Depressão

Como a morte de um ídolo do K-Pop expõe a realidade da vida sob os holofotes da fama

A morte repentina de um dos maiores pop stars da Coreia do Sul chama a atenção para a realidade dolorosa de como a fama pode custar caro à saúde mental.

Kim Jong-hyun, vocalista da boy band SHINee, sofria de depressão.

A morte repentina de um dos maiores pop stars da Coreia do Sul chama a atenção para a realidade dolorosa de como a fama pode custar caro à saúde mental.

Kim Jong-hyun, 27 anos, conhecido por seu nome artístico Jonghyun, era o vocalista da popular boy band de k-pop (pop sul-coreano) SHINee. Na noite da última segunda-feira (18) ele foi encontrado inconsciente em um apartamento em Seul e levado às pressas a um hospital, onde foi declarado morto.

Investigadores disseram que o cantor aparentemente morreu por ter inalado vapores tóxicos. A polícia divulgou comunicado oficial na terça-feira dizendo que se tratou de suicídio.

Um dia após a morte do cantor, um amigo íntimo de Jonghyun, Nine9, membro do grupo de k-pop Dear Cloud, compartilhou uma carta de despedida escrita por Jonghyun.

A carta teria sido entregue a Nine9 duas semanas antes da morte de Jonghyun e revela detalhes dolorosos da luta deste contra a depressão.

(Eles usaram uma foto tão linda, é assim que resolvi me lembrar de você, sorrindo)

 “Eu estava quebrado por dentro”, ele escreveu. “Sofri e me angustiei por isso. Nunca aprendi a transformar essa dor em felicidade. A depressão que me estava devorando aos poucos acabou por me consumir.”

Jonghyun também escreveu sobre a pressão de ser uma celebridade. “A vida da fama não foi feita para mim”, ele disse. “Todo o mundo só vive, só porque. Se você perguntar por que as pessoas morrem, provavelmente dirão que é porque estão exaustas.”

A indústria de entretenimento sul-coreana é conhecida por sua cultura de trabalho incessante, com alto nível de pressão, segundo a “Variety”. Devido às exigências mentais e físicas excessivas impostas às celebridades sul-coreanas, muitas figuras famosas já puseram fim à própria vida. Foi o caso do cantor Seo Ji-won, que morreu em 1994 aos 19 anos, e da atriz e cantora U’Nee, que faleceu aos 26 anos, em 2007.

A “Variety” observou que muitas celebridades sul-coreanas que se suicidaram deixaram cartas semelhantes criticando a pressão intensa exercida pelo setor do entretenimento no país e detalhando seus esforços para combater a depressão.

Alguns fãs esperam que a morte repentina de Jonghyun sirva como aviso não apenas à indústria do entretenimento, mas a todo o país, que precisa começar a encarar abertamente o problema da saúde mental.

(Descanse em paz Jonghyun do SHINee. Vou à Coreia com frequência e a depressão não é um tópico muito comentado. Terapia é quase um tabu devido à atitude nacional de “supere isso e bola para frente”. Espero que isso sirva de alerta a toda a indústria de lá.)

 (Eu não o conhecia pessoalmente, mas meus pensamentos e orações vão para Jonghyun e seus familiares/amigos. Espero também que isso chame a atenção para o fato de que a saúde mental é tão importante quanto a física. Se você ou alguém à sua volta precisa de ajuda, procure ajuda! Vamos disseminar o amor!)

“Não existe saúde mental na Coreia do Sul”, disse este ano o profissional de saúde mental Jin-Hee, americano de origem coreana, falando à organização Forefront Suicide Prevention.

“Se a pessoa tem um problema de saúde mental, ela é vista como sendo ‘fraca’. Pessoas com problemas de saúde mental são vistas como ‘malucas’ e se considera que elas precisam superar o problema, e pronto.”

Isso se evidencia no caso de Jonghyun, cuja carta de despedida menciona que seu médico atribuiu sua incapacidade de superar a depressão à sua personalidade, o que levou a pensar que ele não foi feito para viver a vida sob os holofotes da mídia.

Outros fãs esperam que, além de chamar a atenção para a saúde mental, a morte de Jonghyun lembre às pessoas que os astros do k-pop (e as celebridades em geral) também são humanos.

Entenda a morte de Kim Jong-hyun

O cantor sul-coreano Kim Jong-Hyun, mais conhecido como Jonghyun, vocalista do popular grupo , foi encontrado morto pelas autoridades do país nesta segunda-feira, 18. A polícia de Seul confirmou a morte do cantor e a suspeita inicial é que tenha sido suicídio.

