hiperssexualização

Música que exalta órgão sexual de atacante do Leeds é racista; saiba o motivo

O canto da torcida do Leeds para Gnonto não é a primeira homenagem superlativa ao tamanho do órgão genital de um ídolo feita no futebol da Inglaterra.

imagem: reprodução/internet

Desde que Wilfried Gnonto marcou o primeiro gol pelo Leeds United, no dia 4 de janeiro, a torcida do clube inglês tem cantado a plenos pulmões que o atacante italiano de origem marfinense “come espaguete, bebe Moretti” e tem um “p** enorme pra car****”.

O canto, apesar de à primeira vista parecer uma forma de exaltar o jovem jogador de 19 anos, tem sido repudiado por entidades do futebol inglês, pela diretoria dos “Whites” e pelo técnico norte-americano Jesse Marsch.

As críticas à música são uma forma de expor e lutar contra o racismo impregnado naquilo que é entendido por parte da sociedade como um suposto elogio.

“Fico muito feliz pelo tanto que os torcedores amam o Willy. Confesso que de vez em quando me pego assobiando a melodia da canção, que gruda na nossa cabeça. Mas será que eles não poderiam modificar a letra de uma forma que continuasse apaixonada, mas fosse mais respeitosa? É esse o meu pedido”, afirmou o treinador, durante entrevista coletiva.

O canto da torcida do Leeds para Gnonto não é a primeira homenagem superlativa ao tamanho do órgão genital de um ídolo feita no futebol da Inglaterra. Pelo contrário, esse tipo de menção é comum por lá, tanto na elite quanto nas divisões inferiores. E sempre envolve atletas negros.

O canto é racista porque utiliza a histórica hiperssexualização dos corpos negros, que remete aos tempos em que escravizados eram tratados como “brinquedos sexuais” por pessoas brancas. A hiperssexualização do corpo negro tenta tirar dele a condição de homem e mulher e os trata como objetos para realização de um fetiche, apenas alvos de desejo sexual.

O estereótipo de que o homem negro tem pênis de tamanho muito acima da média remete a essa época e à ideia de que ele possui tanta potência sexual que acaba se comportando como um ser irracional.

O centroavante belga Romelu Lukaku, um dos grandes artilheiros do futebol europeu nos últimos anos, já foi vítima dessa discriminação oriunda da torcida do próprio clube que defendia.

Em 2017, o Manchester United chegou a postar uma mensagem nas redes sociais implorando para que os torcedores parassem de cantar que o atacante tem um “pênis de 60 centímetros”.

No final do ano passado, o meia-atacante Amad Diallo, natural da Costa do Marfim, também publicou um vídeo pedindo que a torcida do Sunderland pare de falar publicamente sobre seu órgão sexual.

Gnonto foi convocado pela primeira vez para a seleção adulta da Itália em junho, quando ainda jogava no Zurique, da Suíça. No começo da temporada, ele teve seus direitos econômicos comprados por 4,5 milhões de euros (R$ 25 milhões) pelo Leeds e chegou aos campeonatos nacionais de primeiro escalão da Europa.

O jovem atacante não tem tido uma adaptação fácil ao futebol inglês. Ele começou atuando pela equipe B do clube, demorou quase dois meses para começar a ser aproveitado em jogos da Premier League e só estreou como titular no final de dezembro.

Apesar de não ter conseguido nenhuma vitória nas últimas seis rodadas, o Leeds ainda continua fora da zona de rebaixamento do Inglês. Ocupante da 15ª colocação, tem 18 pontos, um a mais que o Bournemouth, primeiro time do grupo do descenso.

A equipe de Gnonto joga novamente no sábado, contra o Accrington Stanley, da terceira divisão, pela Copa da Inglaterra. O próximo compromisso na Premier League está marcado para o dia 5 de fevereiro, frente ao Nottingham Forest.

Fonte: Rafael Reis
Créditos: Rafael Reis