O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a chamar a atenção para a situação da pandemia de coronavírus no Brasil. Dois dias depois de falar que há um surto grave no País, Trump disse que o número de mortes no Brasil está “muito alto” e em trajetória vertical.
Foi a terceira vez nos últimos três dias que o americano, tido pelo governo Bolsonaro como principal aliado no cenário político internacional, falou de forma espontânea sobre o avanço do vírus no País. Desta vez, Trump relacionou a situação do Brasil com a da Suécia, um país que o americano já disse estar pagando um “preço alto” por não impor isolamento como outros europeus.
“Você compara as mortes na Suécia com a Dinamarca, Finlândia e Noruega. Você sabe, eu odeio ter que dizer isso, mas as mortes estão substancialmente muito altas na Suécia (…). No Brasil está muito alto. Se você olhar o que está acontecendo graficamente, é muito, muito alto, é quase vertical, não é Debora (Birx)? Muito vertical”, disse Trump sobre as mortes no Brasil.
O presidente usou a expressão “straight up”, que em tradução significa “direto” ou “em linha reta”, o que sugere que ele se refere a uma trajetória vertical no número de mortes do País.
“O presidente do Brasil é um amigo meu, um bom homem, mas eles estão tendo um momento difícil, estão indo por (imunidade de) rebanho, a Suécia está indo por rebanho. Quando dizem rebanho, na Suécia em particular, você pode ir aos bares, a certos lugares, muita gente diz que o primeiro-ministro não precisa dizer ‘fique nos seus apartamentos’, as pessoas estão ficando, não estão saindo (…) mas o número de mortes é enorme na Suécia, comparado aos países ao redor que fizeram paralisações fortes. É uma grande diferença”, disse o presidente americano.
Trump criticou a Suécia no Twitter por não impor medidas de isolamento rígidas como a de vizinhos. “Apesar dos relatos em contrário, a Suécia está pagando muito por sua decisão de não fazer bloqueios. Atualmente, 2.462 pessoas morreram lá, um número muito maior do que os países vizinhos da Noruega (207), Finlândia (206) ou Dinamarca (443). Os Estados Unidos tomaram a decisão correta!”, escreveu Trump na rede social.
Nos últimos meses, Trump tem sido questionado por jornalistas sobre a posição de Jair Bolsonaro, de quem é um aliado, na pandemia. O americano evita críticas a Bolsonaro, que internacionalmente tem sido apontado por analistas e imprensa estrangeira como um dos piores líderes na condução da resposta à crise.
Desde terça-feira, o tom do americano é diferente com relação ao Brasil e ele vem demonstrando que as informações que recebe sobre o País não são positivas, sem aprofundar de qualquer forma sua avaliação sobre a situação brasileira.
Os EUA são, no momento, o epicentro mundial da pandemia, com mais de 1 milhão de casos confirmados e 60 mil mortes. Como Bolsonaro, Trump demorou a articular em nível federal uma resposta à crise, deixando a condução das medidas de isolamento inicialmente para os governadores. No dia 16 de março, no entanto, o presidente americano passou a defender o plano de diretrizes federais para fechamento de comércio, escolas e distanciamento social.
Na terça-feira, Trump perguntou ao governador da Flórida, Ron DeSantis, se ele desejava “cortar” os voos vindos do Brasil para ajudar a conter o coronavírus. “Não necessariamente”, disse o governador. “Se você precisar, nos avise”, disse Trump ao governador, sugerindo que pode interromper voos vindos do Brasil se for o caso.
Depois disso, o governo brasileiro fez movimentos de bastidores para desfazer dentro do governo dos EUA uma possível má impressão sobre a situação da pandemia e evitar o bloqueio de voos. A Embaixada do Brasil em Washington enviou uma carta ao governo da Flórida e fez contatos com a Casa Branca e com o Conselho de Segurança Nacional. O Secretário de Estado americano, Mike Pompeo, também esfriou a temperatura na relação com o Brasil e falou inclusive em aumentar o número de voos.
No dia seguinte, Trump disse que o Brasil “passa por um momento difícil” ao falar com líderes empresariais na Casa Branca e, nesta quinta-feira, fez a relação com a Suécia.
Para o cientista político e pesquisador da Universidade de Harvard Hussein Kalout, o tom de Trump ao se referir ao Brasil mostra que o País não é uma prioridade estratégica para os EUA. “Se o Brasil fosse de fato um país que fosse parte da primeira página das prioridades americanas, Trump não teria dito isso. A dimensão do olhar dele para o Brasil não opera na mesma frequência que o Brasil olha para o norte do Hemisfério Norte”, afirma Kalout.
Fonte: Terra
Créditos: Terra