Baseado em um grande avanço controverso feito em 2017, cientistas anunciaram no sábado ter criado com sucesso o segundo híbrido de humano com um animal: embriões de ovelha que são 0,01% humanos de acordo com a contagem de células.
Os embriões, que não conseguiram se desenvolver após 28 dias, deixam os pesquisadores mais perto de talvez desenvolver órgãos humanos para transplante médico.
No Brasil, a lista nacional de transplantes conta com mais de 30 mil pacientes e, ano após ano, pelo menos 2 mil pessoas morrem à espera de um transplante. Nos Estados Unidos, mais de cem mil pessoas precisam de transplantes de coração anualmente, mas apenas cerca de 2 mil pessoas recebem um.
Em resposta, pesquisadores estão trabalhando para expandir o fornecimento de órgãos artificialmente. Alguns estão tentando imprimir órgãos em 3-D em laboratório. Outros estão trabalhando em órgãos artificiais e mecânicos. E alguns estão fazendo quimeras, híbridos de duas espécies diferentes, na esperança de criar órgãos humanos em porcos ou em ovelhas.
Mais e mais humanos
Para realizar o quimerismo genético, os pesquisadores isolam uma célula-tronco do animal, que pode se desenvolver em qualquer tipo de célula do corpo. Depois, eles injetam algumas células-tronco de uma espécie no embrião da outra, um procedimento complicado de se acertar.
Se o DNA do embrião for alterado de modo que ele não cresça em um órgão em particular, as células interligadas serão as únicas que poderão completar a lacuna. Dessa maneira, os pesquisadores podem desenvolver um fígado humano em um porco vivo, por exemplo.
Em 2017, pesquisadores usando esse método conseguiram, com sucesso, desenvolver pâncreas de camundongos em ratos e mostraram que transplantes usando pâncreas poderia curar a diabetes de um rato diabético. No dia seguinte, pesquisadores do Instituto Salk anunciaram que eles poderiam manter embriões de porcos injetados com células-tronco humanas vivos por 28 dias.
Especialistas em células-tronco elogiaram o estudo feito com humanos e porcos, mas eles observaram que a contagem de células humanas em embriões de porcos, por volta de uma em cem mil, era muito baixa para fazer transplantes de órgãos com sucesso.
No sábado, na reunião anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência, em Austin, no Texas, o pesquisador Pablo Ross, da Universidade da Califórnia em Davis, anunciou que ele e seus colegas ajustaram o procedimento: aumentaram a contagem de células humanas em embriões de ovelha para um em cada dez mil.
“Acreditamos que ainda não é o suficiente para fazer um órgão”, disse Ross durante uma conferência de imprensa. Cerca de 1% do embrião teria que ser humano para o transplante de órgão funcionar, segundo reportagem do jornal The Guardian. Para prevenir a rejeição imunológica, seriam necessárias medidas extras para assegurar que os pedaços extras de vírus do animal estejam presos pelo DNA do porco ou da ovelha. Mas o trabalho mostra um progresso em relação a mais órgãos viáveis.
Consequências éticas
Ross diz que a pesquisa poderia ser acelerada se fosse melhor financiada. Recentemente, os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos proibiram o financiamento público de híbridos de humanos e animais, embora tenham assinalado em 2016 que poderiam levantar a moratória. (Até agora, doadores privados financiaram as pesquisas iniciais.)
Enquanto o trabalho continua, o escrutínio ético com certeza irá se intensificar. Ross e seus colegas têm conhecimento da natureza controversa do trabalho, mas eles também dizem que estão avançando com cuidado.
“Até agora, a contribuição de células humanas é muito pequena. Não é nada parecido com um porco com um rosto humano ou um cérebro humano”, disse o pesquisador da Universidade Stanford Hiro Nakauchi, um colega de Ross. Nakauchi disse também que os pesquisadores estão tentando direcionar o lugar onde as células humanas se proliferam, para assegurar que elas não se instalem nos cérebros dos animais e nos órgãos reprodutores.
Ross vê as amplas abordagens para a pesquisa de órgãos com otimismo.
“Todas essas abordagens são controversas, e nenhuma delas é perfeita, mas elas oferecem esperança para as pessoas que estão morrendo diariamente”, ele disse. “Precisamos explorar todas as alternativas possíveis para fornecer órgãos para as pessoas doentes.”
Fonte: National Geographic Brasil
Créditos: National Geographic Brasil