Reinaldo Rueda tomou a decisão de poupar quase todos os titulares da final da Copa do Brasil (menos o lateral-direito Rodinei) no clássico contra o Botafogo, no último domingo. Em meio às finais contra o Cruzeiro e antes das oitavas da Sul-Americana, o técnico colombiano quer rodar o elenco do Flamengo, já que não pode testar no mata-mata. Ao mesmo tempo, assume um risco.
A meta do Rubro-Negro, até o fim do ano, é voltar à Libertadores – com o título da Copa do Brasil (empatou o primeiro jogo da final contra o Cruzeiro e disputa o segundo no dia 27, no Mineirão), conquistando a Sul-Americana (ainda está nas oitavas de final com a Chapecoense) ou pelo G-6 do Campeonato Brasileiro (está em quinto lugar, com 35 pontos).
O risco assumido por Rueda, ao poupar no Brasileirão para dar ritmo a quem não tem jogado as outras competições e conhecer o elenco na prática, não só nos treinos, é ser ultrapassado pelos adversários e depender de um dos títulos para voltar à Libertadores. Na próxima rodada, por exemplo, Botafogo e Cruzeiro, com 34, podem deixar o Flamengo para trás, caso o Rubro-Negro não vença o Sport, no próximo domingo, na Ilha do Urubu.
Mas vale lembrar: a derrota para o rival é a única de Rueda no comando do Flamengo. Até agora, são sete jogos disputados, com três vitórias e três empates. O time, até este domingo, estava invicto sob o comando do treinador colombiano.
Falta de “concentração”
Na entrevista coletiva depois do jogo, Rueda, questionado sobre o lance que originou o primeiro gol do Botafogo, em que Cuéllar, de 1,76m, e Rabello, de 1,91m, disputam bola no alto, disse que o volante rubro-negro não foi superado por causa da altura, mas por uma “questão de decisão, de concentração”.
Alguns números da partida dão ainda mais voz à análise de Rueda. O Flamengo perdeu a posse de bola 40 vezes para o Botafogo, que perdeu 21. Os dois times chutaram 16 vezes, mas nove das finalizações do Rubro-Negro foram de fora da área – sete bloqueadas e apenas duas no gol. A principal chance foi com Guerrero, no primeiro tempo, mas para fora.
Principalmente no segundo tempo, o Flamengo teve muita dificuldade para criar jogadas, rodar a bola e oferecer perigo ao rival. Guerrero, em diversos momentos, pediu a bola na referência, mas não foi encontrado – não por falta de tentativa, mas por eficiência da marcação botafoguense e problemas na criação rubro-negra.
Falta de entrosamento
Nos últimos três jogos, contra Paraná (Primeira Liga), Cruzeiro (Copa do Brasil) e Botafogo (Campeonato Brasileiro), o Flamengo utilizou 29 jogadores diferentes – três são goleiros. No primeiro confronto, Rueda optou por levar praticamente só reservas. No segundo, a primeira final, força máxima. Diante do rival, neste domingo, optou por fazer testes e escalar quem não pode jogar a Copa do Brasil (Diego Alves, Rhodolfo, Éverton Ribeiro e Geuvânio).
A falta de entrosamento contra Paraná e Botafogo foi nítida (perder a bola quase o dobro de vezes do que o adversário, por exemplo, é um sinal disso). Rueda entende que o único jeito de dar ritmo e entrosar as alternativas que tem no Rubro-Negro é colocá-las em campo, não apenas nos treinamentos.
Reservas em noite ruim
A derrota do Flamengo para o Botafogo não passou apenas pela falta de entrosamento de um time completamente modificado em relação ao que jogou contra o Cruzeiro, mas também por uma noite ruim individualmente para alguns jogadores, como Geuvânio e Rômulo.
O atacante e o volante foram os titulares que menos tocaram na bola em toda a partida (30 e 32 vezes, respectivamente). A falta de entrosamento – de novo ela – também conta, mas os dois tiveram atuação abaixo da média contra o Botafogo.
Geuvânio, sempre aberto pela direita, não ofereceu perigo, enquanto Rômulo não foi efetivo na marcação nem no ataque – ambos foram substituídos no segundo tempo.
Éverton Ribeiro, pelo meio, como armador, na posição do titular Diego, foi quem mais deu trabalho à zaga adversária no primeiro tempo: movimentou-se, criou chances e até arriscou de fora da área, mas sem sucesso. Depois do intervalo, não foi mais o mesmo e participou menos da partida, assim como todo o Flamengo, apesar de ter acertado um belo chute de longe – Gatito defendeu.
O lateral-esquerdo Trauco, que perdeu espaço com a chegada de Rueda, mudou seu estilo de jogar contra o Botafogo. Acostumado a subir constantemente ao ataque, o peruano ficou mais recuado para não expor tanto a zaga. No lance do segundo gol, estava “vendido”, contra dois adversários. Curiosamente, foi quem mais tocou na bola em toda a partida: 91 vezes.
Fato é que o Flamengo repleto de reservas sofreu bastante para superar a falta de entrosamento e viu, nesta rodada, sua posição na tabela de classificação ficar ameaçada. Já na quarta-feira o time comandado por Reinaldo Rueda começa a decidir seu futuro na Sul-Americana. No fim de semana, volta a pensar no Brasileirão: encara o Sport, domingo, na Ilha do Urubu, podendo permanecer no G-6 ou perder duas posições.