A Comissária para a Infância do governo britânico pediu que a loja online Amazon tome medidas para impedir que bonecas pornô de aparência infantil fossem oferecidas em seu site. A orientação da comissária Anne Longfield veio na esteira de uma reportagem da BBC mostrando a existência dos produtos, os quais Longfield classificou como “nojentos”.
Pelo menos uma dúzia de modelos estavam sendo vendidas no site por terceiros no Amazon Marketplace. Depois de ser contatada pela reportagem da BBC, a loja removeu um dos modelos. Mas, apenas três dias depois, o produto voltou a ser vendido.
Agora, a Amazon diz ter removido todos os produtos mencionados na reportagem da BBC. Em nota, a loja disse que “todos os vendedores que usam a plataforma Marketplace precisam seguir nossas normas, e aqueles que não o fizerem estarão sujeitos a ações como a remoção de suas contas. Os produtos mencionados não estão mais disponíveis”.
“Estas bonecas são nojentas, e claramente são feitas para se parecerem com crianças. Não só eu, como Comissária para a Infância, mas o público em geral tem o direito de esperar de uma empresa do tamanho da Amazon que remova os produtos. E também que explique o que eles estavam fazendo lá em primeiro lugar, além de garantir que eles não voltem a ser expostos depois de serem retirados”, disse ela.
“Estes produtos foram claramente feitos para um propósito, e este propósito é um risco para a segurança das crianças reais”, acrescentou Longfield.
Brecha legal
A Patrulha de Fronteira do Reino Unido apreendeu 179 bonecas infláveis de aparência infantil desde março de 2016, no bojo da chamada Operação Shiraz, desenvolvida em conjunto com a Agência Criminal Nacional (National Crime Agency).
Em julho de 2017, a Justiça britânica decidiu que as bonecas eram “obscenas” e, portanto, estavam submetidas à lei alfandegária do país. Apesar disso, não é crime fabricar ou possuir uma boneca inflável infantil: o único crime, na Grã-Bretanha, é importar este tipo de item.
No ano passado, por exemplo, um ex-diretor escolar, de 72 anos, foi preso depois de admitir que tinha importado uma destas bonecas (ele também tinha 34 mil imagens de abuso sexual infantil no computador).
O Amazon Marketplace é uma área da loja online na qual qualquer pessoa ou empresa pode se cadastrar e vender produtos. A Amazon não vende itens neste site – apenas cobra uma taxa dos vendedores.
As bonecas encontradas pela BBC no site tinham cerca de 1,20 metro de altura e cerca de 41 centímetros de cintura. As bonecas eram fotografadas em poses sugestivas e acompanhavam legendas como “manequim sexy” e “imitação 100% realista do corpo feminino”.
Várias bonecas acompanhavam o que os vendedores chamavam de “lingerie sexy”.
Um casal da cidade de Durham ficou horrorizado quando encontrou as bonecas em uma busca online por itens de sexshop. “Ficamos enojados, reportamos no mesmo momento para a Amazon”, disseram eles à BBC. Mais de 20 horas depois, o casal ainda não tinha recebido qualquer resposta da Amazon.
Bonecas são risco para crianças, diz ONG
Para a Sociedade Nacional de Prevenção da Crueldade Contra Crianças (NSPCC, na sigla em inglês), o uso destas bonecas representa um risco para a segurança de crianças. A NSPCC é uma organização não-governamental britânica que atua em defesa da infância.
Desenhadas para serem tão realistas quanto possível, os produtos são finalizadas em silicone e pesam o mesmo que uma criança real. As bonecas são feitas inclusive de forma que se possa “fazer sexo” com elas – algumas têm “vaginas” que podem ser removidas para limpeza.
“Já sabemos que há um risco de que as pessoas que usam estes produtos fiquem dessensibilizadas e passem a achar que este comportamento é normal, o que pode levá-las a atacar crianças, como acontece às vezes com quem assiste pornografia infantil na internet”, diz Almudena Lara, representante da NSPCC.
“(Por outro lado), Não há qualquer evidência de que o uso destas bonecas evite que os pedófilos em potencial ataquem crianças”.
“Até que as falhas na legislação sejam corrigidas para tornar ilegal a posse, venda ou fabricação destes produtos, empresas como a Amazon deveriam se recusar a vender este tipo de produto do mal”, diz Lara.
Fonte: UOL
Créditos: UOL