frustração

Caixa baixo, apostas improváveis e distanciamento: Fla inofensivo no mercado

Falta dinheiro, falta poder de convencimento nas negociações, faltam reforços. O Flamengo, tão badalado em 2017 pelas contratações astronômicas, decepciona até agora no mercado. Marlos Moreno foi o único tiro certeiro – e o menos empolgante – de uma lista repleta de negativas.

Em uma semana, o Rubro-Negro recebeu “nãos” dos mais diversos idiomas: francês, turco e alemão. Pablo, Walace e Vagner Love até tinham conversas adiantadas com o clube, mas faltou combinar com Bordeaux, Hamburgo e Alanyaspor. Faltando um mês para a estreia na Libertadores, o Fla segue com cara de 2017.
O cenário, até mesmo para discurso interno, não é de preocupação. No departamento de futebol, a avaliação é de que não há necessidade de despender força em peças do mercado nacional que cheguem para compor elenco. O fato é que todos os tiros grandes saíram pela culatra, e o Fla se vê em busca de um Norte. Não há planos B imediatos após negativas que seguiram roteiro parecido:

Pablo: antes mesmo do fim da novela com o Corinthians, o zagueiro chamava a atenção do Flamengo, que viu uma brecha para fortalecer um setor carente de uma peça mais jovem. Juan, Rever e Rhodolfo já passaram da casa dos 30.

Após conversas iniciais, o clube contou com o advogado Fernando César para tratar da liberação com o Bordeaux. Os franceses já tinha sinalizado ao Timão a exigência da compra por cerca de R$ 12 milhões. O Rubro-Negro fez proposta pelos direitos, mas que nem chegou perto do valor desejado.

A situação ficou em banho Maria, nenhum dirigente pegou um avião para tratar a situação pessoalmente, até que o próprio Fernando César perdeu a paciência com a passividade do clube – conforme revelou a pessoas próximas. O desfecho: Pablo renovou com o Bordeaux por mais dois anos.

Walace: a situação foi bem parecida com a de Pablo, mas ainda mais arrastada. O Flamengo, mais uma vez, nomeou representante do próprio jogador para tratar da liberação. Não houve negociação direta entre clubes.

Rogério Braun ficou cerca de um mês tentando convencer o Hamburgo de que um empréstimo seria válido para carreira do volante. O Rubro-Negro chegou a oferecer 1 milhão de euros pelo empréstimo.

Nada que empolgasse os alemães. Por fim, foram eles que demonstraram maior poder de persuasão e convenceram o campeão olímpico de que seguir na Bundesliga valia a pena. Com a troca de treinador, o Fla ficou a ver navios.

Vagner Love: menos extensa que as outras duas, mas com script similar. Em reunião na casa de uma das lideranças da diretoria, na Zona Sul, na noite de uma terça-feira, foi selado o acordo entre jogador e clube.

Dois dias depois, lá foram Love e seu representante para Turquia com a “simples” missão de liberá-lo por um empréstimo gratuito. Mais uma vez, não houve contato direto de clube para clube. O advogado Diogo Souza foi o encarregado da vez.

Diante da postura irredutível dos turcos, o Flamengo acenou com a possiblidade de pagar pela cessão por uma temporada, até que surgiu a proposta de 2 milhões de euros do Besiktas. O clube avaliou como fora dos padrões e tirou o corpo fora.

Houve ainda negociação com Zeca, também nos moldes acima, mas travada pelo departamento jurídico. Com o lateral em litígio com o Santos, o clube não assumiu o risco de se tornar devedor solidário.

A postura que não deu certo nos casos acima, funcionou com Marlos Moreno. A diferença é que o colombiano era carta fora do baralho no já modesto Girona da Espanha e o Manchester City achou interessante um retorno à América do Sul.
A estratégia chama a atenção, e também dá mostras de que não é a ideal. Internamente, o Flamengo aponta, porém, como a única cabível diante das carências identificadas no elenco e do orçamento reduzidos. Equação explicada em tópicos:

O Flamengo tem previsto apenas 2.5 milhões de euros para investimento em aquisição de jogadores em 2018. Valor visto como inviável para compra de jogadores que cheguem em condição de ser titular.

É consenso na diretoria de que não há necessidade de fazer apostas. A avaliação é de que o elenco atual tem qualidade suficiente para as competições ao longo da temporada, não há urgência por reforços e é preciso dar mais chances aos jovens.

O departamento de futebol aponta apenas duas necessidades para fortalecer o elenco: um zagueiro jovem e o centroavante. Ainda assim, o clima internamente é de otimismo na solução da situação de Guerrero antes de maio.
As negativas por Walace e Zeca não assustam, já que eram apontadas como “oportunidades de mercado” e não carências.

A liberação de jogadores contestados pela torcida e com rendimento abaixo da expectativa (Muralha, Gabriel, Mancuello e Márcio Araújo) é apontada como ação estratégia justamente para abrir espaços para garotada e dar fôlego à folha salarial.

Tudo isso evidencia ainda uma tendência nos últimos anos na gestão Eduardo Bandeira de Mello: os principais reforços foram contratados no decorrer da temporada. Foi assim com Diego, Everton Ribeiro, Geuvânio, Diego Alves e Guerrero.

Mesmo diante de tais justificativas, soa como inegável a falha de mapeamento de mercado. Por mais que o desejo seja apenas de contratações que cheguem para vestir camisa, o Flamengo parece carente de opções diante de negativas até certo ponto previstas. Com caixa reduzido para compra, caberia ao tão badalado centro de inteligência apontar soluções mais viáveis e menos óbvias do que Vagner Love, por exemplo.

Faltando um mês para estrear na competição mais importante do ano, o Flamengo perdeu tempo e guardou dinheiro. Resta saber até quando.

Fonte: Globo Esporte
Créditos: Globo Esporte