Cerca de 70.000 pessoas viviam em Bakhmut antes da Rússia invadir a Ucrânia no início de 2022. A batalha pelo controle da cidade oriental estourou no final do verão, quando as atenções ainda estavam na batalha de Kherson, no sul da Ucrânia. De lá para cá, o confronto protagonizou algumas das lutas mais ferozes de toda a invasão.
Desde o início, o combate tem se desenrolado com as forças ucranianas tentando conter o avanço dos militares do grupo Wagner, mercenários pró-Rússia, comandados pelo oligarca Yevgeny Prigozhin.
No mês de abril, a batalha completou 9 meses, sem um desfecho final. O exército ucraniano está cercado por três lados e, no momento, ocupa menos de 90% da cidade. As forças do Wagner estão sendo apoiadas pela artilharia do Exército e por paraquedistas russos.
No início deste ano, o Grupo Wagner chegou a anunciar a captura de Soledar, uma pequena cidade perto de Bakhmut. Cerca de duas semanas depois, a Ucrânia confirmou que seu exército havia realmente se retirado da cidade. Essa vitória permitiu que a Rússia direcionasse suas tropas para auxiliar o Wagner nos flancos da batalha.
Em um vídeo publicado no Telegram, Prigozhin afirmou que a bandeira russa havia sido hasteada sobre um prédio municipal de Bakhmut, e que a cidade havia sido finalmente capturada.
Kiev rejeitou a alegação como desinformação, e a declaração de Prigozhin também não foi confirmada pelo Ministério da Defesa da Rússia. A batalha por Bakhmut, portanto, ainda continua.
De modo geral, é quase impossível verificar de forma independente as alegações feitas pela Rússia e pela Ucrânia. É, no entanto, claro, que a estrutura de Bakhmut foi totalmente destruída nos últimos meses. Dos 70.000 residentes da cidade antes da guerra, acredita-se que apenas 3.000, ou menos que isso, ainda estejam na cidade.
Mas por que a Ucrânia não desiste de Bakhmut?
Estrategicamente, ela é importante devido à sua localização. Se a Rússia conseguir tomar a cidade, Putin vai direcionar suas tropas para cidades ucranianas mais a oeste, como Slovyansk e Kramatorsk, sendo esta última um importante centro industrial e administrativo. Essa conquista, por sua vez, levaria a Rússia a conquistar toda região de Donetsk.
O assessor de Zelensky, Mykhailo Podolyak, afirmou que a Ucrânia está lutando em Bakhmut porque o confronto está prendendo as melhores unidades da Rússia e enfraquecendo elas para tão aguardada contraofensiva.
No entanto, analistas militares criticaram essa postura, argumentando que seria mais sensato recuar para uma nova linha defensiva. Caso contrário, disse o analista ucraniano Oleg Zhdanov, os reservistas ucranianos necessários para a contraofensiva poderiam ser mortos.
O historiador militar Roman Ponomarenko também vê benefícios na retirada. “Se desistirmos de Bakhmut e retirarmos nossas tropas e equipamentos, nada de ruim acontecerá”, disse ele recentemente à mídia. “Se eles (a Rússia) cercarem totalmente (a cidade), perderemos homens e equipamentos.”
Konrad Muzyka, um analista militar polonês que visitou a área de Bakhmut com colegas em março, disse depois de sua viagem que achava que não fazia mais sentido militar manter a cidade.
“A decisão de defender Bakhmut agora é política, não militar”, disse Muzyka à Reuters, argumentando que a escala e os custos das perdas ucranianas superam os benefícios de manter a cidade do ponto de vista militar.
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E a Rússia? Por que ela insiste tanto em conquistar a cidade?
Bakhmut passaria a servir como um centro regional de transporte para logística das tropas, embora isso dependa de quanto de sua infraestrutura ainda esteja intacta.
E, além disso, seria um trampolim para a Rússia avançar em duas cidades maiores na região de Donetsk: Kramatorsk e Slovyansk, como citado, anteriormente.
Ambas estariam ao alcance da artilharia russa. Moscou precisa controlar as duas cidades para completar o que chama de “libertação” da “República Popular de Donetsk”.
Para CNN, o presidente Zelensky disse temer que as forças russas consigam “uma estrada aberta” para as duas cidades, caso tomem Bakhmut. Aliás, ele também esclareceu que sua ordem de mantê-la era uma decisão tática.
E se Bakhmut vier a cair
Para a Rússia, Bakhmut seria uma vitória moral no campo de batalha, após uma série de derrotas em 2022. Por sua vez, para a Ucrânia, a perda da cidade pode minar o moral, mesmo que – como dizem seus aliados – não faça muita diferença estratégica.
Tanto o chefe do Pentágono dos EUA, Lloyd Austin, quanto o chefe da aliança da Otan, Jens Stoltenberg, minimizaram a potencial queda de Bakhmut como simbólica.
Mas para demonstrar a importância de Bakhmut para o mundo, Zelensky presenteou o Congresso dos EUA com uma bandeira da batalha assinada pelos defensores da cidade quando ele visitou os Estados Unidos, em dezembro de 2022.
Defender a cidade ajuda a manter o apoio dos países ocidentais, provando que está fazendo a diferença, de acordo com Michael Kofman, especialista em militares russos do think-tank CNA, com sede nos Estados Unidos.
Porém, se a cidade cair, a Ucrânia pode se consolar com o fato de ter segurado as forças russas por todo esse tempo, mostrando que qualquer tentativa russa de tomar mais território será igualmente cara.
Fonte: Carlos Germano
Créditos: Carlos Germano