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De maior poluidor, China quer liderar investimentos em energia limpa

Não é apenas a poluição que está colocando a energia renovável em foco. Os líderes deixaram claro que veem a energia limpa como uma oportunidade poderosa para a criação de empregos.

Na primeira vez que estive na China, chamou-me bastante atenção a qualidade do ar que pairava sobre a cidade de Pequim. Podia-se ver um ar rarefeito, nebuloso de sujeira, amarelado e cinzento. Era a poluição. Poucos saíam às ruas sem máscaras protetoras.

Andar e respirar pela cidade me deixava, às vezes, tonta. E sempre muito enjoada.

Em Hong Kong, a situação é um pouco melhor que na China continental, mas também sinto muito os efeitos da poluição.

Nesse domingo (18/2), comemoramos o Ano-Novo Chinês fazendo trilha em uma das inúmeras montanhas da ilha de Hong Kong. Aproveitamos o feriado em que todas as indústrias da China continental iriam ser desligadas e, então, seria certo que o ar estaria muito mais puro do que normalmente é.

A impressão geral de todos é que a poluição aqui passou do limite e ninguém mais aguenta. A China ultrapassou os Estados Unidos, há uma década, como o maior emissor de gases de efeito estufa do mundo e, agora, descarrega cerca de duas vezes mais poluentes na atmosfera. Durante anos, suas indústrias de petróleo e carvão prosperaram graças aos poderosos políticos, e o mantra do “crescimento acima de tudo” do Partido Comunista foi dominante.

Acontece que a conta chegou com dados alarmantes, não só no ar, mas nos rios e no solo. Foi então que o país anunciou: vai investir 2,5 mil milhões de yuans (US$ 360 bilhões) em projetos de energia renovável até 2030, valor que coloca a nação como uma das maiores investidoras em energias limpas.

A ideia é investir na produção de energias naturais como as eólica, solar, hidrelétrica e geotérmica. Hoje, mais de 80% da energia consumida pelo mundo provêm de combustíveis fósseis, gerando muita emissão de gases poluentes.

A energia renovável tem inúmeros benefícios: não emite gases maléficos, diminui os índices de poluição do ar de forma considerável, é fonte inesgotável (afinal, usa recursos renováveis) e é extremamente barata em termos de custos, sendo que os preços tendem a ser sempre estáveis.

A desvantagem é a dificuldade em gerar energia na mesma escala do que a advinda de combustíveis fósseis, e há os danos ecológicos e ambientais em se montar hidrelétricas. Além disso, as fontes solar e eólica apenas geram energia quando há sol ou vento, sendo, portanto, desafiadora a produção energética por meio dessas tecnologias. Mas elas são interessantes e se constituem em uma esperança como solução para o problema global de produção de energia.

Outra medida importante será restringir o uso de veículos poluentes, substituindo-os por automóveis elétricos. É notável a quantidade de modelos Tesla aqui em Hong Kong, sendo um dos motivos o incentivo fiscal do governo. Até 2025, a China espera ter sua frota constituída 100% por carros elétricos.

Reprodução

O arquiteto italiano Stefano Boeri, famoso por cobrir de plantas diversos arranha-céus pelo mundo, apresentou um projeto interessante para a China. A ideia é criar “cidades florestais” inteiras, em um país que se tornou sinônimo de degradação ambiental e poluição atmosférica.

Boeri descreveu seu conceito de “floresta vertical” como o equivalente arquitetônico de um enxerto de pele, uma intervenção direcionada, destinada a trazer nova vida às cidades urbanas poluídas do país. Seu jardim vertical em Milão suga 25 toneladas de dióxido de carbono do ar a cada ano e produz cerca de 60kg de oxigênio por dia.

O arquiteto milanês disse que sua ideia era criar uma série de minicidades sustentáveis ​​que poderiam fornecer um roteiro verde para o futuro da China urbana.

Não é apenas a poluição que está colocando a energia renovável em foco. Os líderes deixaram claro que veem a energia limpa como uma oportunidade poderosa para a criação de empregos.

Seja qual for a motivação, os esforços em prol da energia limpa já são claros. As nações mais ricas, que uma vez usaram a China como desculpa para sua própria inércia, agora estão observando o país se tornar um líder global no tema.

São medidas necessárias, que devolvem a esperança de bilhões de pessoas e servem também como exemplo para que todos os outros países do mundo, inclusive o Brasil, tomem providências.

Fonte: Metrópoles
Créditos: Bela Lima