Quatro cidades brasileiras onde surgiram denúncias de pedofilia cometidas por religiosos da Igreja Católica aparecem na “lista da vergonha” do filme Spotlight – Segredos revelados (EUA, 2015). Arapiraca (AL), Franca (SP), Mariana (MG) e Rio de Janeiro são citadas como maus exemplos pelas denúncias de abusos sexuais cometidos contra crianças e adolescentes. Apesar da gravidade e da repercussão mundial dos casos, a maioria dos acusados continua em liberdade — mesmo aqueles denunciados pelo Ministério Público e condenados pela Justiça — em meio a pedido de prisões, condenações e perdão religioso.
Em cartaz nos cinemas de todo o país, Spotlight concorre em seis categorias ao Oscar 2016 e conta a história real de uma equipe do jornal The Boston Globe, responsável por investigar e denunciar, no início dos anos 2000, os abusos cometidos por cerca de 70 padres na cidade americana de Boston. A reportagem, publicada no início de 2002, causou comoção internacional e levou o prêmio Pulitzer 2003, um dos mais importantes do jornalismo mundial. Mais de 200 cidades em todo o mundo são apontadas pelo filme por também terem descoberto vítimas de abusos semelhantes aos de Boston.
Entre as brasileiras, na de Franca, a 350km de São Paulo, foi aplicada a maior condenação. Acusado de abusar de quatro adolescentes em 2010, o padre José Afonso Dé, 82 anos, foi condenado a 60 anos de prisão. Ele nunca pagou pela pena. A defesa recorreu da decisão ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), o que garantiu o direito de aguardar o julgamento em liberdade. O caso corre em segredo de Justiça e não há data para ser apreciado. Padre Dé, como é conhecido, ainda recebe visitas de fiéis e evangeliza casais no interior paulista. O escândalo levou o bispo de Franca, dom Pedro Luiz Stringhini, a pedir perdão às vítimas e aos fiéis em nome da diocese.
Um caso também emblemático de pedofilia cometida por religiosos no Brasil, o de Arapiraca, estarreceu a cidade alagoana de 210 mil habitantes, onde quase toda a população já havia tido um parente ou amigo casado ou batizado pelos religiosos envolvidos no escândalo. Imagens de um vídeo gravado por um ex-coroinha revelam o monsenhor Luiz Marques Barbosa, então com 81 anos, praticando sexo com um adolescente. A denúncia foi feita ainda em 2010.
Além do octogenário, outros dois religiosos, o monsenhor Raimundo, então com 51 anos, e o padre Edílson Duarte, de 43 anos, também foram acusados de abuso por outros garotos. Edílson decidiu revelar todo o esquema em troca da garantia de delação premiada. O caso foi parar na CPI da Pedofilia, do Senado, que, em uma audiência pública na cidade, deu voz de prisão ao monsenhor Luiz. Em 2011, os três foram condenados e chegaram a ficar 15 dias presos, mas conseguiram o direito de recorrer às penas em liberdade. No ano seguinte, acabaram expulsos da Igreja Católica. Monsenhor Raimundo morreu em 2014, vítima de um AVC. Todos eles negavam as acusações.
Confira o trailer do filme aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=I7TYGRwZbE4
Fonte: Correio Braziliense