A “dispareunia” pode fazer o ato de ir para a cama com um parceiro ou parceira ser completamente assustador.
Excitação completa, prazer intenso, bem-estar, orgasmos. No geral, são sensações como estas que se imagina quando o assunto é uma relação sexual consentida, entre dois parceiros felizes e à vontade por estarem juntos na cama. Acontece que, para muita gente – um número de pessoas, aliás, bem maior do que se imagina -, o sexo, infelizmente, às vezes tem mais a ver com dor do que satisfação. Tanto para algumas mulheres quanto também para alguns homens, a simples ideia de transar pode dar calafrios e se transformar em um pesadelo.
Doenças físicas e fatores psicológicos são os principais responsáveis pela dispareunia, nome técnico e genérico dado às dores que aparecem não só durante o ato sexual, mas também depois. Na maioria das vezes, os pacientes demoram a buscar ajuda médica por vergonha – afinal, a pressão da sociedade por uma vida sexual “normal” é tão forte que se expor e pedir ajuda acaba sendo visto como sinal de fraqueza e inadequação.
Justamente por isso, é importante dar aqui um panorama geral. Ao todo, uma a cada cinco mulheres no mundo sofre com dores durante e após as relações sexuais.Além disso, até 4% da população masculina também enfrenta problemas, especialmente na hora de gozar.
Esta percepção de que não estão sozinhos já pode servir como um estímulo para que os pacientes busquem tratamento. Isso sem falar na boa notícia de que, na maioria dos casos, a dor no sexo tem tratamento. A depender da causa, uma simples terapia com medicamentos específicos para cada situação já dá conta do problema. Em casos mais delicados, cirurgias pouco invasivas costumam ser eficazes e oferecem rápida recuperação aos pacientes.
“Muitas mulheres consideram que a dor sexual faz parte do processo, e acabam não procurando ajuda médica. Isso interfere na sexualidade, pois a mulher entra em um círculo vicioso: com medo de sentir dor, tem mais contrações musculares e acaba sentindo mais dor ainda”, resume o ginecologista Rodrigo Rosa Filho, especialista em reprodução humana.
Para ele, é fundamental que as mulheres não se conformem com o incômodo, e conversem com seu ginecologista a fim de traçar um diagnóstico correto. Rosa Filho diz que, embora apenas 10% das mulheres que entram em um consultório se queixem sobre dores na relação, o número de pacientes que se deparam com o problema certamente é muito maior.
Isso porque, se a mulher não fala que há algo de errado acontecendo, também não cabe ao médico questionar a sexualidade dela. Cai-se, deste modo, em um silêncio que termina por isolar ainda mais a mulher em um mundo particular de dor e dúvidas, o que certamente não é saudável nem ajudará a resolver a situação.
As principais causas da ‘dor no sexo’
No universo feminino, as principais causas de dores no sexo, de acordo com o médico, são doenças orgânicas como as infecções vaginais, a endometriose e miomas. “As infecções provocam dores mais superficiais no início da relação sexual e da penetração. Já a dor da endometriose e dos miomas é mais profunda”, diferencia Rosa Filho.
A endometriose, aliás, é responsável não só por dores muitas vezes insuportáveis durante o sexo, mas também por diversos casos de infertilidade. No mundo, de acordo com dados da ONU (Organização das Nações Unidas), mais de 170 milhões de mulheres sofrem com a doença, e estima-se que uma média de 30% delas encontrará dificuldades para engravidar. A doença se caracteriza pelo crescimento indevido da camada que recobre o útero – o endométrio – em outras partes do corpo, como, por exemplo, os ovários, trompas, bexiga e intestino. Com isso, a paciente enfrenta não só cólicas fortes durante a menstruação, como também um forte desconforto na penetração.
Outras causas físicas comuns de problemas na cama são a baixa lubrificação vaginal, a doença inflamatória pélvica, cistites, cistos, tumores genitais e o vaginismo, doença que faz com que os músculos próximos à vagina se contraiam, dificultando e até mesmo impedindo, nos casos mais graves, a entrada do pênis, dedos ou objetos sexuais. Isso sem falar nas DSTs (doenças sexualmente transmissíveis), como a clamídia, a sífilis e a gonorreia, que também podem desencadear um processo doloroso, colocando tanto a mulher quanto o homem em um estado de rejeição à prática sexual.
E com os homens?
Entre os pacientes do sexo masculino, as DSTs que mais tendem a causar dores na relação são as uretrites, o herpes genital e o cancro mole, conforme explica o médico Matheus Brandão, urologista da Clínica Unix, formado pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). “Além das DSTs, a ejaculação dolorosa também pode ter como causa inflamações no testículo, vesícula seminal, próstata ou uretra, dor pélvica crônica, obstrução ejaculatória e questões psicológicas”, resume.
Além disso, há muitos casos de pacientes que se queixam de dores quando o tecido que recobre o pênis até a glande – popularmente chamado de “freio” – é curto e limita sua exposição. O movimento de tração que acontece durante a penetração ou masturbação força esta parte do membro, gerando incômodo e dificuldades para se alcançar o prazer sexual.
A síndrome de dor pós orgásmica, por sua vez, é um problema que afeta apenas pacientes homens. A doença, ainda ligeiramente obscura até mesmo para a classe médica, vem sendo estudada desde sua descoberta, em 2002. Pacientes que sofrem com a síndrome apresentam sintomas que vão desde o simples cansaço e febre baixa, até mesmo diarreia como consequência de um orgasmo. “É um problema que parece ter relação com a reação imunológica”, avalia Matheus Brandão, que diz que o importante é que o homem relate sempre suas queixas ao urologista.
Mas, e quando a dor acontece depois que o homem passa dias sem gozar, gerando a dúvida sobre a necessidade ou não de ejacular com assiduidade? Será que se trata de um mito ou é mesmo verdade que eles precisam ter orgasmos frequentemente? Fernando Nestor Facio Jr., diretor da Sociedade Brasileira de Urologia de São Paulo, explica que é comum que os pacientes façam essa associação por causa da maior concentração de varizes na região perineal e escrotal. “Após a atividade sexual, temos sensação de melhora desta vasculatura.”
Mesma coisa quando eles relatam alterações físicas no esperma, que pode ficar mais grosso e dar a sensação de dor ao passar pelo canal até ser expelido. “Estas mudanças podem estar relacionadas com o tipo de alimentação e hidratação. Outra característica comum de queixas é a presença de gumos gelatinosos, que representam um esperma mais grosso e que é, na verdade, uma manifestação de proteção da condução dos espermatozoides”, diz Facio Jr., que esclarece que a secreção vai se liquefazendo após o final da atividade sexual, eliminando, desta maneira, o incômodo no geral.
Fonte: HUFFPOST BRASIL
Créditos: Huffpost Brasil