerta que um dos envolvidos tinha um cargo público e que “não podem humilhar” a mulher russa. Ela se referia ao tenente da Polícia Militar de Santa Catarina Eduardo Nunes, um dos identificados no vídeo. Segundo a advogada, a ofensa tem uma relação direta com “nacionalidade e gênero”. “Gostaria que esses cidadãos fossem punidos”, escreveu.
A embaixada do Brasil em Moscou afirma que não recebeu até o momento a queixa da ativista. Pela manhã, ela apenas indicou que tem recebido e-mails de brasileiros protestando contra a atitude dos torcedores brasileiros. Mas considera que o caso é “isolado” e que a maioria tem tido uma postura exemplar.
Na cartilha distribuída ao torcedor, recomenda-se observar leis e costumes locais, inclusive para a questão de “decoro”. O caso levou a embaixada a enviar um telegrama para Brasília para solicitar orientação.
Uma das dificuldades, porém, é que o governo brasileiro não tem qualquer possibilidade de agir em território russo e os responsáveis por assédios apenas poderiam ser repreendidos se houvesse uma queixa local na polícia por uma das vítimas.
Leandro Cruz, ministro do Esporte, criticou nesta quarta-feira, 20, abertamente o comportamento de alguns homens brasileiros que promoveram situações constrangedoras para mulheres russas, durante a Copa do Mundo. Segundo ele, o grupo que assediou mulheres presta um “imenso desserviço” ao Brasil.
Mas ele admite que tal caso “não tinha como ser previsto” na cartilha que o governo criou e distribuiu aos torcedores sobre como se comportar na Rússia.
Pelo menos três casos de assédios ou constrangimentos foram registrados desde o começo da Copa do Mundo, envolvendo torcedores brasileiros e mulheres russas. Pelas ruas de Moscou, porém, casos com outras torcidas também têm sido identificados, em especial de países latino-americanos.
O Estado presenciou como brasileiros num metrô de Moscou formaram uma espécie de corredor, aplaudindo, assobiando ou vaiando as mulheres que eram obrigadas a passar pelo meio.
“Isso envergonha nosso país e merece toda a repreensão que possamos fazer”, disse. “Trata-se de algo de gravidade imensa e não pode ser tolerada Eles não nos representam”, disse o ministro.
Fonte: Estadão
Créditos: Estadão