O medalhista olímpico Diego Hypólito voltou a falar nesta segunda-feira sobre o escândalo de abuso sexual na ginástica artística. O atleta de 31 anos disse que finalmente tem uma sensação de alívio por ter tido coragem de expor os traumas da infância.
“Precisei de ajuda para começar a responder as coisas que aconteciam comigo. Agora tenho uma sensação de alívio que não consigo explicar. O mais importante não é o que aconteceu, porque isso já faz parte do passado. A gente tem que alertar os pais para terem mais acesso aos filhos e se preocupar para que isso não aconteça mais”, disse em entrevista ao programa Encontro com Fátima Bernardes, da Globo.
Hypólito afirmou que nunca teve coragem de falar aos seus pais sobre o abuso sofrido durante as competições e treinamentos na ginástica artística. “Eles eram de origem muito humilde. Por minha causa se mudaram para o Rio de Janeiro. Não sabia como falar sobre isso com eles. Não é algo que tenho orgulho. Não é fácil de lidar. É muito difícil de expor”, prosseguiu.
Os abusos, ele contou, aconteceram entre os 9 e 12 anos. Na época, os atletas mais velhos e os técnicos forçavam os ginastas mais jovens a “pagar castigos”, como pegar uma pilha com o ânus. Também obrigavam os calouros a ficar dentro de equipamentos de ginástica de madeira, que servem para os atletas treinarem saltos, em um ambiente escuro e asfixiante.
“Isso me abala até hoje. Comecei a fazer tratamento porque chegou um momento que não conseguia nem mais entrar em shopping. Também não tinha coragem de entrar em programa de auditório porque não tinha janela. Tinha pânico de ficar sufocado”, afirmou.
A coragem para falar sobre o assunto só veio depois que uma denúncia contra Fernando de Carvalho Lopes, ex-técnico da seleção brasileira masculina de ginástica artística, se tornaram públicas. Lopes é acusado de assediar mais de 40 ginastas ao longo de sua carreira.
Medalhista de prata na Olimpíada do Rio-2016 e bicampeão mundial no solo, Hypólito prestou depoimento na última sexta-feira na Delegacia da Mulher, da Criança e do Adolescente (DDM) de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, sobre o caso. Lopes foi seu técnico na seleção brasileira entre 2014 e 2016.
Fonte: Estadão
Créditos: Estadão