Os olhos do mundo estão voltados para Margaret River, palco da batalha dos tops da elite na segunda etapa de 11 em todo o Circuito Mundial. Primeiro brasileiro campeão do mundo e atual top 3 do ranking, Gabriel Medina, aos poucos, volta à forma ideal e surge como um dos favoritos no oeste australiano, mesmo sem estar 100% recuperado de uma incômoda lesão no joelho direito. O paulista de São Sebastião se machucou após um aéreo na Gold Coast e competirá com uma fita para sentir o mínimo de dor. O lugar de natureza selvagem é o espaço de ondas fortes, pesadas, tubulares e tubarões. Ao lado de J-Bay, na África do Sul, Margies foi classificada pela Liga Mundial de Surfe (WSL) como um local de alto risco e teve a segurança reforçada. Medina admite o medo em uma região conhecida pela presença de tubarões brancos, cita ataques em praias próximas, mas afasta o perigo do pensamento e confia nas medidas da WSL visando a proteção dos surfistas.
A previsão é boa para os primeiros dias, com ondas grandes e a possibilidade de início em North Point na noite desta terça-feira (manhã na Austrália). A chamada para avaliar as condições do mar será às 20h (de Brasília). A janela do campeonato vai até o dia 9 de abril.
– Eu sei de toda a estrutura que a WSL tem, com cinco jet skis, fora tudo o mais… Mas sim, não tem como não pensar. É uma praia com muitos tubarões. Tem ataques nas praias do lado. Acho que ninguém se sente seguro na água. É um lugar muito temido, conhecido por ter tubarões. Sempre aparecem. Dá medo, mas é algo que não se pode pensar. Senão, não se consegue surfar. Espero que a proteção dê certo (em relação às medidas implementadas pela WSL para a segurança dos atletas contra tubarões, como o uso de cinco jet skis na água), que não aconteça nada de errado nesse evento. Não vai acontecer. Agora, vamos pra cima, vai começar – disse Medina.
No ano passado, surfistas como Caio Ibelli, Wiggolly Dantas, Kanoa Igarashi e Alessa Quizon saíram da água em uma sessão de “free surf” ao notarem a presença de um tubarão no line-up da competição. A WSL implementou uma série de medidas em prol da segurança dos atletas, no intuito de evitar um episódio como o de Mick Fanning em J-Bay. Há dois anos, o australiano escapou ileso de um ataque de tubarão em plena final contra Julian Wilson, fato que o motivou a tirar um ano quase sabático em 2016. A entidade colocará sempre na água cinco jet skis com sonares da linha “Shark Shiled”, um destinado a cada surfista e os outros para o patrulhamento da área. Embora não haja registros de ataques nos picos do campeonato, quatro surfistas morreram nos últimos sete anos em praias próximas a Margaret River.
Para Medina, o julgamento não muda tanto em relação à etapa anterior. Buscas por ondas grandes, variação e força de manobras, fluidez e velocidade são alguns dos critérios estabelecidos pelos árbitros. Portanto, a leitura da onda será fundamental na luta por notas e pontos no ranking.
– Margaret é uma onda pesada, difícil de surfar. Em questão do julgamento, não muda muita coisa, muda só que a onda é um pouco mais difícil de surfar. A gente precisa de uma prancha um pouco maior, muda um pouco o surfe, por ser uma onda maior e mais pesada, mas o critério é o mesmo.
Ao lado do havaiano John John Florence e de Adriano de Souza, campeão da etapa em 2015, Medina é uma das apostas para assumir a liderança do ranking e tirar a lycra amarela do australiano Owen Wright, número um do mundo.
Perna australiana como estratégia para o título
Como costuma acumular bons resultados em lugares como França, Trestles, Taiti, Fiji e Havaí, Medina espera espera manter o ritmo na Austrália e conquistar outro bom resultado no Tour. Mesmo com a lesão na estreia na Gold Coast, o paulista foi um dos melhores surfistas do campeonato e, apesar de ter poupado os aéreos, mal parecia sentir dores ao longo da disputa. Só parou na semifinal diante do campeão Owen Wright e se despediu em terceiro lugar.
– Estou feliz com o terceiro lugar. Foi um bom resultado. Agora é pensar nessas duas etapas, faltam Margaret e Bells para terminar a perna australiana, e quero ir bem aqui também para continuar nessa pegada. Eu sei que no final vai contar bastante, e esse terceiro foi fundamental na Gold. Comecei bem – analisou Medina.
