Os eurodeputados eleitos no final de maio tomaram posse em Estrasburgo nesta terça-feira (2), durante uma sessão inaugural marcada pelo protesto de vários milhares de catalães e pela hostilidade dos eleitos britânicos.
Cerca de 10 mil manifestantes acenavam bandeiras da Catalunha em frente à sede da instituição em apoio a três separatistas impedidos de tomar posse pelas autoridades espanholas porque não puderam prestar juramento em Madri.
No interior da Câmara, os eurodeputados foram convidados a ficar de pé para ouvir o hino europeu, mas os 29 deputados britânicos do Partido do Brexit de Nigel Farage, eleitos enquanto o Reino Unido se prepara para sair da União Europeia, expressaram sua oposição e ficaram de costas enquanto os músicos tocavam a “Ode à Alegria”, de Beethoven.
A principal missão desta sessão inaugural é eleger um novo presidente do Parlamento, um dos principais postos europeus.
A escolha do sucessor do italiano Antonio Tajani (PPE, direita), que deveria ocorrer nesta terça-feira (2), foi adiada para quarta (3), para permitir que os líderes dos 28 países cheguem a um consenso sobre a distribuição dos cargos de mais alto nível.
Nada indica que os líderes reunidos desde domingo (30) em Bruxelas vão chegar a um acordo. Um fracasso levaria então o Parlamento a distribuir as cartas sem esperar a definição da presidência da Comissão.
“Os candidatos têm até as 22h (17h de Brasília) para se declarar”, informou o porta-voz do Parlamento europeu, Jaume Duch.
A deputada ecologista Ska Keller já anunciou sua candidatura, enquanto o seu compatriota alemão Manfred Weber, à frente do grupo do PPE, a maior bancada do Parlamento, também poderia concorrer, se ficar confirmado que não tem chances de obter a chefia da Comissão.
“Para onde vai nossos votos?”
Os manifestantes pró-catalães presentes em grande número em Estrasburgo criticaram a atitude considerada por eles antidemocrática de Madri.
“Para onde vão os nossos votos se as pessoas que elegemos não podem desempenhar o seu papel?”, questionou Santiago Solsona, um advogado de 54 anos.
Ele foi protestar em Estrasburgo com sua esposa e filho, disse que era importante apoiar os três separatistas eleitos no final de maio na Espanha.
São eles Carles Puigdemont, ex-chefe do governo regional catalão que vive na Bélgica para escapar de um mandado de prisão espanhol, após a tentativa de secessão 2017, e seu companheiro de chapa Toni Comin, na mesma situação. O separatista Oriol Junqueras, em prisão preventiva, também não estava em Estrasburgo.
A Espanha não transmitiu formalmente seus nomes ao Parlamento Europeu, uma vez que a sua situação os impediu de prestar juramento em Madri. Seus três assentos, portanto, permaneceram vazios.
Puigdemont preferiu não ir a Estrasburgo por medo de ser entregue à Espanha, segundo seu advogado Gonzalo Boye.
“Decidimos que não era aconselhável que ele viesse, porque não há garantias de uma medida administrativa consistente em levá-lo diretamente a território espanhol”, afirmou Boye em Estrasburgo, cidade situada a poucos quilômetros da fronteira alemã.
Farage de volta
Como o Brexit ainda não aconteceu –o novo prazo está marcado para o dia 31 de outubro–, 73 deputados britânicos tiveram que se apresentar em Estrasburgo (de 751), incluindo Nigel Farage. Seu Partido do Brexit, com 29 eleitos, é o partido nacional com a maior delegação.
Em teoria, o novo Parlamento teria apenas 705 assentos. Os 27 assentos britânicos deveriam ter sido distribuídos para outros países, enquanto os outros 46 seriam reservados para possíveis novos alargamentos da UE.
O adiamento do divórcio mudou a situação e criou uma situação sem precedentes: os britânicos ocuparão seus assentos temporariamente, até que o Brexit se materialize. E 27 pessoas eleitas no final de maio (incluindo cinco na França, três na Itália e cinco na Espanha) serão “reservistas” nesse meio tempo.
“Nós não deveríamos estar aqui, mas na verdade eu não estou particularmente irritado com a UE ou com Michel Barnier”, o principal negociador europeu do Brexit, “eles fizeram o seu trabalho”, disse Farage.
“É a classe política britânica que decepcionou seu povo”, acrescentou ele, antes de retornar a seu lugar no hemiciclo.
Outras autoridades eleitas britânicas, membros do Renew Europe, juntamente com macronistas franceses, exibiam camisetas amarelas com a mensagem: “Stop Brexit”.
Fonte: G1
Créditos: G1