Quando, aos dois minutos e cinquenta e oito segundos, Jéssica Andrade levantou Rose Namajunas e girou o corpo da norte-americana no ar, fazendo com que ela caísse com todo seu peso na nuca, o nocaute foi brutal.
Um dos mais impressionantes da história do UFC.
Rose perdeu os sentidos.
E Jéssica mostrava o porque do seu apelido Bate-Estaca. Esse é o nome do golpe que salvou não só uma noite que parecia lastimável para o MMA brasileiro, no UFC 237.
Mas demonstrou o poder das mulheres brasileiras.
Os homens que já marcaram a história do UFC, agora não têm qualquer cinturão. Já as mulheres, de quatro cinturões, possuem três.
Amanda Nunes tem dois.
O dos penas e o dos galos.
E o palha agora é de Jéssica Bate-Estaca, com direito a bônus de R$ 395 mil, pela melhor luta do evento.
Mais do que merecido.
A luta valendo o cinturão foi espetacular, vibrante, cheia de alternativas. Rose Namajunas é muito técnica, veloz. E tem oito centímetros a mais que Jéssica. 1m65 contra 1m57 da paranaense.
No primeiro round ela fez valer a estatura, desferindo jabs, diretos e cruzados na brasileira. Conseguiu dar um knockdown, derrubando Jéssica com um potente direto.
A torcida brasileira na Jeunesse Arena ficou estarrecida, estava traumatizada pelas derrotas nas lutas anteriores de Anderson Silva, José Aldo, Thiago Pitbull e Bethe Correia.
Mas com Jéssica foi diferente. Ela já havia tentado surpreender a norte-americana duas vezes no primeiro round, com o golpe que a consagrou.
Rose conseguiu na segunda vez travar o braço direto da paranaense. Suspense, tensão na arena. Jéssica escapou por pouco.
O primeiro assalto foi da então campeã.
O segundo começava da mesma maneira. Com Rose acertando jabs, mostrando sua superioridade imposta pela técnica e envergadura.
Mas ela não esperava pela brutalidade pura.
Aos 2m58 segundos, Jéssica usou o golpe que a desclassificou da primeira disputa de título, ainda amadora, no jiu-jitsu. Ela levantou a adversária, girou seu tronco e fez com que ela caísse de cabeça no tatame. Golpe inválido que lhe tirou a medalha de campeã.
Mas nas regras do mma, o golpe é permitido.
Jéssica é baixa, mas troncuda, muito forte.
A brasileira foi contra a lógica, já que havia tentado duas vezes o golpe. Só que mesmo prevenida, a campeã não conseguiu evitar flutuar no ar.
E cair com a nuca no piso do octógono.
Namajunas já caiu nocauteada. Mas Jéssica foi conferir, aplicou mais alguns socos e Rose perdeu de vez os sentidos e o cinturão.
“Eu voltei muito consciente do que eu tinha que fazer no segundo round. Ela voltou mais lenta e eu dei um bate-estaca. Eu nunca dei um bate-estaca na minha vida (no UFC, evidente, não ganhou o apelido à toa). Precisou de muita dedicação, mas hoje deu certo”, disse a nova campeã.
A vibração por parte do público brasileiro na arena foi de euforia.
E alívio.
Porque nas outras quatro lutas principais só derrotas brasileiras
A começar pelo co-main event.
Anderson Silva deu mais um passo decisivo para a aposentadoria.
Ele é uma lenda do UFC. Foi campeão por seis anos dos médios. Poderia ter sido pelo menos mais um, se não tivesse se deixado levar pela obrigação de dar show contra o limitado Chris Weidman.
No Rio, ontem, ele enfrentou um lutador forte, voluntarioso. Mas absolutamente previsível: o norte-americano Jared Cannonier.
Na sua carreira de altos e baixos, Cannonier ainda avisou o que faria. Disse que o caminho para ‘acabar’ com Anderson Silva eram os chutes.
O brasileiro entrou para o octógono com o aval de uma carreira brilhante. Mas, melhor do que ninguém, ele sabe que tem 44 anos. E que os reflexos não são os mesmos. A explosão muscular, a velocidade, a resistência. Tudo piorou muito.
E o que se viu foi um lutador lento, sem movimentação, parado diante do truculento Cannonier. O norte-americano apenas cumpriu seu plano que havia anunciado.
Enquanto ameaçava a trocação, usava, na verdade, seus jabs para distrair Anderson. O que queria era os chutes poderosíssimos no joelho direito do brasileiro.
Faltavam reflexos para fugir das pancadas.
Foram quatro chutes poderosíssimos.
No quarto deles, os meniscos de Anderson não aguentaram.
O lutador desabou no octógono.
Estava nocauteado, aos 4 minutos e 41 segundos do primeiro round.
Um balde de água gelada na torcida.
“Desculpa, galera. Nos treinos eu já estava com o joelho machucado. Não deu para segurar. Desculpa. Desculpa. Desculpa”, disse, envergonhado, o veterano, que deixa claro que o lutador excepcional que foi não existe mais.
O futuro de Anderson no UFC é incerto.
Ele já está milionário.
E não consegue se impor diante dos top 10 da nova geração dos médios.
A outra enorme decepção foi José Aldo.
Ele também está longe do seu auge.
O manaura vive repetindo que só pensa na aposentadoria do UFC. Quer abandonar o mma para lutar boxe.
E nesse caminho, infelizmente, abandonou uma de suas grandes armas na carreira. Os chutes. Ele simplesmente os esqueceu diante de Alexander Volkanovski.
O plano de luta do australiano foi amarrar a luta, travar o brasileiro. Bater, acumular pontos, e sair da linha da trocação. Com preparo físico excepcional, ele foi minando José Aldo.
De maneira muito estranha, o brasileiro que era número um dos penas, foi cansando. E não conseguindo reagir.
Volkanovski venceu com mérito, de forma unânime, os três rounds.
A decepção ficou porque José Aldo se vencesse, poderia ter uma terceira chance de enfrentar o campeão Max Holloway.
Agora pode cuidar da aposentadoria do UFC.
E lutar boxe, como tanto deseja.
Parece desencatado com o mma.
Perdeu o brilho nos olhos, a motivação.
Thiago Pitbull e Bethe Correia foram derrotados no restante do card principal.
O cearense pelo promissor argentino Laureano Staropoli por pontos, de maneira unânime, na categoria meio-médio.
Pitbull também demonstrou ter perdido a explosão muscular que o caracterizava.
E Bethe perdeu a luta para a mexicana Irene Aldana. Ao tentar derrubar Aldana de forma ‘cantada’ e estabanada, a brasileira acabou finalizada. Os dois anos e meio que ficou fora do octógono pesaram contra Correia.
Fonte: R7
Créditos: R7