O que torna alguém um ídolo olímpico? Usain Bolt, Michael Phelps e Simone Biles fizeram isso com resultados nunca antes alcançados. Mas e se o personagem em questão for um reserva?
Bom, Douglas Souza foi a primeira grande estrela das Olimpíadas de Tóquio-2020 antes mesmo de entrar em quadra pela seleção brasileira masculina de vôlei. Entre a chegada ao Japão e sua estreia, ele saltou dos 250 mil para mais de dois milhões de seguidores —e subindo. Hoje, são 2,9 milhões e, talvez, o número só não bateu os 3 milhões pela derrota do Brasil ontem (28) para a Rússia.
Esses números se explicam por um carisma fora do comum —algo que Phelps e Biles não têm, mas que Bolt, por exemplo, esbanja aos montes. O primeiro vídeo que viralizou foi de Douglas desfilando, como modelo mesmo, em um treino da seleção. Ao fundo, Bruninho, levantador e capitão da seleção, sorria. Depois disso, ele apareceu andando pela vila e virou referência em como mostrar a vida de atleta dentro da Olimpíada.
Foi mais ou menos como o economista Gilberto Nogueira, o Gil do Vigor, fez no BBB 21. Afinal, os dois têm algumas coisas em comum. Chegaram (relativamente) desconhecidos, não esconderam sua orientação sexual e se soltaram em ambientes que nunca tinham visto comportamentos tão escrachados como os deles.
Pareceu tudo natural, mas não foi assim tão espontâneo. A partir de agora, você vai entender como se cria um atleta olímpico viralizável.
Campeão olímpico mais jovem da Rio-2016
Como nada é criado do zero, Douglas não era exatamente um novato quando viralizou. Quem olhar o seu currículo vai ver: aos 25 anos, ele já foi um dos melhores jogadores da Superliga, o campeonato nacional de vôlei no Brasil, acaba de ser contratado para defender um time da Itália, um dos maiores centros do vôlei no planeta, e já é campeão olímpico. Isso mesmo: há cinco anos ele estava no elenco do técnico Bernardinho que venceu a Rio-2016.
Jogador do Taubaté, Douglas começou no vôlei, ainda quando criança, por recomendações médicas após a descoberta de uma bronquite. Com apenas 11 anos de idade, o atleta do interior de São Paulo conquistou seu primeiro título defendendo o Brasil, o sul-americano infantil.
Em 2014, o ponteiro recebeu a primeira oportunidade na seleção brasileira principal e, dois anos depois, aos 20, ganhou sua primeira medalha de ouro nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, se tornando o mais jovem campeão olímpico daquela edição. Douglas também fez parte do elenco que levou o Brasil ao lugar mais alto do pódio na Liga das Nações em junho deste ano.
Agência de Preta Gil pinçou Douglas entre os atletas
Mas o que mudou o jogo para Douglas, mesmo, foi seu comportamento nas redes sociais. Quem o acompanhava antes de Tóquio-2020 já sabia que aquele jogador de vôlei era muito mais do que um jogador de vôlei. Suas postagens no Instagram sempre foram divertidas e, como muita gente da Geração Z, ele é streamer de games. Seu canal no YouTube tem gameplays divertidos de League of Legends, Valorant e Among Us. Criado em 2020, tinha menos de três mil assinantes antes dos Jogos. Hoje, são 66 mil, com conteúdos constantes —ele até deixou material de arquivo que está sendo publicado enquanto ele está no Japão…
Foi isso que chamou a atenção da Agência Mynd, que tem Preta Gil como sócia-diretora e Gil do Vigor em seu casting. A empresa buscou entre os mais de 300 atletas brasileiros classificados para os Jogos Olímpicos alguém com potencial parecido com o de Gil. “A Mynd percebeu o quanto o Douglas é autêntico e se apaixonou pelo seu conteúdo. Vendo esse grande potencial, nós iniciamos as conversas com o Douglas um mês antes das Olimpíadas e fechamos um contrato. Fizemos algumas reuniões de planejamento e troca de insights, mas esse humor e forma leve de falar com os seguidores é dele”, explicou a Mynd em nota enviada ao UOL.
