Paul Manafort, que chefiou parte da campanha de Donald Trump à Presidência no ano passado, foi indiciado e se entregou ao FBI nesta segunda-feira (30), junto com Rick Gates, seu ex-parceiro comercial e que também participou da campanha eleitoral.
Os dois são acusados de 12 crimes: conspiração contra os Estados Unidos; lavagem de dinheiro; agenciamento, sem registro, de interesses de outros países; duas acusações de falso testemunho e sete acusações relacionadas a contas e investimentos no exterior não declarados.
O caso faz parte da investigação do FBI sobre um possível complô entre membros da campanha de Trump e o governo da Rússia para favorecer o republicano e prejudicar sua adversária, Hillary Clinton. O caso é comandado pelo promotor especial Robert Mueller, ex-chefe do próprio FBI, que atua de forma independente da Casa Branca.
As acusações não estão diretamente ligadas ao trabalho realizado por Manafort e Gates na campanha de Trump, apesar de terem origem na mesma investigação.
No último mês de julho, agentes federais realizaram uma operação em sua casa, nos arredores de Washington. Segundo o “New York Times”, Manafort estava em casa quando o FBI abriu sua porta arrombando a fechadura. A polícia apreendeu fichários de documentos e copiaram seus arquivos de computador em busca de provas de que ele havia aberto contas bancárias no exterior, de acordo com o jornal.
A questão da interferência da Rússia nas eleições é um dos pontos mais polêmicos da trajetória do presidente até agora. As acusações, que também envolvem outros membros da campanha e do governo Trump, foi classificada pelo presidente como uma “caça às bruxas” das autoridades contra sua presença na Casa Branca.
Nesta segunda, após Manafort ser indiciado, Trump afirmou que o caso ocorreu “anos atrás”, antes de Paul Manafort participar da campanha. “Por que não focam na ‘Hillary Torta’ e nos democratas? E não houve complô!”, escreveu o presidente no Twitter, em alusão à notícia de que Hillary e o Partido Democrata supostamente pagaram por um dossiê com informações comprometedoras, não comprovadas, sobre Trump, no ano passado.
Em maio, Trump demitiu o então diretor do FBI, James Comey, e citou a investigação da Rússia como um dos motivos. “Este assunto com a Rússia, Trump e Rússia, é uma história inventada”, disse Trump, na época.
Acusações
De acordo com a CNN, Manafort foi alvo de escutas autorizadas pela Justiça a partir de 2014, quando o FBI iniciou uma investigação sobre o trabalho que os grupos de consultoria de Washington tinham feito para Viktor Yanukovych, ex-presidente ucraniano e aliado da Rússia. As escutas foram suspensas em 2016 por falta de provas, mas acabaram retomadas sob uma nova ordem que se estendeu pelo menos até o começo do ano.
Em agosto do ano passado, a Ucrânia publicou documentos com supostos pagamentos a Manafort de um valor total de US$ 12,7 milhões entre 2007 e 2012, sem que se saiba exatamente a que corresponde este dinheiro. Na época, Manafort era conselheiro em relações públicas de Yanukovitch e de seu Partido das Regiões, expulso do poder em 2014 por uma revolta pró-europeia.
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O ex-diretor de campanha de Trump foi acusado por um deputado ucraniano de ter recebido um pagamento de US$ 750 mil de Yanukovitch através de uma companhia offshore.
Já o “Washington Post” informou que Manafort ofereceu “relatórios privados” sobre as eleições presidenciais ao oligarca russo Oleg Deripaska, também próximo ao Kremlin. A oferta foi feita, segundo o relato, em um dos e-mails que agora estão em mãos do promotor Robert Mueller.
Em meio às acusações, Manafort acabou demitido da campanha de Trump. Antes de trabalhar com o magnata, Manafort havia participado das campanhas presidenciais de outros republicanos, como Gerald Ford (candidato em 1976), Ronald Reagan (1980), George H.W. Bush (1988) e Bob Dole (1996).
Nos anos 80, após a vitória de Reagan em 1980, Manafort fundou uma empresa de lobby em Washington com Roger Stone, outro futuro conselheiro da campanha de Trump. A empresa, chamada BMSK, fez lobby para vários governos acusados de violar direitos humanos, como as ditaduras das Filipinas, Zaire, Guiné Equatorial e Quênia.
Outro assessor da campanha diz ter mentido ao FBI sobre relação com a Rússia
Também nesta segunda, George Papadopoulos, ex-assessor da campanha Trump, se declarou culpado de ter dado um testemunho falso sobre as relações com a Rússia, de acordo com a acusação assinada pelo promotor Robert Mueller.
“Através de suas falsas declarações e omissões, o acusado Papadopoulos impediu a investigação em curso do FBI sobre a existência de vínculos ou coordenação entre indivíduos associados com a campanha e os esforços do governo russo para interferir nas eleições presidenciais de 2016”, diz a acusação.
De acordo com a nota, Papadopoulos confessou ter mentido “sobre tempo, a extensão e a natureza de suas relações e de sua interação com certos estrangeiros que tinha entendido serem pessoas próximas a alto dirigentes do governo russo.”
Em um e-mail enviado em março de 2016, o ex-colaborador propôs um encontro entre os dirigentes russos e diretores da campanha de Trump, com o título “Encontro com lideranças russas, incluindo [Vladimir] Putin”. A proposta teria sido rejeitada pelo então chefe de campanha, Paul Manafort, que se entregou à polícia hoje. (Com agências internacionais)
Fonte: UOL
Créditos: UOL