Campeão da Champions League, o Liverpool está garantido no Mundial de Clubes da Fifa deste ano, que será disputado no Qatar. Leis, costumes e denúncias de trabalho escravo no país árabe levaram o clube inglês a adotar medidas de precaução. Ser homossexual, por exemplo, é ilegal na país sede do torneio.
Os três primeiros pontos dizem respeito aos código de vestimenta, demonstração de carinho em público e riscos à comunidade LGBT. O país é classificado pela ILGA (Associação Internacional LGBT) no maior nível de risco para a comunidade (nível 6), com possibilidade de pena de morte.
O Brasil, país com mais crimes contra transexuais segundo a ONG Transgender Europe, por exemplo, é classificado como 2.
O Liverpool também alerta que demonstrações de carinho públicas podem levar à prisão e que casais heterossexuais devem levar consigo um certificado de casamento, já que relacionamentos não conjugais são proibidos por lá.
Mulheres também são aconselhadas a sempre cobrir os ombros e os joelhos. Torcedores foram avisados de que não é permitido beber em público, que o governo local adota política de zero tolerância às drogas e que até tirar para fotos em certos lugares pode ser necessária uma autorização.
“Nós solicitamos e recebemos garantias de que nossos torcedores LGBT serão bem-vindos no Qatar, algo que é de suma importância para nós, uma vez que somos defensores de longa data tanto da igualdade quanto da diversidade”, disse o diretor-executivo, Peter Moore, ao site do clube.
Além disso, segundo o site The Athletic, o Liverpool não aceitou ficar no hotel Marsa Malaz Kempinski, sugerido pela Fifa. O palácio cinco estrelas fica numa ilha artificial. Segundo reportagem do jornal The Guardian, houve trabalho forçado de imigrantes na construção do hotel.
Segundo a investigação, funcionários como motoristas e seguranças tinham turnos de 12 horas de duração, em temperaturas que chegam a 45 ºC e ganhando menos que o salário mínimo no país.
O Qatar já foi acusado de de violar direitos humanos em obras para a Copa do Mundo de 2022. O país árabe tem 1,9 milhão de trabalhadores migrantes, a maioria de Índia, Nepal, Bangladesh, Paquistão e Filipinas, que são tratados como cidadãos de segunda classe. Ao mesmo tempo, tem uma das rendas per capta mais altas do mundo, em US$ 63,5 mil (R$ 253 mil).
A torcida organizada Spirit of Shankly emitiu um comunicado pedindo que as autoridades locais “tome medidas imediatas para investigar e responsabilizar os preocupantes casos de morte de trabalhadores migrantes”, e também pediu garantias de segurança aos seus torcedores.
A Liverpool FC Brasil, que reúne torcedores do clube que residem no Brasil, também repudiou os atos de discriminação e as denúncias. “[Somos] contra qualquer tipo de discriminação […] e, certamente, estamos na mesma página da torcida”, escreveram em nota.
De acordo com o The Athletic, o Liverpool solicitou à Fifa e ao governo local que sua hospedagem fosse alterada para outro local, e foi atendido.
No Mundial, o Liverpool fará dois jogos, primeiro a semifinal e, dependendo do resultado, a final ou a disputa de terceiro lugar. O clube disponibilizou aos seus torcedores 600 ingressos para a primeira partida e 900 para a segunda -os fãs podem ainda comprar diretamente no site da Fifa.
“Nós não somos uma organização política nem é nosso papel ou ambição ir de país em país forçando nossos valores e crenças”, acrescentou Moore. Ele ressalta que o máximo que o clube pode fazer é manter “nosso padrão de responsabilidade”.
Outro ponto que incomoda a equipe é o calendário. “Nós temos dois jogos [no Qatar] em um período muito ocupado”, disse o técnico Jurgen Klopp.
O time disputa as quartas de final da Copa da Liga Inglesa no dia 16 de dezembro, tem o Mundial entre os dias 18 e 21 e, no dia 26, encara o Leicester fora de casa pelo Campeonato Inglês.
Fonte: Folha de S. Paulo
Créditos: Folha de S. Paulo