Se a pressão em Alex Muralha era enorme pelos erros em 2017 e provocações sofridas, agora a cobrança é sobre todos os goleiros do Flamengo disponíveis para a Copa do Brasil. Thiago, seu substituto imediato, entrou e falhou. Feio, diga-se de passagem.
Mas teve personalidade de sobra para atender jornalistas no campo e na zona mista do Maracanã e admitir o erro. De semblante fechado e tom de voz baixo, usou palavras curtas e duras consigo mesmo, como “jogando no Flamengo, a gente não pode tomar um gol desse”. Estava abatido, mas deu a cara à tapa. Muralha mostrou maior dificuldade diante dessas situações na atual temporada.
Não que a sinceridade absolva o camisa 30 de um equívoco que custou a vitória rubro-negra. Superior e ofensivo o tempo inteiro, o Rubro-Negro tinha tudo para vencer. Chutou mais (16 a 11) e sobrou na posse de bola: 67 a 37%. Esbarrou num erro, que, segundo Thiago, não pode acontecer com quem “joga no Flamengo”.
O momento é de grande peso nas costas cima de Alex Muralha e Thiago, mas o jovem, quase sete anos mais novo que o colega, mostrou mais jogo de cintura ao se deparar com um erro. Estava triste, mas teve calma até para falar em “buscar o título no Mineirão” e explicar o lance do gol de Arrascaeta.
– Ali me deu dúvida se eu ia entrar de frente na bola ou fazer a queda. Quando fiz a queda, ela ficou curta, e o cara fez no rebote.
Xará tira proveito da cobrança
A insegurança no gol rubro-negro não é novidade para quem acompanha futebol. Sem Diego Alves, contratado após o fim do prazo de inscrições para a Copa do Brasil, Reinaldo Rueda deparou-se com o seguinte dilema: apostaria num goleiro notadamente fragilizado psicologicamente ou num garoto de 21 anos com apenas 19 jogos nas costas?
Thiago Neves e o grupo cruzeirense estavam cientes disso e resolveram arriscar.
– A gente já sabia da pressão que eles vinham sofrendo. Viemos conversando durante a semana para arriscar os chutes e tentar de qualquer de jeito porque, queira ou não, o goleiro não pode falhar. A gente pode errar uma bola ou outra, e o goleiro, não. Foi o que aconteceu com ele hoje. Óbvio que a gente torce para eles melhorem e voltem a jogar o que eles jogavam, mas não contra a gente no próximo jogo (risos).
Muralha calado em desembarques
De Seleção em 2016 e cantado pela torcida do Flamengo como “melhor do Brasil” até o início da temporada, Muralha só admitiu abertamente uma falha neste ano: a em que cobrou tiro de meta no pé direito de Oswaldo, do Sport. O rival ajeitou o corpo e colocou no ângulo. Apesar disso, cometeu outros erros, como por exemplo na Libertadores, contra o Atlético-PR, no gol de Thiago Heleno. No lance em questão, alega ter sofrido falta do ex-flamenguista Eduardo da Silva.
Muralha decidiu evitar os microfones em desembarques. Antes mesmo do erro contra o Sport, já descera no Santos Dummont sem falar com jornalistas após vitória por 2 a 1 sobre o Atlético-GO, jogo em que não atuou bem. Ao ser abordado por repórteres, sorria e seguia caminhando. Repetiu tal atitude na semana seguinte, ao chegar em Curitiba antes do empate por 1 a 1 com o Furacão.
A última recusa de Muralha a pedidos de depoimentos aconteceu após a eliminação para o Paraná, na Primeira Liga. Falhou no gol durante o tempo regulamentar e não pegou pênaltis.
Apoio a Thiago
Um dos principais líderes do grupo, Diego falou em “mensagem clara” após o jogo: o apoio a Thiago é irrestrito e unânime no elenco.
– Transmitimos exatamente o que falei: em relação ao que fez de positivo e que estamos juntos independentemente de qualquer situação. Foi uma mensagem clara que todos jogadores pensam o mesmo em relação a isso.
Paquetá, autor do gol rubro-negro, fez coro ao camisa 35:
– Todos sabem da qualidade do Thiago. Hoje fez grandes defesas. Vamos passar apoio. São coisas do futebol.
Créditos: Globo Esporte