O comentarista da rádio Energia 97 FM, Fabio Benedetti, foi demitido. A ofensa racista que fez o atacante Marinho chorar não passou em vão.
Seus próprios companheiros de programa Estádio 97 não toleraram o infeliz ataque ao jogador, na transmissão da derrota do Santos para a Ponte Preta, na quinta-feira passada.
Depois da expulsão de Marinho do jogo, ele foi perguntado o que diria ao atleta, se estivesse no mesmo grupo de whatsapp.
“Eu vou falar assim:
“Você é burro, você está na senzala, você vai sair do grupo uma semana para pensar sobre o que você fez.'”
Mandar o jogador negro “à senzala” foi algo intolerável.
Benedetti remeteu a situação à escravidão.
Vale repetir o que eram as senzalas.
Enormes alojamentos, onde os escravos viviam, entre os séculos XVI e XIX, sem a menor condição de higiene, com péssima alimentação. Verdadeiras prisões, com grades, assim que entravam, eram trancados. Dormiam em cima de palha ou no chão. Muitas vezes acorrentados.
Eram trancados e só tinham permissão para sair para trabalhar, rezar ou apanhar.
As senzalas costumavam ter em frente à porta principal, um grande tronco com uma corda, que os senhores usavam para chicotear ou até enforcar os escravos. Eram os pelourinhos.
A rádio Energia 97 era especializada em música. Até que, em fevereiro de 1999, começou a levar ao ar às 18 horas, o ‘Estádio 97″.
Uma mesa redonda de futebol, com debatedores assumidamente torcedores.
Foi onde surgiu o economista Benjamin Back, que era patrocinador do programa, e assumiu seu espaço como corintiano.
O programa se consolidou, a ponto de a emissora passar a transmitir jogos. Sempre mostrando descontração, brincadeiras no ar.
Fábio Benedetti é um chef de cozinha que foi participar de um quadro no programa e acabou se integrando ao Estádio 97.
Torcedor assumido do Santos.
Benedetti ficou sem ambiente com companheiros na rádio. Seria boicotado no Santos
Reprodução Instagram
Sua ofensa a Marinho repercutiu imediatamente na quinta-feira.
Milhares de mensagens nas redes sociais.
Telefonemas para a rádio pedindo a saída do radialista.
E, na sexta, o jogador deu sua resposta.
Mostrou a própria filha Alicia.
Extremamente ofendido, chorou nas redes sociais.
Mas mostrou o quanto tem orgulho de ser negro.
“É de sentir na pele. Toda vez eu defendo a bandeira. Quando se passa na pele, se sofre. Estou com a roupa do clube, fui dormir sete da manhã, acordei às 9h. Todos os funcionários sabem do tratamento em dois períodos para ter jogado. E numa atitude infantil, prejudiquei o Santos e pedi perdão pela expulsão.
“Quando acontece com a gente, a gente sente mais. E eu brigo toda hora. Por isso brigo pela causa, porque quando passamos na pele é horrível. E não podemos deixar isso passar. Eu sei quem eu sou, sei o valor que tenho. E aí, eu fico pensando, porque antigamente eu não tinha voz ativa, aí passavam despercebidas todas essas coisas. E a justiça não pune esses caras preconceituosos, vermes. Mas Deus perdoa, cara. Fica em paz”, e chorou muito.
Ainda colocaria outra mensagem no Instagram.
“O momento não é dos melhores! Essa foto mostra e minha filha Alicia negra como EU, cabelo black ou trança, nada esconde quem somos, ser humano igual a qualquer outro, e ontem um rapaz aí após minha expulsão, acabou falando pra eu voltar pra senzala!
“Mandar amigos me chamar não prova pra mim que você é diferente, eu te perdoo e perdoei por mensagem no insta , porém o tom de deboche ao falar que eu tinha que ir pra senzala não pegou bem, tenho orgulho da minha cor, orgulho de onde vim, você é pai e ensine teus filhos a ser diferente de você em pensamento!
“Quero que você se retrate e que isso não se repita nunca mais, nem comigo nem com ninguém! Eu luto pela causa!
“Contra preconceito e qualquer outro tipo de descriminação seja ela racial ou não!
Quer me julgar por atitude em campo?ok!
“Errei e estou aqui pra assumir, esse é apenas um desabafo de alguém que passou a noite toda chorando por um erro!
“Mas não significa que até minha Cor venha ser colocada em assunto! Sou preto e orgulhoso de quem sou! Ensinando minha filha como se deve andar e mostrar que é orgulho e não vergonha ser PRETO.”
Marinho e a filha Alicia. O orgulho de serem negros. Resposta certeira
Reprodução Instagram @marinhoofficial
Benedetti tentou se defender, pediu desculpas ao jogador nas redes sociais.
Mas sua ofensa foi pesada demais.
Logo na sexta-feira, ele foi afastado da rádio.
Hilton Malta, o Sombra, filho do dono da estação, foi claro com ele. Sua frase racista atingiu em cheio não só Marinho como a rádio e o programa Estádio 97.
Ficou claro que não teria mais acesso ao microfone da emissora.
Seus companheiros ficaram chocados e extremamente desconfortáveis com a atitude.
Benedetti não tinha mais ambiente para seguir.
Foi demitido oficialmente, como o blog antecipou, ontem.
O Santos Futebol Clube também estuda uma punição a Benedetti.
Não permitir sua entrada para trabalhar na Vila Belmiro.
Os jogadores não aceitariam mais falar com a rádio Energia se ele continuasse.
Mas seguem firme apoiando Marinho.
Se Benedetti for para outra rádio, não darão entrevistas a ele.
Marinho é um dos jogadores mais queridos no Santos. Time ficou revoltado
O boicote do Santos faria o assunto perdurar.
Poderia se espalhar contra a rádio.
E Benedetti foi sumariamente demitido.
Atitudes racistas não serão toleradas.
O mundo, felizmente, mudou…
Fonte: R7
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