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Quanto vale uma cidade? – Populações inteiras vivendo sob o domínio do medo! - Por Francisco Airton

Quanto vale essa cidade? “Sei lá! A gente compra!

Quanto vale uma cidade? Quanto tempo se leva para construí-la? Eu pergunto e eu mesmo aproveito para responder as indagações. Uma cidade não tem preço e para construi-la, isso depende muito! Pode ser bem projetada e leva um tempo. Ou pode ser construída pedra sobre pedra, ruas desbravadas a golpes de facão, pedra e cal! Do suor de cada morador!

E qual o custo para destruí-la? Vale perguntar! Pois em Minas parece até brincadeira, a ganância do homem perfura a terra, desmata trechos, constrói barragens (de muita lama e podridão) sem sequer perguntar aos moradores se pode, mas que trazem nos bolsos dos paletós dos engravatados, autorizações de outros (assim como estes) tão ambiciosos e insensíveis… Tão criminosos quanto!

E ainda hoje ouvimos o choro e o lamento de Mariana, coberta por toda aquela lama impunemente! Famílias inteiras foram destruídas junto com suas terras, pequenas propriedades, sustento de todos à custa de muito suor! Quanto custou para que destruíssem Mariana e o rio que era tão doce e que era vida? E os peixes e os cidadãos engolidos ou envenenados pela lama tóxica? Quanto custou, em dólar ou real? Acho que quase nada! Não demorou e esses mesmos executivos e políticos acovardados sob o manto da corrupção vergonhosa, novamente destruíram uma cidade e – desta vez – um maior e triplicado número de vidas! Mas, sem problemas.

Ganharam tanto dinheiro as custas de trabalhadores e miseráveis, que dinheiro não é e nunca será um problema! Sem problemas. Troca umas cabeças aqui, uns engravatados ali, mais um punhado de dinheiro e… Quem quer saber de vidas? É vida que segue!

A Vale, vale mais. Vale tudo! Foi necessário que destruísse Brumadinho para que Minas, o Brasil e o mundo pudessem descobrir que os homens/tatus haviam cavado tantos outros perigosos buracos pelas terras das Gerais, que muitas pessoas acabaram entendendo já bem tarde que construíram moradias em cima de açudes de lama ou bem vizinhas ou até mesmo no caminho – por onde mais cedo ou mais tarde – passará o fétido tsunami!

Quanto vale essa cidade? “Sei lá! A gente compra! Quem se incomodar que saia da frente! De que lei que você está falando? A gente troca os engravatados, dá uma gorjeta e promete construir uma cidade novinha! Quem se importa com o afeto”? Aqui é tudo preto no branco (mais preto ou marrom, o que branco). Tudo certo!

O Brasil e o mundo começam a tremer diante de todo o mal que uma multinacional pode causar! Do seu poder de destruição! Da sua frieza para com a natureza. Meio ambiente? Não tem problema. Árvores centenárias ou até mesmo milenares, são derrubadas a todo instante e ninguém liga! Tudo em nome do progresso e do crescimento da indústria! A mata, sua fauna, pessoas… a gente mata! Tudo pelo futuro! Não há para quem apelar.

Não quero jamais me colocar na pele dos cidadãos mineiros, famílias inteiras que cresceram pisando – desculpem o trocadilho infame – em um campo minado, onde a qualquer momento uma parede pode não suportar o peso de toda a lama ali reservada e estourar, derrubando e levando tudo a sua frente! O lamentável disso tudo, é saber que tudo foi e está sendo feito com a conivência de quem deveria estar defendendo a população. Governantes, autoridades, políticos… Todos criminosos preocupados apenas com os seus próprios rabos!

As pessoas convivem com o medo e a cada minuto fica mais curto o tempo de cada um para saber se vive ou se morre em Barão de Cocais em Minas Gerais! A quatro dias as notícias eram assim: “O talude norte da mina de Gongo Soco da mineradora Vale em Barão de Cocais (MG) passou a se movimentar 20 centímetros por dia em alguns pontos isolados e 15,7 centímetros por dia em sua porção inferior, segundo informações divulgadas pela Agência Nacional de Mineração (ANM).

No sábado, 25, no boletim anterior publicado pela agência, a velocidade da movimentação era de 14,1 centímetros por dia na parte inferior e 19 centímetros por dia nos pontos mais críticos. As previsões são de rompimento do talude a qualquer momento”. Dá para viver assim? Sob o domínio do medo?

Na melhor hipótese, (se é que existe uma) a estrutura escorrega aos poucos e fica retida na cava da mina, sem causar grandes impactos para moradores de Barão de Cocais e da região. Na pior, a queda provoca um abalo sísmico que estoura a barragem de rejeitos, localizada a 1,5 quilômetro de distância. Esse risco é entre 10% e 15%, segundo auditoria contratada pela Vale.

Não, meus amigos. Não existe justificativa que possa convencer quem quer que seja, de que pessoas possam sentir-se acima até mesmo de Deus e determine o que fazer com as vidas de outras pessoas simples e trabalhadoras. Semideuses que se sobrepõem a tudo e a todos com o direito de aterrorizar essas pessoas, tira-las dos seus lares, suas terras, suas vidas e seus familiares, amigos ali construídos, seus vizinhos, como se fossem nada!

Uma empresa com o aval de destruir, caso seja preciso, e tudo o mais – inclusive vidas – ficam em segundo plano! “Saiam da frente, pois os nossos rejeitos vão passar e os senhores (os cidadãos) estão no caminho, interrompendo os nossos propósitos e objetivos”!

Enquanto isso, para nós cidadãos…
A verdade é que o país está sofrendo a falta da “clava forte da justiça” para que os ímpios possam pagar verdadeiramente pelas atrocidades praticadas contra o povo. A construção de uma cidade não depende de preço, prazo pré-estabelecido, ou de qualquer outro artifício, depende do empenho e esforço de pessoas, e de muita luta e do tempo que for necessário. Já a sua destruição depende de um estalar de dedos ou estrondo desastroso ou intencional provocado por gente gananciosa e disposta a tudo para alcançar os seus mais perversos objetivos.

Pobre terra explorada! Não consigo vislumbrar Minas Gerais apenas como um estado que se destaca em um imenso país. Vejo essa terra como parte de um todo e que, de tão rica, em minérios, culturas e nomes, torna-se o alvo da gana insana e pouco a pouco vê-se perfurada, escavacada e engolida covardemente!

Que providências sejam adotadas urgentemente para que a história, amanhã, lhe faça justiça pela importância que tem e sempre terá como um patrimônio de riquezas humanas, materiais, naturais e culturais e que estas sejam por todo o sempre, intocáveis!

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Polêmica Paraíba

Fonte: Francisco Airton
Créditos: Francisco Airton