O anúncio de que o presidente Donald Trump foi hospitalizado após testar positivo para Covid-19 acrescentou uma camada adicional de incerteza à complexa campanha eleitoral dos EUA.
Aos 74 anos e tecnicamente obeso, o presidente é considerado “grupo de risco” para a doença.
O coronavírus já causou a morte de mais de 200 mil pessoas nos Estados Unidos e, de acordo com o Centro de Controle e Diagnóstico de
Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês), 8 em cada 10 mortes relacionadas à Covid-19 naquele país correspondem a pessoas com mais de 65 anos de idade.
Trump foi levado ao hospital militar Walter Reed como uma medida de precaução, segundo a equipe médica. O presidente continua trabalhando de lá, segundo a Casa Branca.
A nova situação não afeta o exercício de suas funções de presidente, mas limita claramente sua possibilidade de participar de atos de campanha a cerca de um mês para a eleição.
Trump não é o primeiro presidente americano a ter problema de saúde durante seu governo. Veja, a seguir, quatro líderes que enfrentaram dificuldades em relação à saúde durante o mandato:
George Washington (1789-1797)
O primeiro presidente dos Estados Unidos sofreu vários problemas de saúde durante seu governo.
A primeira dessas doenças foi um tumor que surgiu em sua perna poucos meses depois de assumir o governo e que o presidente descreveu como “um tumor muito grande e doloroso”, que dificultava andar ou sentar.
O caroço foi removido cirurgicamente, e levou seis semanas para a ferida cicatrizar.
No ano seguinte, na primavera de 1790, George Washington teve gripe e pneumonia, o que afetou sua visão e audição. Em meados de maio daquele ano, os médicos disseram ter perdido a esperança de recuperação para o presidente. Mas, após começar a suar muito durante uma noite, ele se recuperou repentinamente e saiu de perigo.
Naquela época, com menos tratamentos disponíveis, as doenças de líderes eram percebidas como uma ameaça à estabilidade política do país.
“Particularmente antes do advento dos antibióticos, qualquer doença sofrida por um presidente, que provavelmente estava no estágio final de sua vida, era motivo de preocupação para o sistema político”, disse à BBC Mundo Russel Riley, co-diretor do programa de história oral da presidência do Centro Miller da Universidade de Virginia.
Woodrow Wilson (1913-1921)
Donald Trump não é o primeiro presidente dos Estados Unidos a adoecer devido a uma pandemia.
Em abril de 1919, o presidente Woodrow Wilson contraiu a chamada gripe espanhola enquanto negociava, em Paris, o Tratado de Versalhes para encerrar a Primeira Guerra Mundial.
Na capital francesa, o presidente teve febre alta e ataques violentos de tosse que quase o deixaram sem fôlego. Ele estava tão debilitado que não conseguia nem mesmo se sentar na cama.
Wilson decidiu então não divulgar claramente o que estava acontecendo, e o médico pessoal do presidente, Cary T. Grayson, disse à imprensa que Wilson havia pegado um resfriado devido às chuvas em Paris.
Enquanto Wilson se recuperava, a representação dos EUA nas negociações estava nas mãos de outros altos funcionários.
Durante sua convalescença, houve algumas mudanças no comportamento do presidente que levaram alguns especialistas a sugerir que, em vez da gripe espanhola, ele poderia ter sofrido um derrame.
No entanto, o historiador John Barry, autor de um livro sobre essa pandemia, destaca que seus sintomas coincidiram perfeitamente.
O presidente acabou recuperando a saúde, mas poucos meses depois sofreu um derrame que o deixou parcialmente incapacitado até o final de seu mandato em 1921.
E a Casa Branca tentou novamente manter em segredo a gravidade da situação do presidente.
Embora Grayson tenha informado o gabinete sobre a situação, o médico se recusou a assinar um atestado de incapacidade que abriria caminho para a substituição de Wilson no poder e, além disso, recomendou não informar aos cidadãos sobre a extensão do problema de saúde do presidente.
Foi assim que, limitado em suas capacidades e aparentemente com muito apoio de sua esposa Edith, Wilson encerrou seu mandato em 1921.
Riley aponta que, embora os cidadãos estivessem cientes de que Wilson estava doente, poucas pessoas poderiam realmente saber a extensão.
“Quase ninguém, além de seus médicos e sua esposa, sabia realmente o quão incapacitado ele esteve. Poucas pessoas podiam vê-lo. Na verdade, algumas pessoas já disseram que, por causa dessa situação, foi a esposa de Wilson que realmente exerceu a presidência por boa parte desse período”, diz Riley.
Dwight Eisenhower (1953-1961)
Dois anos depois de chegar à Casa Branca, o general Dwight Eisenhower sofreu um sério ataque cardíaco.
No entanto, as autoridades informaram inicialmente à imprensa que o presidente teve “um problema digestivo durante a noite”.
Segundo o historiador Robert Gilbert, o próprio Einsehower se encarregou de minimizar o impacto do ocorrido, “manipulando sua equipe médica, protegendo sua imagem, confundindo a imprensa, manipulando seus assessores, dominando seu partido e fazendo uma campanha quase impossível de ser combatida pela oposição”.
O resultado? Apesar de o conselho médico ter indicado que ele não deveria buscar um segundo mandato, Einsenhower concorreu e venceu novamente.
Em 1956, o presidente foi diagnosticado com a doença de Crohn, que causa inflamação do trato digestivo, pode ser dolorosa e, às vezes, fatal.
A doença foi superada com um procedimento cirúrgico.
Em novembro de 1957, Einsehower sofreu um derrame durante uma reunião ministerial que o deixou temporariamente incapaz de falar ou mover a mão esquerda. Sua recuperação completa só ocorreu em março de 1958.
Apesar desses problemas de saúde, Einsenhower conseguiu continuar governando até o final de seu segundo mandato, em 1961.
Segundo Riley, a doença do presidente preocupava muito devido à questão da sucessão presidencial, que não tinha regras claras até então.
Essa experiência serviu de incentivo para a posterior adoção da 25ª Emenda da Constituição dos Estados Unidos, que entrou em vigor em 1967 e estabelece os procedimentos a serem seguidos em caso de ausência ou impedimento do Chefe de Estado.
Ronald Reagan (1981-1989)
Até a candidatura de Donald Trump em 2016, Ronald Reagan havia sido a pessoa mais velha a se candidatar à presidência dos Estados Unidos.
O líder republicano sofria de inúmeros problemas de saúde, a ponto de alguns considerarem que ele não estava apto a concorrer à Casa Branca.
Durante sua gestão, Reagan teve vários episódios preocupantes devido à possibilidade de ter câncer. Em 1985, o presidente foi submetido a uma cirurgia que resultou na remoção de um pólipo canceroso em seu intestino grosso.
Mais tarde, em 1987, ele foi submetido a uma pequena cirurgia para remover um tecido canceroso no nariz.
No entanto, a situação que mais afetou sua saúde não foi uma doença, mas sim a tentativa de assassinato que sofreu em março de 1981.
“A saúde do presidente foi terrivelmente afetada, muito mais do que os cidadãos sabiam na época”, diz Riley. “Na história recente dos Estados Unidos, este é o exemplo mais marcante de um presidente que teve que enfrentar um grave problema de saúde que o incapacitava.”
Reagan sofreu uma perfuração no pulmão, mas o socorro médico imediato permitiu que ele se recuperasse rapidamente, apesar de sua idade. Naquela época, ele tinha 70 anos.
Não houve um pedido formal de sucessão presidencial e Reagan voltou a trabalhar na Casa Branca menos de um mês após o incidente.
Fonte: G1
Créditos: G1