O que era inimaginável há pouco mais de dois meses se concretizou nesta segunda-feira (16). Depois de uma despedida emocionante e apoteótica em Interlagos, com direito a ser ovacionado pelo mundo da F1, Felipe Massa está de volta ao grid. O brasileiro tinha seu futuro traçado. Ao menos nos primeiros meses, sua ideia era descansar e curtir com a família antes de voltar a competir. Seu destino era a F-E, muito provavelmente na Jaguar. Mas a surpreendente aposentadoria de Nico Rosberg, apenas cinco dias depois de conquistar o título mundial em Abu Dhabi, pegou todo mundo de surpresa. A Mercedes escondeu o jogo, mas trabalhou nos bastidores para contratar o preferido de Toto Wolff, Valtteri Bottas.
Em princípio, a Williams relutou muito. Afinal, quem poderia substituir o finlandês, ainda mais em um ano extremamente complicado, com grande mudança no regulamento técnico, e tendo um piloto novato, Lance Stroll de apenas 18 anos, cuja experiência na F1 se resume apenas a testes privados bancados pelo milionário pai? Felipe Nasr logo foi descartado, assim como Pascal Wehrlein. Jenson Button, que não quer mais saber da F1 depois da aposentadoria, também teve seu nome riscado. Sem um nome de grande experiência, a Williams teve de apelar a um recurso improvável: tirar Massa da aposentadoria.
Massa sempre se mostrou muito grato e, sobretudo, muito feliz na Williams. Desde quando foi contratado pelo time britânico, em 2014, o paulista teve pela frente uma nova era na sua carreira depois de correr nada menos que oito temporadas pela Ferrari (entre 2006 e 2013), uma equipe que lhe permitiu vencer corridas e lutar pelo título. Mas, ao menos tempo, o período em Maranello foi marcado por muita pressão e um clima político sempre muito tenso.
Em Grove, Massa se reencontrou. É bem verdade que não foi necessariamente um reencontro com as vitórias, em que pese a pole-position na Áustria em 2014. Mas o brasileiro se colocou como um fundamental pilar em uma época de reconstrução do time, que voltou a estar na elite da F1 depois de anos de limbo no fim da década passada e o começo dos anos 2010. Felipe ganhou ainda mais respeito, admiração e muito amor da equipe britânica, e retribuiu da mesma forma, com amor, respeito e gratidão.
Foi muito por conta de todos esses elementos, além, é claro, dos € 6 milhões oferecidos pela equipe neste contrato, que Massa voltou atrás na sua ideia de se aposentar da F1 e decidiu encarar mais uma temporada pela Williams. O retorno de Felipe ao grid, de quebra, também garante a permanência do Brasil pelo menos por mais uma temporada na categoria. O país estava ameaçado de não ter nenhum piloto no Mundial pela primeira vez desde 1969, já que Felipe Nasr não tem chances de garantir uma vaga no grid em 2017.
Mas o que esperar de Massa nesta temporada que se avizinha? Como nas últimas temporadas, Felipe sempre se mostrou competitivo, aguerrido, batalhador e muito focado. Mesmo tendo um companheiro de equipe que foi nitidamente mais rápido ao longo das últimas temporadas, Massa sempre se manteve perto e, em algumas oportunidades, até à frente de Bottas.
Felipe, que teve ninguém menos que Michael Schumacher como sua grande referência no começo da carreira na Ferrari, vai ser uma espécie de mentor de Lance Stroll no início da sua jornada na F1, algo que, segundo se ventila na Europa, era um grande desejo do pai do piloto canadense, o bilionário do mundo da moda, Lawrence Stroll. Em termos de experiência, Lance não poderia ter um professor melhor neste momento tão importante como é o início de uma trajetória num mundo tão difícil e às vezes até maquiavélico como é o da F1.
Contudo, em termos de desempenho, de resultados, qualquer previsão neste momento é equivocada. Porque ninguém, absolutamente ninguém sabe como vai ser a performance dos novos carros, adaptados ao novo regulamento técnico. A F1 sempre viu, durante mudanças de regulamento, uma certa alteração na ordem de forças.
Vale lembrar de como foi em 2009, quando a Brawn surpreendeu o mundo do esporte, desenvolveu o difusor duplo, deu o pulo do gato e foi campeã do mundo quando ninguém esperava nada dela. Nos anos seguintes, a Red Bull tomou o posto de protagonista do Mundial.
O exemplo mais recente de mudança na ordem de forças da F1 está em 2014, quando entrou em vigor um novo regulamento de motores, a nova ‘Era Turbo’. A Mercedes, que já tinha um grande motor, fez um grande trabalho e desde então domina a F1. A Williams, que se tornou parceira da Mercedes em meio ao seu processo de reconstrução, deixou para trás os anos difíceis e voltou a lutar nas primeiras posições.
A Williams conta com alguns trunfos neste retorno de Massa à F1. O primeiro deles é a chegada do competente Paddy Lowe, que vai preencher a vaga deixada por Pat Symonds e também deve ocupar a chefia da equipe. Segundo reportagem da revista alemã ‘Auto Motor und Sport’, tudo está sendo preparado para a vinda de James Key, ótimo diretor-técnico da Toro Rosso, a partir de 2018.
De qualquer forma, é difícil saber o que esperar da Williams e de qualquer outra equipe do grid antes que comecem os testes de pré-temporada. Vai ser preciso esperar alguns meses para ver se Massa vai continuar na F1 além de 2017 ou se este ano será o da sua aposentadoria ‘pra valer’ da categoria. Porque, caso a equipe britânica construa um carro vencedor, obviamente que Felipe continuaria até 2018 ou além.
Seja como for, o brasileiro ainda vai fazer 36 anos e, como se viu nas últimas temporadas, ainda tem lenha para queimar. Que 2017 Massa tenha condições de fazer um bom trabalho e dar sequência à carreira linda, decente e, por que não dizer, vitoriosa em sua passagem pela F1.
Fonte: MSN