O rapper e influente podcaster americano, Joe Budden, chamou o filme “Coringa” de “O Pantera Negra dos brancos”.
No Chile em chamas, uma revolta de brancos, da classe média decepcionada com as promessas do neoliberalismo, monumentos e muros da cidade amanheceram pichados com frases do filme de Todd Phillips. Como esse, onde foi escrita a frase “We are all Clowns”, traduzindo “Nós somos todos palhaços”.
Nas manifestações de hoje, o estudante Mati Rosas, codinome @theveredix , foi a grande atração do dia, vestido e maquiado inteiro de “O Coringa”.
O perfil da rede Cinemark chilena também não se fez por rogado e também tirou uma casquinha dos protestos.
Arte de fãs chilenos já elegeram o personagem Hollywoodiano para representá-los na mesa de negociações com o presidente Sebastián Piñera.
As manifestações no Chile diferem em muito da recente revolta no Equador. Embora a revolta seja com o modelo neoliberal que teima-se em impor à América Latina (sem levar em conta as particularidades de um continente único no planeta), no Equador foram os índios, os nativos, os de pela escura que se insurgiram contra o sistema. Principalmente mulheres indígenas. A força ancestral da mulher de cor.
No Chile até as pichações são em inglês. Até redes multinacionais de exibidoras de filmes blockbusters lucram com o negócio.
“O Coringa” é considerado um filme que estuda um personagem desvalido, que apanha da vida, do estado, do sistema, não aguenta, enlouquece e se torna um assassino. Os realizadores juram que não, mas tudo na obra nos manipula para que tenhamos empatia com o personagem. O “coitado do branco”.
Essa obsessão em sequestrar, silenciar o martírio de pretos, de mulheres, e tornar o homem branco o centro de tudo, até das injustiças do mundo.
O personagem interpretado por Joaquim Phoenix, que imita (bem), seu próprio trabalho no excelente “O Mestre”, de Paul Thomas Anderson, 2012, não aquentaria 20 minutos na pele de Claireece “Precious” Jones, personagem principal de “Preciosa- uma história de esperança”, filme consagrado com inúmeras indicações ao Oscar de 2011.
A personagem interpretada de forma soberba pela jovem Gabourey Sidibe sofre de tudo que o Coringa sofre, só que em dobro. Mas sua mente é forte.
A força ancestral da mulher de cor.
No Chile, maior produtor de cobre do mundo, há décadas o povo de suas periferias vem sendo explorado. São homens e mulheres que trabalham no processo sob condições desumanas.
Vamos torcer para que os manifestantes bilíngues chilenos (quando manifestações são também em inglês, é sinal de que não há povo da periferia nelas) lembrem-se deles também em suas exigências.
Ou se estão só de brincadeira, defendendo os privilégios de sua cor e classe.
Fonte: Folha de S. Paulo
Créditos: Folha de S. Paulo