A expectativa de que os governos da Finlândia e da Suécia anunciem nos próximos dias suas candidaturas à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) fez crescer o medo de disseminação do conflito da Guerra na Ucrânia para o resto do continente europeu.
Se a entrada dos dois países nórdicos na aliança for aprovada, as consequências serão históricas, já que ambos países adotam há décadas posição de neutralidade militar – no caso da Suécia, desde o século 19.
Na última quinta-feira (12), logo após o anúncio finlandês, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia alertou, em comunicado, que o país terá que “tomar medidas de retaliação, tanto de natureza militar-técnica quanto de outra natureza”. Anteontem (13) mesmo, os russos já deram amostras da retaliação comercial: as empresas de eletricidade e de gás russas avisaram que cortarão o fornecimento de energia à Finlândia.
A preocupação, no entanto, é que volte a se repetir, agora no Norte da Europa, uma escalada da tensão semelhante a que culminou na invasão da Ucrânia – a Rússia via o flerte do país vizinho à Otan como uma ameaça ao seu território. Porém, especialistas ouvidos pelo UOL acham remota a chance de Putin ordenar um ataque militar à Finlândia ou à Suécia.
Dois fronts
No curto prazo, a possibilidade de a Rússia manter duas frentes de batalha simultâneas é vista como inexequível. A maioria das forças militares do país está dedicada nos combates no leste europeu, onde sofre fortes perdas humanas e militares, obrigando Putin a convocar reservistas para reforçar o front ucraniano.
“Uma invasão da Finlândia obrigaria a Rússia a retirar boa parte de seus materiais militares da Ucrânia para essa nova fronteira, o que inviabilizaria a ação em duas frentes”, avalia Renato do Prado Kloss, professor de relações internacionais e mestre em estudos estratégicos pela Universidade de Reading na Inglaterra. “Outro fator é o financiamento da guerra, já que as sanções ocidentais vêm, aos poucos, destruindo a economia russa.”
Outro empecilho é que, no caso de uma ameaça à Finlândia e à Suécia, “a composição estratégias de forças é muito diferente de encontrada na Ucrânia pré-invasão russa”, avalia Luiz Henrique Brandão, historiador pela Universidade de Brasília (UnB) com especialização em relações internacionais e estudos estratégicos.
Ele lembra que a Otan deu garantias de segurança à Finlândia e à Suécia no caso de uma invasão russa durante o processo de adesão, o que sugere um uso direto de força militar. Diferente da Ucrânia que, apesar da intenção, não tinha feito nenhum comunicado oficial de intenção de entrada na aliança militar, como fez agora a Finlândia.
Outro agravante para qualquer intenção bélica russa é que, se o exército do país invadisse agora a Finlândia, encontraria soldados britânicos. “Pouco depois de Putin invadir a Ucrânia, a Grã-Bretanha anunciou o maior exercício militar inglês desde a Segunda Guerra Mundial. Isso sozinho já colocaria Finlândia numa posição estratégica muito diferente da Ucrânia”, diz o historiador.
Dissuasão
Na impossibilidade de pressionar pelo uso da força, a Rússia deve adotar táticas de coerção para forçar os países nórdicos a reverem suas intenções de aliança. À exemplo dos cortes de fornecimento de energia já anunciados.
“Os russos podem passar uma mensagem para Finlândia e Suécia por meio, por exemplo, de campanhas de desinformação, ataques cibernéticos, violações do espaço aéreo e o posicionamento de armas nucleares em Kaliningrado.”Renato do Prado Kloss, professor
Larlecianne Piccolli, doutora em estudos estratégicos internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisadora do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE), alerta que, por mais que o país não tenha forças para agir no momento, ele não deixará de defender suas posições naquela região, que é estratégica para as ambições russas.
“A Rússia vem aumentando essas capacidades militares no Ártico desde, no mínimo, 2008”, explica a pesquisadora cuja tese de doutorado foi sobre a política de defesa da Rússia no século 20.
“No mar Báltico estão os principais portos exportadores da Rússia e onde está o novo o gasoduto para a Europa. É ali que se concentra a maior parte da frota da marinha russa, incluindo os submarinos nucleares, essenciais para a defesa do país. E, com o aquecimento global e degelo do Ártico, ali virou uma rota muito importante de comércio marítimo.”
Fonte: UOL
Créditos: Polêmica Paraíba