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CRÍTICA A BOLSONARO: pôster de show de banda americana mostra família de palhaços armados e favela em chamas

 

Uma família de palhaços veste camisas que remetem à seleção brasileira, mas, no lugar do brasão da CBF, há uma cruz. Eles se entreolham e sorriem. O filho mais novo admira seu rifle como se fosse um brinquedo, enquanto o mais velho, também portando uma arma, olha para os pais e comenta, orgulhoso, que “ama o cheiro de pobres mortos pela manhã”. Enquanto isso, uma favela arde em chamas ao fundo.

A ilustração do pôster de divulgação da turnê da banda de punk rock americana Dead Kennedys, no Brasil, rapidamente viralizou nas redes como uma crítica ao governo Bolsonaro e alcançou os trending topics (assuntos mais comentados) do Twitter no país. Mas o artista por trás dela, o alagoano Cristiano Suarez, de 32 anos, explica que sua intenção não era apenas criticar um presidente ou um partido político, mas sim a “classe média armamentista e conservadora que o elegeu”.

“Eu não estou apontando o dedo necessariamente para o presidente, mas sim para a sociedade, que é uma preocupação muito maior”, afirma Cristiano: “A família de palhaços é um estereótipo que já existia muito antes do Bolsonaro se tornar candidato à Presidência”.

Em entrevista ao DIA, o artista, que diz estar “assustado com a repercussão” do pôster, comentou a real intenção por trás dos símbolos que compõem o desenho.

Bozo

Uma das razões que levou a ilustração a ser apontada como uma crítica direta ao presidente da República é o fato de que o pai da família está vestido como o palhaço Bozo, uma das formas que a oposição usa para se referir a Bolsonaro. Cristiano explica, contudo, que essa é uma referência direta a uma música da banda, da qual é fã desde a adolescência:

“Muitas referências que estão aí apenas os fãs de Dead Kennedys vão perceber. No caso do Bozo, é uma referência à música Rambozo the Clown”.

A música é uma brincadeira com dois ícones da cultura americana – Rambo e Bozo – e também uma crítica irônica sobre como a guerra foi banalizada. “A guerra é divertida”, ela diz em determinado momento. “Qualquer criança pode conquistar a Líbia, basta roubar um avião de caça”, diz outro verso. A música faz parte do álbum “Bedtime for Democracy”, lançado no fim dos anos 80 como uma crítica direta ao governo Ronald Reagan.

Cristiano explica que tentou usar, na sua ilustração, a mesma ironia presente nas letras do Dead Kennedys.

Cruz estampada na camisa

O artista afirma que a cruz estampada na camisa verde e amarela não é uma crítica a nenhuma religião, mas sim “à mentalidade conservadora do brasileiro que pensa que tradição, propriedade e família estão acima de tudo”.

Armas e tanques

São uma crítica à “classe média que acha que bandido bom é bandido morto, quando na verdade a gente precisa de educação, e não de mais tanques na rua”. “O brasileiro quer ter uma arma a todo custo, como se ter uma arma fosse a solução de todos os problemas”, completa.

Símbolo fascista

A família de palhaços está usando uma braçadeira com o Sigma, um símbolo do movimento integralista brasileiro, criado na década de 30 com inspirações no fascismo italiano. “Foi só uma cutucada relacionada à simpatia dessa classe média com o fascismo”, conta o alagoano.

Frase em inglês

A frase dita pelo filho mais velho é, ao mesmo tempo, uma referência a uma música do Dead Kennedys, chamada “Kill the poor” (“mate os pobres”, uma ironia sobre a sociedade americana de classe média alta, que não se importa com pessoas mais pobres), uma referência ao filme Apocalipse Now (em que um personagem diz “I love the smell of napalm in the morning!”) e uma crítica ao desejo exacerbado da classe média brasileira de falar inglês. “A frase está escrita propositalmente errado”, explica Cristiano. O correto seria “dead poor people”, e não “poor dead”.

Bandeira com cifrão

Já a bandeira que sai dos tanques de guerra na parte inferior da ilustração, com um cifrão, é uma crítica à “relação do dinheiro com a cultura armamentista e aos lobbys de arma no Congresso”.

A capa da divulgação da turnê do Dead Kennedys no Brasil não é o primeiro trabalho de Cristiano Suarez, que também é publicitário e já foi apontado como um dos 200 melhores ilustradores de 2018/2019 pela “Lürzer’s Archive”, revista especializada em publicidade. Suarez já fez ilustrações para bandas nacionais e internacionais, como Pennywise, Ratos de Porão, Natiruts e Dwarves.

Fonte: Meia Hora
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