O Ministério Público Federal (MPF) analisa duas representações contra a 18kRonaldinho, uma empresa que, de acordo com economistas ouvidos pelo UOL Esporte, mostra indícios de aplicar o golpe conhecido como pirâmide financeira. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), entidade que fiscaliza o mercado de investimentos, abriu um processo após receber denúncia contra o negócio.
A 18k Ronaldinho, cujos diretores costumam alardear que Ronaldinho é sócio-fundador, promete rendimento de até 2% ao dia a clientes que comprarem pacotes que vão de 30 até 12 mil dólares. Os rendimentos seriam supostamente fruto de operações de “trading e arbitragem” na criptomoeda Bitcoin, de acordo com o material de divulgação que a empresa apresenta a potenciais clientes.
Informado sobre o teor desta reportagem na última sexta-feira (4), o advogado Sérgio Queiroz, que representa Ronaldinho e seu irmão Assis, afirmou que a dupla rescindiu contrato com a 18kRonaldinho “há duas semanas”. A empresa não confirma a informação.
US$ 336 por três indicações
Além de ganhos pelo rendimento do valor investido, a 18kRonaldinho promete bônus pela indicação de novos membros. “Ganhe US$ 336 com apenas três indicações!”, afirma o pdf de uma apresentação ao qual a reportagem teve acesso.
“É uma pirâmide pura, clássica”, afirmou Michael Viriato, professor de finanças do Insper, em São Paulo. “Anunciam que você entra com um valor em Bitcoin e ganha um percentual sobre esse valor e sobre o que outras pessoas colocam. Você não está ganhando a partir da venda de um produto, como se poderia esperar de um negócio de marketing multinível, mas pela simples indicação.”
Pirâmide financeira é uma prática proibida no Brasil e configura crime contra a economia popular (Lei 1.521/51). O esquema promete retorno expressivo em pouco tempo e é vantajoso apenas enquanto atrai novos investidores. Quando os clientes param de se associar, a pirâmide não consegue cobrir o retorno prometido e entra em colapso, prejudicando a maioria dos sócios.
“Um negócio que promete taxa de rentabilidade de 2% ao dia levanta suspeitas de fraude”, afirmou Daniela Freddo, professora de economia da Universidade de Brasília (UnB).
Em resposta a um questionamento da reportagem, a empresa negou que faça promessa de rendimentos aos clientes e disse que seu principal negócio é vender produtos como relógios, cafés e joias (veja respostas completas abaixo).
Em uma apresentação recente da 18k, Ronaldinho aparece como “embaixador” da marca. Mas ao menos até fevereiro, quando a empresa foi tema de uma reportagem do UOL Esporte, o ex-jogador era apresentado como “fundador”.
Em eventos e entrevistas disponíveis na internet, Ronaldinho disse que sentia “orgulho” de fazer parte da empresa. Ele já participou de evengos públicos, reuniões e recentemente recebeu um grupo de associados à empresa em sua casa.
“Eu não associo o meu nome a coisa ruim”, afirmou ele em um encontro da 18kRonaldinho no Rio de Janeiro. “É um orgulho fazer parte de tudo isso e ter meu nome em algo que me deixa muito orgulhoso.”
Ex-jogador rompeu contrato com empresa, diz advogado
O advogado Sérgio Queiroz afirmou que Ronaldinho rescindiu com a 18kRonaldinho quando descobriu que o modelo de negócios da empresa havia mudado. Segundo Queiroz, o ex-jogador jamais autorizou que seu nome estivesse envolvido em operações com Bitcoins.
“O Ronaldo fechou um contrato de publicidade para vender relógios em 2016. Depois foi feito outro contrato quando a empresa quis entrar no marketing multinível, para vender outros produtos além de relógio. O Ronaldo nunca deu autorização para negócio com Bitcoin. Assim que soubemos disso, rescindimos o contrato, e agora eles não têm mais nenhuma autorização para usar a imagem do Ronaldo”, afirmou o advogado, que se disse surpreso ao saber que diretores da empresa apresentavam seu cliente como sócio-fundador.
“O Ronaldo não tem o nome dele em empresa nenhuma”, afirmou.
Fonte: UOL
Créditos: UOL