A empresa de publicidade também destacou a importância da diversidade. Douglas quer ser conhecido como o “primeiro gay assumido publicamente no vôlei brasileiro de alto rendimento”. “Douglas também é reconhecido por quebrar barreiras. Essa representatividade aparece forte com a sua imagem e nos seus discursos. A Mynd, que tem entre suas missões trabalhar a diversidade no mercado publicitário, assumiu a gestão de imagem e planejamento estratégico de Douglas, a fim de identificar oportunidades com marcas que tenham fit com o seu perfil”, completou.
Logo após as Olimpíadas, Douglas vai começar a negociar com grandes marcas, assim como fez Gil do Vigor após o Big Brother Brasil. O economista tem contratos com empresas como Ifood e o banco Santander.
“Sinto que eu estou representando todo mundo”
O sucesso, segundo Douglas, não é somente dele. Em entrevista ao UOL, o atleta afirmou que se sente realizado ao ver que muitos torcedores brasileiros estão curtindo suas publicações e, por esse motivo, vão ficar atentos à seleção brasileira.
“As pessoas estão conseguindo olhar pro nosso time de vôlei, do Brasil, com olhar diferente. Para que elas torçam de alguma forma, que seja por mim e tal. Sinto que eu estou representando todo mundo. O vôlei é um esporte coletivo e se você quiser torcer pelo Douglas, você precisa torcer pela seleção em si, pelo time todo, para todo mundo jogar bem. Acho que o vôlei é o esporte mais coletivo do mundo”, disse ele.
O ponteiro também exaltou a questão da representatividade. Douglas vê a fama repentina como uma oportunidade de se posicionar no ambiente esportivo, onde ainda existem preconceito e imposição do padrão heteronormativo.
“Não conheço alguém que brinque com isso, que mostre o seu verdadeiro lado para todo mundo, sem medo algum de qualquer tipo de repreensão ou de ser injustiçado. E eu espero inclusive que apareçam muitos outros, porque a gente precisa levantar essa bandeira em prol da igualdade e do respeito”, afirmou o jogador.
Quem é o Jorges?
O sucesso de Douglas se espalhou e chegou em Maurício Borges, o famoso “Jorges”, companheiro de quarto do atleta durante as Olimpíadas. Também ponteiro, ele é o principal alvo das brincadeiras do amigo e acabou ganhando fãs por tabela.
Borges e Douglas completam uma dupla equilibrada, assim como os ratos do desenho animado Pink e Cérebro. “Jorges” é tímido e reservado, mas curte entrar nas piadas do ponteiro.
E de onde vem o apelido? Alguns acreditam que Douglas trocou o B pelo J, mas a verdade é que o ponteiro só chama Maurício dessa maneira “porque acha mais legal”, como ele contou ao UOL.
A sintonia é antiga. A amizade dos dois começou em 2015. Eles foram colegas de quarto na Rio-2016 e a parceria também acontece em competições pelo Brasil e mundo: eles jogaram juntos na última temporada pelo Taubaté e acabaram de ser contratados pelo mesmo clube italiano.
Então, para quem virou fã da dupla, pode esperar mais vídeos após as Olimpíadas de Tóquio.
Você sabe que vigorou quando até a organização das Olimpíadas tem um presente para quando você entrar em quadra. Douglas ganhou ontem. Quando ele entrou em quadra contra a Rússia, o sistema de som do ginásio já preparou uma música da cantora Pabllo Vittar para recebê-lo: “Zap Zum Zum Zum, no cometa eu vou, nem que seja de carona pra te dar amor”.
Foi um gesto de amor das Olimpíadas criado pelo holandês DJ Stari, um dos responsáveis pelas músicas das arenas no Japão. Ele não estava presente no jogo brasileiro, mas foi quem avisou os japoneses o que tocar. “Eu avisei que essa era a música para o Douglas”, disse à reportagem.
Douglas, claro, aprovou. Durante um dos tempos do técnico Renan dal Zotto, chegou a se empolgar, e levou uma bronca do técnico. Não foi a primeira vez. Toda a atenção que Douglas recebeu fez o técnico pedir para ele “aliviar” nas postagens. Quem acompanha seus stories deve achar que não funcionou muito…
Em quadra, ao menos, ele não parece afetado. Ele é reserva de Lucarelli e Leal, mas tem sido bastante usado por Renan: “Tenho 100% de confiança no Douglas, que ele pode entrar a qualquer momento.”
Fonte: POLÊMICA PARAÍBA
Créditos: UOL