Manifestantes foram às ruas das cidades do Irã nesta segunda-feira (13) pelo terceiro dia consecutivo para protestar contra o fato de as autoridades do país terem mentido, durante três dias, sobre a queda de um avião civil, que aconteceu em meio a um conflito com os Estados Unidos.
Vídeos mostram o batalhão de choque e os manifestantes de novo nas ruas nesta segunda-feira (13). Em imagens de protestos anteriores, se veem pessoas cantando slogans contra o líder supremo do país, poças de sangue nas ruas e disparos de tiros.
As autoridades negaram que a polícia tenha atirado. O presidente dos EUA, Donald Trump, foi a uma rede social e escreveu uma mensagem em que dizia para que o Irã não matasse os manifestantes.
O governo iraniano admitiu que na quarta-feira (8) derrubou um avião de uma companhia aérea da Ucrânia e matou 176 pessoas, horas depois de ter disparado mísseis contra bases dos EUA no Iraque, como retaliação pela morte de seu general mais importante, Qassem Soleimani.
O descontentamento no Irã eclodiu nas ruas depois de três dias em que o governo negou repetidamente que tinha culpa na queda do avião. Quando os militares admitiram que eles mesmos haviam derrubado a aeronave, no sábado (11), começaram as manifestações.
Vídeos publicados em redes sociais no domingo (12) à noite mostram tiros na região da praça de Azadi, em Teerã.
Pessoas feridas foram carregadas, e encarregados de segurança foram vistos com rifles. Outras publicações mostram o batalhão de choque atacando manifestantes com cassetetes, enquanto as pessoas por perto gritam para que eles não façam isso.
Entre os vídeos que circulam nas redes sociais, há alguns que mostram manifestantes gritando “morte ao ditador”, em uma referência ao aitolá Ali Khamenei.
“Eles mataram as nossas elites e os substituíram com clérigos”, cantam as pessoas em protestos do lado de fora de uma universidade nesta segunda-feira (13), em uma aparente referência aos estudantes que voltavam para o Canadá que morreram no voo da companhia aérea ucraniana.
A Reuters não conseguiu verificar a autenticidade dessas gravações. A mídia iraniana ligada ao governo relatou as manifestações no sábado (11) e domingo (12), sem dar detalhes.
Confronto entre polícia e manifestantes
“Nos protestos, a polícia absolutamente não atirou, porque os policiais da capital receberam ordens para se conter”, disse Hossein Rahimi, chefe da força policial de Teerã, em uma transmissão na internet.
O último confronto do Irã com os EUA acontece em um momento difícil para as autoridades do país do Oriente Médio: as sanções impostas pelo governo de Trump causaram danos na economia.
As autoridades do país mataram centenas de pessoas durante protestos em novembro de 2019 –foi a repressão mais agressiva desde a revolução de 1979.
No Iraque e no Líbano, países que têm grupos armados por Teerã, também tiveram meses de manifestações hostis.
O presidente Trump publicou em uma rede social um texto do conselheiro de Segurança Nacional, Robert O’Brien, que disse que as sanções sufocaram o Irã, e vai forçar o país a negociar.
“Na verdade, eu não me importo se eles negociarem. Ficará a cargo deles, mas sem armas nucleares, e não matem os manifestantes”, ele escreveu.
Um porta-voz do governo do Irã disse que os iranianos sofrem justamente por causa das ações de Donald Trump, e que eles vão lembrar que foi o americano que ordenou o ataque por drone que matou o general Qassem Soleimani no dia 3 de janeiro.
Retaliação das duas partes
O confronto entre os EUA e o Irã piorou com a saída, por parte dos americanos, do acordo nuclear, em 2018.
Esse era um entendimento que envolvia, além desses dois países, Rússia, China, Reino Unido, França, Alemanha. Por ele, o Irã foi mais integrado à economia global, mas precisou impor limites ao seu programa nuclear.
Trump não gostava do acordo, ele queria restrições maiores ao Irã.
O Irã disse, repetidas vezes, que não vai negociar enquanto houver sanções dos EUA. O país nega que busca ter armas nucleares.
O conflito aumentou em dezembro, quando foram disparados foguetes contra bases dos EUA no Iraque –um civil americano contratado pelo governo morreu.
Para o governo de Trump, os responsáveis por isso foram milícias apoiadas pelo Irã.
Os americanos, então, iniciaram ataques aéreos que mataram ao menos 25 pessoas no Iraque.
A resposta das milícias foi invadir a área da embaixada dos EUA em Bagdá por dois dias. Foi então que Trump ordenou a morte de Qassem Soleimani, que era o responsável pela rede de milícias aliadas do Irã em outros países do Oriente Médio.
O Irã retaliou na quarta-feira (8), disparando mísseis em bases dos americanos no Iraque, mas não matou nenhuma pessoa. O avião ucraniano, que estava a caminho de Kiev, caiu horas depois.
A maioria dos mortos eram iranianos ou então pessoas com dupla cidadania –havia dezenas de canadenses.
Depois de negar responsabilidade por três dias, os comandantes da Guarda Revolucionária admitiram que tinham sido eles que derrubaram a aeronave –um erro desastroso, afirmaram.
Um comandante disse que as autoridades sabiam desde o primeiro momento que o avião foi derrubado, e os iranianos se perguntam por que o governo negou esse fato durante três dias.
No Canadá, foram feitas vigílias. O primeiro-ministro Justin Trudeau disse, em um evento, que eles não vão descansar enquanto não tiverem respostas.
O Conselho de Segurança de Transporte do Canadá obteve vistos para dois de seus investigadores irem ao Irã.
Reino Unido convoca embaixador do Irã
O embaixador do Irã no Reino Unido, Hamid Baeidinejad, foi convocado pelo Ministério das Relações Exteriores britânico nesta segunda-feira (13).
No sábado (11), Robert Macaire, representante diplomático do Reino Unido em Teerã, foi detido pela polícia. Ele esteve presente em um ato público para prestar homenagem às vítimas do avião ucraniano que morreram em consequência do disparo do míssil por parte do exército do Irã.
Em um comunicado oficial do governo britânico, explica-se que a convocação do diplomata iraniano acontece por causa da “inaceitável detenção” de Macaire.
Fonte: G1
Créditos: G1