Fisioterapia e descanso são receita para recuperação
O surfista de 23 anos tem alternado as constantes sessões de fisioterapia ao descanso em busca da regularidade, pois sabe que a perna australiana terá reflexos na briga pelo título no fim da temporada. A meta de Gabriel é chegar no Pipeline Masters com chances de erguer o caneco. Ele ainda não se considera 100% recuperado, mas, apesar da dor, não medirá esforços rumo ao título.
– Meu joelho não está 100%. Está com uma dor ainda, mas consigo surfar. Com um pouquinho de dor, mas vai. Faz parte. Aconteceu ali na primeira etapa, e agora eu estou tentando cuidar, fazendo fisioterapia e tentando sentir o menos possível o joelho para eu me sentir bem na água, mas estou cuidando. Não tem muito o que fazer. Vai com dor mesmo. Vou usar um tape, que os médicos colocam, como eu usei lá na Gold Coast, para surfar com menos dor, e é isso. Tenho evoluído, tenho melhorado, está diminuindo, mas eu ainda sinto. Mas, como eu falei, é o processo. Uma hora vai ficar bom, tem que trabalhar. Fisioterapia e descanso – contou o paulista.
Main Break, The Box, North Point?
Os organizadores da etapa tem à sua disposição picos como Main Break e The Box, mas cogitam a primeira fase em North Point, uma direita que quebra sobre um fundo de corais a 16 quilômetros ao norte de Margaret River. Medina vê uma ligeira vantagem dos surfistas regulares nas direitas de The Box, porque eles surfariam de frente para as ondas, que quebram sobre uma laje de pedras, formando tubos pesados. No entanto, disse estar preparado para tudo o que vier pela frente.
– Pode rolar em Main Break, no palanque principal de Margaret, é uma onda que a gente está acostumado a surfar, teve um ano em The Box. The Box é uma onda mais difícil, favorece os caras que surfam de frente para ela. Então, é mais difícil de surfar de backside (de costas para onda. Por ser goofy, surfa com o pé direito na frente da prancha), é uma desvantagem, mas tem que ir como a banda toca, né, a gente não pode escolher. Se o diretor de prova falar que vai ser tanto em um como em outro, a gente vai encarar e estar preparado.
O defensor do título em Margaret é o havaiano Sebastian Zietz. No ano passado, o atleta de Kauai sequer era membro da elite, mas fez valer o convite e derrotou na final o australiano Julian Wilson. O recordista de vitórias em Margies é o aussie Tom Caroll, com três títulos, seguido pelos compatriotas Barton Lynch e Mark Occhilupo, bicampeões em West Oz.
O único desfalque do Brazilian Storm será Italo Ferreira. O potiguar de Baía Formosa sofreu uma lesão no tornozelo direito na Gold Coast e perderá também a terceira e última parada da perna australiana, em Bells Beach. O americano Nat Young herdou a sua vaga. Líder do ranking de acesso à elite (QS), o paulista Jessé Mendes ganhou um convite e enfrentará na estreia Medina e Wiggolly Dantas, na quinta bateria da primeira fase.
Confira as baterias da 1ª fase em Margaret River:
1 – Kelly Slater (EUA), Mick Fanning (AUS) e Leo Fioravanti (ITA)
2 – Kolohe Andino (EUA), Stuart Kennedy (AUS) e Ezekiel Lau (HAV)
3 – Matt Wilkinson (AUS), Miguel Pupo (BRA) e Jack Freestone (AUS)
4 – Jordy Smith (AFS), Kanoa Igarashi (EUA) e Nat Young (EUA)
5 – Gabriel Medina (BRA), Wiggolly Dantas (BRA) e Jessé Mendes (BRA)
6 – John John Florence (HAV), Frederico Morais (POR) e convidado
7 – Owen Wright (AUS), Connor O’Leary (AUS) e Ian Gouveia (BRA)
8 – Joel Parkinson (AUS), Caio Ibelli (BRA) e Jadson André (BRA)
9 – Adriano de Souza (BRA), Adrian Buchan (AUS) e Jeremy Flores (FRA)
10 – Michel Bourez (TAI), Conner Coffin (AUS) e Joan Duru (FRA)
11 – Julian Wilson (AUS), Josh Kerr (AUS) e Bede Durbidge (AUS)
12 – Filipe Toledo (BRA), Sebastian Zietz (HAV) e Ethan Ewing (AUS)
Fonte: Globo Esporte