 “No dia 18 de dezembro de 2017, às 16h42 (hora local), a irmã mais velha de Jonghyun ligou para o número de emergência da polícia avisando que ele estava prestes a cometer suicídio”, disse a polícia de Seul em comunicado, informa o o Mirror. “Nós fomos para sua residência em Chungdam e descobrimos que ele havia tentado o suicídio. Paramédicos estavam conosco o tempo todo e ele foi enviado para o hospital da Universidade de Konkuk em estado de parada cardíaca”, concluiu a polícia.
A agência Yonhap News afirma que Jonghyun morreu a caminho do hospital em decorrência de envenenamento por monóxido de carbono e que o vocalista deixou uma nota de suicídio. O que levou Jonghyun a tirar a própria vida ainda é desconhecido, mas a imprensa sul-coreana afirma que ele vinha sendo fortemente criticado por grupos ultraconservadores nos últimos dias após declarar apoio ao movimento LGBT.

A morte precoce de Jonghyun causou consternação em fãs do grupo e do k-pop no Twitter.

Leia, na íntegra, a carta de despedida de Kim Jong-hyun:

“Estou quebrado por dentro.

A depressão que me devorou ​​lentamente acabou me devorando.

Não pude superá-la.

Eu odiava a mim mesmo. Eu resolvi aguentar as lembranças e gritava para mim mesmo para perceber meus sentidos, mas não havia resposta.

Se não há como aliviar a respiração sufocante, é melhor simplesmente parar.

Perguntei quem pode ser responsável por mim.

É só você mesmo.

Eu estava completamente sozinho.

É fácil dizer que você vai acabar com as coisas.

É difícil terminar as coisas.

Eu vivi com essa dificuldade durante todo esse tempo.

Você me disse que queria fugir.

Está certo. Eu queria escapar.

De mim.

De você.

Você perguntou quem estava lá. Eu disse que era eu. Eu disse que era eu de novo. E eu disse que era eu de novo.

Perguntei por que continuo esquecendo minhas lembranças. Você me disse que era por minha personalidade. Entendo. Vejo que tudo é minha culpa no final.

Eu esperava que as pessoas percebessem, mas ninguém sabia. Você nunca me conheceu, é claro que você não saberia que eu estava lá.

Você perguntou por que eu vivo. Só porque. Só porque. Todos simplesmente vivem apenas porque.

Se você perguntar por que as pessoas morrem, provavelmente dirão que é porque estão esgotadas.

Eu sofri e agonizei. Nunca aprendi a transformar essa dor em felicidade.

A dor é apenas a dor.

Tentei me empurrar além dela.

Por quê? Por que estou me impedindo de acabar com isso?

Me disseram para procurar o motivo por que dói.

Eu sei muito bem. Estou me machucando por causa de mim. É tudo culpa minha, porque nasci desse jeito.

Doutor, é isso que você queria ouvir?

Não. Não fiz nada de errado.

Quando você me disse com aquela voz calma que é por causa da minha personalidade, pensei o quão fácil era ser um médico.

É quase fascinante o quanto isso dói muito. As pessoas que sofrem mais que eu parecem se dar bem. As pessoas mais fracas do que eu se dão bem. Mas isso não deve ser verdade. Entre as pessoas neste mundo, ninguém sofre mais do que eu e ninguém é mais fraco do que eu.

Mas eu ainda tentei viver.

Perguntei-me por que eu tinha que fazê-lo por centenas de vezes e nunca foi por mim. Era para você.

Eu queria fazer algo por mim.

Por favor, deixe de me dizer coisas que você não entende.

Você me diz para descobrir porquê estou tendo dificuldade. Eu disse várias vezes o porquê. Não posso estar tão triste por essas razões? Tem que ser mais específico e dramático? Preciso ter melhores razões?

Eu já te disse. Você estava mesmo ouvindo? As coisas que você pode superar não permanecem como cicatrizes.

Acho que não queria enfrentar o mundo.

Eu acho que não deveria ter uma vida ao alcance do público.

Por isso foi difícil. Enfrentando o mundo e estar no olho do público. Por que eu tomei essas decisões? É ridículo.

É ótimo que eu até fiz isso até agora.

O que mais posso dizer? Apenas me diga que eu fiz bem.

Diga-me que eu fiz o suficiente e que eu passei por muitas coisas.

Mesmo se você não pode sorrir enquanto me vê indo embora, não diga que foi minha culpa.

Você fez bem.

Você realmente passou por muito.

Adeus.”

 

Fonte: Huffpost Brasil
Créditos: Huffpost Brasil