A China afirmou que deve abrir mão da taxa de 25% cobrada sobre a soja e a carne de porco vendidas pelos Estados Unidos, em meio às negociações para pôr fim à guerra comercial entre os dois gigantes. Essa decisão pode influenciar bastante o preço da carne suína e também bovina aqui no Brasil.
Para economistas, o retorno de um grande concorrente global —no caso, os EUA— pode desacelerar as exportações brasileiras para o país asiático, ainda que a guerra comercial China-EUA continue.
Exportações podem desacelerar e preço, cair
Com o fim da tarifa cobrada dos americanos, especialistas em economia internacional avaliam que as exportações dos Estados Unidos para a China devem aumentar, prejudicando as exportações brasileiras. Consequentemente, o preço da carne no Brasil pode cair. A carne bovina teve um aumento de 8%, em média, em novembro.
Não há como o retorno de uma oferta tão grande quanto a americana não ter impacto no preço geral. O preço internacional das carnes, tanto bovina quanto suína, deve cair e, claro, derrubar também os preços brasileiros, pois aumenta o excedente por aqui
Celso Grisi, professor da FEA-USP
“É uma diminuição [de preço] esperada”, disse Roberto Dumas, professor de Economia Chinesa no Insper São Paulo.
Além do movimento de recesso [de consumo] que já há no primeiro trimestre do ano, é a conhecida lei da oferta e demanda: se a oferta internacional vai aumentar, o preço tende a diminuir.
Roberto Dumas, professor de Economia Chinesa no Insper São Paulo.
Segundo Dumas, no entanto, isso não significa que as exportações brasileiras devem cair, mas desacelerar. “Elas só vão crescer menos. Vão continuar crescendo, mas não no ritmo atual —que é, de fato, muito alto”, afirmou.
Medida pode impactar mais a soja
Paulo Feldmann, professor de Economia da USP, afirmou que a medida pode afetar mais o mercado de soja do que o de carne, considerando o tamanho do mercado chinês e a competitividade da carne brasileira.
O mercado da China é muito bom e está crescendo. O chinês ainda come pouca carne na média –e é maluco pela carne brasileira, em especial a bovina. Dificilmente os Estados Unidos vão conseguir competir com a qualidade da nossa carne, seja porco, vaca ou frango.
Paulo Feldmann, professor de Economia da USP
Segundo ele, a soja americana, por outro lado, tem qualidade semelhante à brasileira, mas, sem tarifa, pode chegar mais barata ao mercado chinês por um motivo simples: a logística interna de cada país.
A soja brasileira sai da fazenda a um custo muito mais baixo [do que a americana], mas tem de ir até o porto –e, aí, o Brasil perde, e perde muito. Com a logística dos EUA, muito superior à nossa, a soja deles acaba ficando mais barata para exportar.
Paulo Feldmann, professor de Economia da USP
Isso é um complicador porque a soja é hoje o produto brasileiro mais importado pela China, responsável por 34% do total. Trata-se de um mercado de US$ 20 bilhões, entre janeiro e novembro deste ano.
Preço da carne não voltará ao patamar anterior
Por mais que a hipótese de queda no preço interno da carne se concretize, os economistas são unânimes ao afirmar que o preço do produto não deve voltar ao patamar anterior à alta, por causa do mercado externo.
O preço nunca mais deve voltar ao normal no Brasil. O mercado lá fora é muito bom para a carne brasileira. Todo mundo adora. A China só tende a aumentar e, agora, até a Índia, que não consumia, está subindo muito [o consumo]. Com o aquecimento internacional, aqui não vai abaixar tanto nunca.
Paulo Feldmann, professor de Economia da USP
“O preço [da carne no Brasil] subiu por dois motivos: consumo chinês e o período do ano em que a renda é maior. No início do ano que vem, deve ter aquele pequeno recesso, que pode acalmar a população brasileira, mas não retornará [o preço antigo]”, afirmou Dumas.
“Justo porque, quando uma peste [suína, doença que dizimou a população de porcos da China] destrói a produção, como houve na China, dificilmente se recupera em menos de cinco anos”, disse ele.
Fonte: Uol
Créditos: Uol