O Comitê Olímpico Internacional (COI) reuniu 203 países nas Olimpíadas de Tóquio, o maior número da história. A entidade distribuiu ao menos uma medalha para 93 nações, outro recorde. O Brasil conquistou seu melhor desempenho até hoje, a 12ª posição no quadro geral de medalhas, com 21: sete ouros, seis pratas e oito bronzes. O resultado foi bem melhor que o de países mais ricos, como Noruega, Espanha e Nova Zelândia. Melhor também, que o de países com economia parecida com a nossa, como México e Turquia.
Mas será que a colocação dos países no ranking do COI reflete o seu padrão econômico, social, populacional, entre outros?
Com dados do Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional (FMI), plataforma Word in Data e da Organização das Nações Unidas (ONU). Mas os números não explicam tudo.
Ricos e pobres no quadro de medalhas
A posição do Brasil no ranking de medalhas foi exatamente a mesma ocupada em outro ranking, o das maiores economias do globo em 2020, após atingir o PIB de US$ 1,4 trilhão.
A força econômica se repetiu no desempenho olímpico dos Estados Unidos (PIB de US$ 20,9 trilhões) e da China (US$ 14,7 trilhões), os primeiros colocados no ranking das economias e das Olimpíadas de Tóquio 2020. Os americanos lideraram no quadro geral de medalhas (113), seguidos pelos chineses (88).
Já a Índia, que é a sexta maior economia (com PIB de US$ 2,7 trilhões), deixou Tóquio na 48ª colocação em medalhas, com um ouro, duas pratas e quatro bronzes. Os indianos ficaram atrás da Venezuela (46ª posição com um ouro e três pratas), cujo PIB de R$ 48 bilhões no ano passado foi 80% menor em relação ao de 2013.
O Banco Mundial não listou a Venezuela no ranking das maiores economias mundiais, mas o FMI estimou o PIB em US$ 48 bilhões em 2020. Em 2013, a Venezuela era a 30ª economia global e teria caído para 100ª, segundo o FMI.
Renda per capita
O Brasil superou a Nova Zelândia em número de medalhas —o país ficou em 13° nas Olimpíadas de Tóquio 2020. Também supera, de longe, em número de habitantes. O país da Oceania tem pouco menos de 4,2 milhões de habitantes, o que dá menos de 2% dos 210 milhões de brasileiros.
A densidade populacional é importante para medir a renda per capita, a divisão do PIB por habitante. Os neozelandeses tiveram US$ 44,25 mil como renda per capita no ano passado, a 30ª maior do mundo. O Brasil ficou na 100ª colocação entre 224 países na hora de dividir o bolo gerado pela economia por cada habitante: US$ 14,86 mil por pessoa.
Os primeiros colocados no ranking de medalhas, Estados Unidos e China, estão distantes entre si em renda per capita (US$ 63,5 mil e US$ 17,3 mil, respectivamente).
Renda elevada, portanto, não é sinônimo de medalha olímpica. Luxemburgo, pequeno país europeu com 614 mil habitantes, liderou globalmente em renda per capita com US$ 118,3 mil em 2020. Os luxemburgueses, contudo, não ganharam nenhuma medalha em Tóquio.
IDH é selo de desenvolvimento do país
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) medido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) é o principal ‘selo’ de classificação dos países como desenvolvidos e subdesenvolvidos.
O Brasil tem o 84º IDH entre 189 países. Superamos a China (85ª), embora o gigante asiático some quase 1,4 bilhão de habitantes e gere dez vezes mais riqueza.
A posição dos países mostra como eles estão alinhados na dificuldade de distribuir melhor a renda, melhorar o acesso à educação e a qualidade na oferta de saúde (critérios usados pelo IDH). Embora o PIB da China seja dez vezes maior que o brasileiro, o país asiático tem dificuldade para subir no ranking do IDH e uma das razões é a população imensa.
Estamos muito distantes dos EUA (17º melhor IDH e o primeiro no quadro de medalhas), por sua vez várias posições atrás da Suíça (2° melhor IDH), que saiu do Japão como 24ª em medalhas (três ouros, quatro pratas e seis bronzes).
A Jamaica é uma ilha centro-americana com cerca de três milhões de habitantes, e registrou PIB de US$ 13,8 bilhões em 2020, o que lhe garantiu uma renda per capita de US$ 9,2 mil (a 139ª do ranking mundial).
O país é o 101º entre os 189 países com IDH medido pelo Pnud. Os jamaicanos, porém, ganharam nove medalhas no Japão (quatro ouros, uma prata e quatro bronzes) e terminaram a competição na 21ª colocação no quadro geral.
Como se saíram outros países da América Latina?
O México é a 15ª maior economia global (US$ 1,08 trilhão em 2020), 74º em IDH, 78º em PIB per capita (US$ 18,8 mil) e soma 129 milhões de habitantes. Os mexicanos deixaram Japão na 84ª posição entre os medalhistas, com apenas 4 bronzes. Foi o pior resultado entre os latino-americanos.
A Argentina foi a 72ª colocada no quadro de medalhas, segunda pior colocação entre os latinos. Os vizinhos sul-americanos têm o 46º IDH global, apesar de ocupar a 70ª colocação em renda per capita (US$ 20,767 mil), além do PIB de US$ 383,6 bilhões no ano passado.
Que fatores explicam medalhas?
A cultura e políticas nacionais de incentivos ajudam a explicar o desempenho nas Olimpíadas, além do esforço individual dos atletas.
O Quênia é um dos países mais pobres do mundo. Ocupa a 143ª posição no ranking do IDH e a 172ª colocação na divisão de renda per capita (US$ 4.450), resultante do PIB de US$ 98,8 bilhões e seus 52,5 milhões de habitantes.
Esses números, porém, não explicam um traço cultural dos quenianos: a corrida de rua é a principal atividade esportiva nacional. Foi em decorrência dessa característica que os quenianos conquistaram dez medalhas no Japão (quatro ouros, quatro pratas e dois bronzes).
O Quênia ficou em 19º no quadro de medalhas, superando países desenvolvidos do norte europeu, como Noruega (20º) e Dinamarca (25º).
As políticas dos países para formação de atletas também têm peso relevante. O Brasil, por exemplo, colheu neste ano parte do investimento feito para formar esportistas visando os Olimpíadas do Rio 2016. O país se igualou à Inglaterra de 2012 como segunda nação a superar seu próprio recorde de medalhas após sediar as Olimpíadas.
As medalhas foram conquistadas apesar do enfraquecimento da Bolsa Atleta. O governo decidiu reduzir o orçamento para as bolsas de R$ 140 milhões (2020) para R$ 97,6 milhões (2021).
O programa federal de incentivo financiou cerca de 80% dos esportistas que foram a Tóquio. Mas a maioria sequer recebeu um salário-mínimo e alguns precisaram fazer vaquinhas virtuais para ir ao Japão.
Embora o pagamento máximo do Bolsa Atleta possa chegar a R$ 15 mil por mês para os atletas de elite, os atletas em formação que precisam de mais apoio para chegar ao topo um dia passam por dificuldades e recebem a partir de R$ 370.
Fonte: UOL
Créditos: UOL