Um dos principais pontos da operação que investiga a corrupção no futebol paraibano é quanto a possíveis irregulares no sorteio que definiam as escalas de arbitragem no campeonato estadual. A suspeita inicial era de que as escalas eram feitas de acordo com os interesses diretos dos clubes e que o sorteio, em si, era um mero teatro. Em uma das interceptações telefônicas realizadas pela Polícia Civil, na Operação Cartola, a que o GloboEsporte.com teve acesso, o ex-presidente da Comissão de Arbitragem de Futebol da Paraíba (Ceaf-PB), José Renato Soares, responsável pelas escalas, confirmou que, na última rodada da fase de grupos do Paraibano deste ano, não haveria sorteio.
A conversa foi com o vice-presidente de futebol do Botafogo-PB, Breno Morais, apontado pelos relatórios da investigação como um dos principais atores do esquema de manipulação de resultados que é investigado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público. Em vários diálogos grampeados pela polícia, Breno pressiona José Renato para colocar árbitros do seu interesse nos jogos do Belo.
No interceptação em questão, Breno Morais e José Renato falam sobre as escalas de arbitragem de alguns jogos da última rodada da primeira fase do Campeonato Paraibano, que aconteceu no dia 4 de março. A conversa dos dirigentes ocorre no dia 28 de fevereiro, um dia antes do “sorteio” da arbitragem.
Breno: Você vai fazer quando? Amanhã, é?
José: É o seguinte, véi… amanhã de dez horas da manhã…
Breno: Vai ser o sorteio…
José Renato: Não… não vai ter, né…
Breno: Sim, mas vai ser amanhã.
José Renato: Sim… vai ser amanhã, dez horas da manhã…
O único da sala que confere quais são as bolas é o mandatário da FPF. No fim do sorteio, Pablo Alves e Antônio Umbelino, que estavam na coluna ímpar, são designados para atuar em Treze x Campinense e Botafogo-PB x Atlético de Cajazeiras, respectivamente.
Em outra conversa grampeada pela polícia, Breno Morais até chega a ironizar o sorteio que determina as escalas de arbitragem no Campeonato Paraibano. De acordo com o dirigente botafoguense, José Renato deveria jogar na loteria.
– Você devia jogar em todas as loterias da Caixa… porque as suas vontades… eu não sei o que diabo é… naqueles sorteios… toda vez dá a sua vontade… jogue na loteria para nós dois… você fica com setenta por cento, eu fico com trinta… tem nada não – brincou o vice de futebol do Belo.
De acordo com um dos relatórios da polícia, alguns denunciantes explicaram quais seriam as formas de burlar o sorteio. Uma delas era que José Renato imprimiria duas atas de sorteio, a fim de que cada quarteto de arbitragem estivesse nas duas colunas (par e ímpar) e, independente de qual número fosse sorteado, os árbitros que o então presidente da Ceaf-PB queria para determinados jogos iriam ser designados para essas partidas.
Outra sistemática seria simplesmente de que no sorteio, ainda que transmitido ao vivo pela internet, José Renato mentiria sobre as bolas que iriam para o globo. Os delatores ainda sugeriram outra possibilidade, que seria em relação ao dirigente da arbitragem colocar, no jogo que teria a manipulação de resultado, dois árbitros integrantes do esquema de corrupção. Dessa forma, o sorteio em si seria feito de maneira normal, com bolas pares e ímpares introduzidas no globo.
Segundo o Estauto do Torcedor, lei federal que dispõe sobre os direitos dos torcedores, em seu artigo 30, a arbitragem de competições desportivas tem que ser “independente, imparcial, previamente remunerada e isenta de pressões”. O artigo 32 fala que os árbitros de cada partida têm que ser “escolhidos mediante sorteio, dentre aqueles previamente selecionados, ou audiência pública transmitida ao vivo pela rede mundial de computadores, sob pena de nulidade”. Na Paraíba, a prática escolhida é a do sorteio.
Fonte: Globo Esporte Paraíba
Créditos: Globo Esporte Paraíba