Condenado em segunda instância na última quinta-feira (10), em Milão, por violência sexual em grupo contra uma jovem albanesa, o atacante Robinho teve exposta mais uma de suas conversas gravadas — com autorização judicial — durante a investigação. Em transcrição de áudios anexada à defesa do jogador e obtida pelo site UOL, Robinho usa termos depreciativos e ri ao descrever alguns dos acontecimentos daquela noite em 2013. Segundo duas especialistas, as falas e o comportamento do jogador nas conversas têm origem no machismo e na banalização da violência contra a mulher presentes na sociedade brasileira.
“Se os caras mandarem eu ir lá depor vai ser foda, vou falar o que pra minha nega? (…) Vou lá depor pra quê? Oito cara rangaram a mina (…). Ó que fase que eu tô”, diz Robinho em um dos trechos dos áudios.
A socióloga do esporte e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Leda Costa avalia as falas do jogador como uma naturalização do ocorrido. Segundo ela, o machismo impregnado não só no futebol, como na sociedade, se reflete nas falas:
— São de uma falta de empatia, consideração com o ser humano, com uma vítima de um ato absolutamente violento. São comentários de quem naturaliza esse tipo de ato, toma como natural. Não se preocupa com a vítima, em grande medida porque entende essa vítima como um objeto, que faz parte da sociabilidade masculina ter esse tipo de atitude. São declarações lamentáveis que mostram um machismo enraizadíssimo, com todas as suas faces nefastas explicitadas — avalia.
Banalização
Segundo Leda Costa, um fato que pode explicar a naturalidade com a qual a conversa acontece seria a então impunidade do jogador, na época:
— Essas declarações, feitas como quem conversa sobre o que tomou no café da manhã, também podem estar anexadas ao fato de que ele nunca deixou de jogar futebol por causa disso. Só na Itália, mas depois foi jogar em outro país e jogaria no Santos. O fato dele ser famoso, jogador de futebol.
Para a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), pesquisadora e ativista Silvana Goellner, o problema acontece em escala:
— Tem uma relação muito forte com duas questões: uma é a hipervalorização da masculinidade viril no esporte, que pode incidir sobre as mulheres, e outra é a naturalização na sociedade brasileira do que seja violência contra a mulher, que vai desde uma piada, uma brincadeira, uma passada de mão, uma agressão, até o estupro e o feminicídio.
Relembre o caso
A conversa de Robinho com o amigo teria acontecido cerca de um ano após o crime, e foi anexada ao processo pela defesa do jogador. As transcrições foram realizadas por um profissional contratado pelos advogados do brasileiro, que alegaram erros de tradução da língua portuguesa para a italiana nas falas interceptadas como uma tentativa de reverter a condenação.
Em outros trechos da conversa o brasileiro demonstra preocupação com uma possível gravidez da jovem, bem como com o vazamento do caso à imprensa.
“Então, e agora mano? Vai entender se a menina teve filho. Ninguém sabe se ela teve, se ela não teve, a polícia não vai falar”.
Mais à frente nas transcrições, Robinho se mostra incomodado pela hipótese do caso chegar aos veículos de notícias.
“Eu tô com medo se os caras me chamarem para depor, eu não sei, tomara a Deus que, o meu medo é esse, o meu medo é sair na imprensa, ‘Amigos de Robinho estupraram menina lá na Europa’, meu medo é esse”.
Em nota enviada à imprensa na última quinta-feira, a defesa do jogador afirmou que vai recorrer da decisão na Suprema Corte de Cassação.
Fonte: O Globo
Créditos: O Globo