Saiu de Santa Maria Madalena, pequena cidade da Região Serrana do Rio, o carro que transportava João Antônio Ouverney e seu sonho: conhecer os jogadores do Brasil. Foi fácil chegar a Teresópolis, mas Márcio, pai de João, admite: era um voo cego. Depois de tentar junto à CBF a entrada na Granja Comary, recebeu a informação de que não haveria treinos abertos ao público. Mas a promessa ao filho já havia sido feita e o carro pegou a estrada.
No banco de trás, levava a vida de João, da forma mais literal possível. O rapaz de 19 anos sofre de atrofia muscular espinhal, doença genética degenerativa. Respira com a ajuda de aparelhos e se alimenta por sonda. Tem nos olhos e nos movimentos da boca e dos dedos indicador e polegar da mão esquerda a maneira de se comunicar com o mundo exterior.
– Saímos sempre de forma muito estudada. Não é fácil transportá-lo, por causa das suas necessidades. Levo sempre comigo um pequeno quarto de hospital, uma UTI. Os aparelhos dele vão ligados no carro e se der um problema eu tenho uma bateria reserva. Algumas pessoas dizem que não deveria sair tanto com ele, mas preciso fazer isso pelo meu filho, é isso ou deixá-lo dentro de casa. Quero que ele veja o mundo – desabafou Márcio Pascoal, comerciante, 46 anos.
Mundo cujo futebol é o que mais mexe com o coração de João. Apaixonado pelo Botafogo, já teve a chance de conhecer alguns de seus principais ídolos: Jefferson, Seedorf, Jairzinho. Faltavam os jogadores da seleção e quis o destino que o rapaz se hospedasse na mesma pousada que um grupo de patrocinadores da CBF. Foram eles quem mexeram os pauzinhos e colocaram o torcedor dentro da Granja Comary.
João assistiu ao treino ao lado do pai e do enfermeiro que o acompanha 24 horas por dia. No fim, conseguiu tirar fotos com Danilo, Marquinhos, Philippe Coutinho e Neymar, seu favorito. Encontrou também Zagallo. Sobre a maior tristeza que teve no futebol, se lembrou do 7 a 1 em 2014, admitiu que chorou e ainda dedurou o pai, que foi para o banheiro esconder as lágrimas.
Questionado qual era o próximo passo, respondeu de bate-pronto:
– Quero ver o Brasil ser campeão do mundo e ir ao Engenhão tirar uma foto com o Gatito.
Fonte: Extra
Créditos: Extra